terça-feira, 28 de março de 2017
Habitar,
Morar, Viver e Perceber
1ª Reflexão a partir da leitura do
livro “A Cidade como negócio”
de Ana Fani Alessandri Carlos, Danilo
Volochko e Isabel Pinto Alvarez
Esperar quem, para quê,
não é assim que funciona com os grandes?
Aqui nesse espaço que ocupamos,
além de morar, posso construir e alugar.
Se a várzea é do rio e ninguém respeita...
Aliás, o que eu faço e penso é bem parecido
com o que fazem e pensam as grandes construtoras.
(Pedreiro e construtor de casas em
área de ocupação)
“O conceito de produção do espaço
parece afastar constantemente a ideia do solo (urbano, sobretudo), com algo
finito, não reprodutível, absoluto, e mesmo a propriedade privada do solo nessa
perspectiva dialetiza-se ao ser entendida como título negociável de um espaço construído
e reconstruído, um espaço – mercadoria que se valoriza de acordo com o processo
socioespacial, sendo ainda (a propriedade privada do solo) o pilar das
desigualdades. (Danilo Volochko – Professor Doutor em Geografia – Geografia Humana
– Universidade de São Paulo)
Habitar, morar, viver num lugar, relacionar-se,
perceber nas bordas da cidade que a moradia passou a ser produzida como negócio
urbano, com incorporadoras que na maioria das vezes desconsideram a política
urbana e acabam contribuindo na reprodução de periferias, com processos de
valorização do espaço, espoliação e segregação socioespacial.
Vivemos um processo de periferização e metropolização
em que a produção de habitação integra uma das modalidades de valorização do
espaço, dentro da dinâmica de produção do urbano. É necessário um estudo sobre
as trajetórias fundiárias dos terrenos almejados para produção de habitação,
entender os processos e as estratégias de agregação urbana e imobiliária que
envolve verticalização, espaço – tempo de construção e também os deslocamentos
das populações pobres.
Os preços dos terrenos no espaço urbano subiram e
muitos lançamentos imobiliários se voltaram às periferias, muitos
empreendimentos localizam-se bem próximos de áreas de ocupação, sendo que uma
delas é a Várzea do Tietê da Zona Leste de SP. Necessitamos então, isso seria
um trabalho de geógrafos e urbanistas, de um estudo no sentido de revelar a
prática socioespacial (re)produzida, a partir da escala do lugar, ou dos
lugares, e nos últimos 10 anos ocorre uma certa constituição de espaços urbanos
que se tornam habitáveis e públicos com sub-habitações que também ganham lastro
entre os mais pobres, pois trata-se de um lugar para estar, permanecer, viver,
alguns enquanto for possível...
Considerando que os espaços urbanos, localizados
em áreas como a Várzea do Tietê, pouco a pouco passaram a ser disputados pelos
mais pobres, tornando cada vez mais distante pelo custo elevado de operações
urbanas quaisquer intervenções do Poder Público, pois este não tem condições de
garantir os investimentos em sociespacialidades, até mesmo em localidades em
que a presença do estado é verificada pela presença de equipamentos públicos de
educação, saúde e assistência, por exemplo, vive-se assim diante de um desafio
que necessita de estudo, ação e mobilização para encontrar alternativas para
essa complexa anomalia socioespacial.
Desde 2008 estamos a assistir uma privatização da
política urbana, com programas como o Minha Casa Minha Vida com participação
intensa de grandes incorporadoras em todas as fases, considerando que, no
déficit habitacional brasileiro 89,6% diz respeito às famílias com renda mensal
de 0 a 3 salários mínimos, observando que para faixa dos mais pobres há uma
contradição, para ela têm sido contratados menos financiamento, além disso a
produção de habitação popular passa a ser tratada como uma mercadoria, e isso
tem implicações que podem ser desfavoráveis.
Uma das implicações é que as habitações populares,
o mercado popular, têm suas plantas simplificadas, para atender grandes escalas,
como também da estrutura geral da obra, do acabamento e das instalações. Isso
provoca uma piora da global da moradia, que apesar da da rapidez que compromete
a qualidade do projeto, em função de um certo “queimar de etapas”.
Dentre outros pontos abordados pelo livro “A
cidade como Negócio, percebe-se claramente que a urbanização e a produção do
espaço urbano são entendidas, na maioria das vezes, como simples resultantes do
desenvolvimento econômico nas cidades. Entender o espaço não apenas como
matéria prima, mas como mercadoria que se valoriza segundo dinâmicas
propriamente urbanas/espaciais e financeiras é necessário para aumentar a compreensão
e contribuir para processos e ações que possam contribuir para a redução das
deisgualdades socioespaciais.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
“Na
educação o território e seus significados importam”
A
escola pública passa por um momento de adequação frente às demandas da
contemporaneidade: as novas configurações familiares, os territórios, as
tecnologias digitais, as adversidades no que diz respeito às desigualdades,
além da necessidade de conexão dos currículos formal e vivido. Isso exige
pensar estratégias de aproximação com a realidade dos territórios, o que eles
têm de identidades e características sócio - econômica - política - ambientais.
Considerando
que há um isolamento da escola, resultado da escassa cobertura de equipamentos
de serviços públicos e privados em territórios de alta vulnerabilidade, o que
implica a sobrecarga do espaço educativo com problemas sociais que não podem
ser satisfatoriamente atendidos no âmbito da escola, constantemente é
necessário empreender ações para o fortalecimento das Redes de Proteção Social
envolvendo os agentes e atores da sociedade civil, comunidades e poder público.
Quando pensamos em uma Educação voltada à redução
das desigualdades socioespaciais, entendemos que é fundamental perceber a
importância do território como elemento articulador das áreas do conhecimento.
O território e seus significados importam e possibilitam desenvolver
estratégias para aliar currículo formal e vivido com foco no(s) território(s).
E com as tecnologias digitais somadas ao olhar de cada educando, vivenciar a
Interface com o processo de ensino-aprendizagem, ampliando o olhar sobre o
território e seus significados.
Considerar
preponderante reconhecer as novas configurações familiares, de gêneros e
étnicas implica trabalhar na escola e nas formações continuadas dos professores
com os eixos da convivência, equidade e justiça social, a valorização dinâmicas
intersetoriais de aprender, ensinar, proteger e intervir, com pressupostos de resiliência
e cooperação, numa arquitetura de Redes de Proteção Social, na qual a função
social de cada agente ou ator ou instituição fortalece e permite também
perceber a viabilidade e os resultados de se pensar e agir juntos, nos
territórios com vulnerabilidades sociais complexas.
No que diz respeito especificamente à formação de
professores, coordenadores e gestores das escolas faz – se necessário subsidiá-los
com experiências e metodologias nos eixos escola – família – território,
subjetividades das juventudes, Rede de Proteção Social, Educomunicação e
Convivência. Isso contribui para a qualificação das equipes das Unidades
Educacionais, e à inserção transversal de práticas e experiências, numa
perspectiva interdisciplinar em que a inserção do território também se dá
transversalmente.
Porém, além da formação, é
necessário criar condições para assegurar que as práticas educativas propostas
e / ou advindas das formações sejam apropriadas pelas escolas de forma
autêntica e autônoma, e que se possa observar a sua efetiva aderência e
aplicabilidade.
Entendemos que refletir sobre as dinâmicas inter-relacionais das
escolas, suas potências e fragilidades e fomentar propostas e práticas que
fortaleçam a convivência escolar integrada ao território, contribui para uma
ambiência favorável para a aprendizagem, coautoria e participação.
Postado por NCC São Miguel no Ar às 06:32 0 comentários
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
Jardim
Lapenna – o desafio da construção de um território de direitos
Desenvolver capacidades argumentativas
dos cidadãos na definição da vontade coletiva
e na elaboração institucional de espaço aberto à participação
Pedro Cunill Grau – Geógrafo chileno
Numa trajetória de quase uma
década, mobilizados e dentro de uma perspectiva de contribuir para com a
redução das desigualdades em um território específico, Jardim Lapenna, localizado
na zona leste de São Paulo, São Miguel Paulista, num espaço que se tornou
público pelas pessoas que passaram a habita-lo desde a década de 60. Lá onde,
dentre outras características ecossistêmicas se dá o encontro de duas
microbacias do Tietê, num terreno urbano sobre uma planície aluvial na qual um rio
corre lento, mas em épocas de cheia se acomoda no espaço que lhe pertence,
avançando sobre um córrego e sobre a presença humana, estamos nós, na lida
cotidiana de aprender, ensinar e intervir.
Vivemos
hoje um tempo de agravamento nesse habitat, o que demanda uma força de
organização de superação, isso requer, antes de tudo, considerar as pessoas sujeitos
capazes de produzir a normatividade do lugar no qual vivem e, para que isso
ocorra é necessário desenvolver estratégias políticas – pedagógicas a gerar uma
dinâmica de participação, capaz de provocar o “estado” a passar a ser uma instância
de organização e de legitimação dos processos políticos. Mas para que essa
dinâmica tenha substância política transformadora é necessário construir
objetivos comuns e integrados para construção de um território de direitos.
Assim, capacitar o território para participar e também controlar socialmente o
seu processo de desenvolvimento, demanda pensar e agir coletivamente para garantir que os habitantes desse bairro façam
parte da construção de um plano, denominado Plano de Bairro, previsto em lei, o
qual também prevê a utilização de metodologias participativas.
Acreditamos que hoje reunimos algumas competências para colaborar com a
construção da capacidade de arregimentar os desejos, os sonhos, as demandas
programáticas advindos dos movimentos e interesses de quem vive nesse bairro,
contando para isso com “aliados” integrantes de uma mandala de instituições e
equipamentos públicos, além, é claro, da força comunitária que para ter
efetividade precisa ter organização e coesão de propósitos, tendo como um
espaço com potencial para colaborar nesse processo o Fórum dos Moradores do
Lapenna.
Num território onde ocorreu um salto populacional de 4 mil para 12 mil
habitantes nos últimos 04 anos os problemas infraestruturais se agravaram, porém
está evidenciada a presença do poder público, com equipamentos de educação
desde CEI, EMEI, Fundamental até ensino médio, um equipamento municipal de
saúde, um de assistência social, além de alguns investimentos em infraestrutura
como de um coletor tronco, estação de trem com acesso ao território dentre
outros investimentos.
Apesar da complexidade de parte considerável de seu terreno urbano
composto por sub-habitações, assentamentos precários (são cerca de 1100
habitações nessas condições), desenha-se, a princípio, uma perspectiva de
alinhamento institucional - comunitário, para relacionar – se com qualidade
argumentativa com os poderes executivo e legislativo, na perspectiva de elaboração
de um plano de desenvolvimento desse território.
Orquestração institucional
comunitária básica
Na música, ao longo de historia, tivemos grandes mudanças. A princípio,
não tínhamos os sustenidos e os bemóis, as teclas pretas do piano. Mais tarde o
cravo foi temperado, ou seja, passamos a
ter 12 semitons. E, se olharmos para o passado, para a harmonia tradicional,
percebemos que ela sempre tem uma dominante, há sempre algo resolvido num tom.
Mas se nos espelharmos no atonalismo, na dodecafonia, um dos últimos movimento
musicais transformadores, veremos que ocorre um “entrelaçamento” dos 12
semitons, não há dominante, e os modos
harmônicos perpassam esses 12 semitons, temos assim uma composição sem um
centro.
Assim, no Jardim Lapenna, temos 12 atores institucionais - comunitários
em processo de arregimentação com potencial contributivo, e a ideia não é ter
um centro, no processo de uma orquestração básica voltada, tanto para pensar e
construir um junto uma gestão territorial integrada, como a construção de um
Plano de Bairro, demandando espaços participativos e educativos para capacitar
e organizar esse território. Gerar ativos também para lidar com as demandas
urbanísticas do dia a dia e para a necessidade de desenhar um pensamento
ecossistêmico voltado às transformações mais complexas, que dizem respeito,
inclusive, às questões urbanísticas infraestruturais é fundamental.
São eles os 12 atores dessa orquestração que chamamos de mandala
dodecafônica: Sociedade Amigos do Jd Lapenna, PSF – UBS, Creche Mutirão, CCA,
Fundação Tide Setubal. E.E Pedro Moreira Mattos, SOS Lapenna, Comerciantes,
Igreja Jesus Mestre, Igreja Evangélica, Mutirão, Grupo de Artistas,
Obreiros
da construção de um Plano de Bairro e os desafios
Sendo um plano de bairro um instrumento previsto no Plano Diretor
Estratégico que teve sua última revisão em 2014 (segue anexo publicação Diário Oficial Município), o qual prevê ser
também ser de responsabilidade do executivo orientar e capacitar os territórios
para o seu desenvolvimento, no Jardim Lapenna como também em qualquer
território periférico enfrenta três grandes desafios: “a) a realização do projeto de tal forma que forneça os insumos
apropriados para que o Plano constitua o percurso certo (desde e para os
moradores) de orientação das intervenções e investimentos no território, b) o
desenvolvimento de uma metodologia inédita para a realização de Planos de
Bairro na São Paulo periférica a partir da participação social, e c) uma
metodologia adequada de participação social. (EQUIPE FGV – Ciro Biderman)
Para contribuir na superação desses desafios
é necessário imprimir um ritmo de capacitação, atuação e participação do
território que perpasse:
a) um alinhamento
político – pedagógico para compreensão de governança territorial;
|
b)
constituir um observatório institucional e comunitário do território;
|
c)
ter olhos (capacidades) para identificação e compreensão das oportunidades
micro e macro – políticas;
|
d)
ter clareza da necessidade de uma gestão urbana local conectada à regional e
à cidade;
|
e)
ter uma atuação de advocacy no território e um quadro de alianças dentro e
fora do território.
|
Isso demanda antes tudo,
conhecer as redes do universo relacional de cada um dos 12 atores
institucionais – locais, interseccionar essas redes, identificar interesses e
responsabilidades de cada um e definir interesses coletivos, afinando propósitos
na construção do Plano de Bairro.
Essa orquestração territorial
colabora para com uma partitura qualificada para dialogar com o executivo e
legislativo, o que traz mais possibilidades de atenção desses poderes, quando
dialogam com comunidades com capacidades argumentativas convincentes e que
demonstram conhecimento e organização.
Jardim lapenna hoje. Desafios e
oportunidades
Há desafios a serem superados como também oportunidades na cidade para
avançar num processo de um planejamento para o desenvolvimento do bairro:
Principais desafios
- Contexto de
fragmentação de interesses entre os três Lapennas
- O Fórum dos
Moradores hoje tem baixa capacidade de resolução de problemas imediatos
- O Lapenna é “visto”
como comunidade – território desorganizado
- Falta de
compreensão da comunidade do que é o território (físico)
- Falta de
credibilidade no Poder Público para resolução de problemas ligados às
enchentes e à habitação
Oportunidades
- Disposição da
Sociedade Amigos do Jd Lapenna na parceria de articulação
- Grupo político
comum nas esferas estadual e municipal
- Subprefeito de São
Miguel com trajetória na questão espaço urbano, ainda que habitacional
- Equipe Aliada (FGV)
com potencial conectivo inter e “transterritorial “
- Ativos de
conhecimento e atores arregimentados para propor ações para a Várzea do
Tietê
Fórum dos Moradores Lapenna – dentro do
círculo de governança territorial
Fortalecer um espaço participativo colaborativo para
colaborar na transformação do território em espaço promotor de direitos, educativo,
identificador de demandas socioambientais, que também possibilite articular os ativos
de conhecimento da cidade para o território e do território para a cidade e,
quiçá, se tornar uma referência no território de interlocução com o Poder
Público, colabora substancialmente para coesão de propósitos, revelação de
novas lideranças e qualificação da participação da comunidade como coautora de
um Plano de Desenvolvimento (ver PPT anexo – proposta de formato), além de
integrar o círculo de governança territorial.
Construção de um território de direitos
Além dos
apontamentos ao longo desse texto (quadro 1), algumas tarefas se fazem
necessárias, as quais poderíamos planejar:
Capacitação para participação
|
Itinerário formativo para aprender a participar
|
Agenda Comum no Território
|
Construção de um plano de comunicação gerador de
dinâmica interativa, ou seja, que conte com os atores do território na
produção conteudística
|
Comunicação Comunitária Estratégica
|
Construção de agenda comum dinâmica, curto, médio
e longo prazo visando ainhamento constante de propósitos e ações
|
Fica uma reflexão do
Géografo Milton Santos: “O caminho é longo,
mas se não caminharmos com as considerações elementares as quais compõem o que
denominamos de geografia da transformação, nos distanciaremos da construção de
uma plataforma que prevê uma educação comunitária para uma nova dinâmica de
urbanização, inovação tecnológica, ambiental e social, concomitantemente a
produção e garantia de direitos e das conquistas sociais obtidas e das
que estão por vir”.
Postado por NCC São Miguel no Ar às 08:47 0 comentários
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
Somos uma partícula da vida dessa cidade
Foi numa dessas manhãs em que a projeção da luz
de nossos feitos adentrou o espaço - tempo de nossos afetos,
em meio às crianças a ler, escrever, cantar e contar vagalumes,
num desses pontinhos de cidade,
percebemos o aprendizado colaborativo
que vivenciamos com tanta gente,
tanto conhecimento de cidade
e o quanto avançamos.
Caminhamos pelas interações para um bem viver juntos,
sempre a contar com sementes aladas para germinar
coautorias de crianças, jovens e adultos a intervir
nesses territórios dentro e fora da gente.
Nessa ciranda de 10 anos
a reunir a “passarada”
nos frutos – livros
das árvores
e praças,
na roda da escola
a cantar, plantar,
comunicar, educar
em Ágoras de paz,
Odeons, Casas,
Templos, CEUS,
no brotar sorriso – flor
de um Galpão iluminado
pelos olhos incandescentes
de crianças e educadores,
nos desafios constantes
superados com habilidade
e com “toque de letras”
num letramento CDC,
também em meio às ocupações,
os rios, os córregos,
as moradias, as famílias
o aprender, o educar, o proteger
e o intervir, a participação,
as investidas para articular,
aproximar, desenvolver...
nos encontros caipiras,
urbanos, dessas vilas, vidas,
quantas vidas na vida da cidade,
quantos territórios a percorrer...
Novo ciclo. Vem o sol a cada dia na poiesis laborial,
techné do reajustamento, ampliar, avançar, são tantas esferas,
viver nesse mundo é habitar esferas, desde o princípio,
esferas que se integram uma às outras,
a entrelaçar conhecimentos,
em plataformas colaborativas...
Ao passar pelos trilhos do tempo,
nas ruas, escolas, Postos de Saúde, casas sobre os rios escondidos,
nos Laboratórios, nas Universidades, nas rodas, nos coletivos,
o legado está vivo e com poder de reativação
em tantos territórios vivos e ativos,
numa territorialidade extra e intra - perceptiva,
o olhar público à coisa pública, o espaço, o terreno urbano.
Sim, o caráter epistemológico muito latente
e presente nos nossos próximos passos
e uma certeza a iluminar o caminho:
a de que somos uma partícula da vida dessa cidade a captar,
capturar também tantas sabedorias e conhecimentos
e com disposição, competênci, num exercício constante de alteridade, levarmos sempre o reconhecimento
de QUE SOMOS CONSTITUÍDOS PELO TERRITÓRIO.
O território não é apenas o resultado da superposição
de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto
de coisas criadas pelo homem. O território é o chão
e mais a população, isto é, uma identidade,
o fato e o sentimento de pertencer
àquilo que nos pertence”
Milton Santos
Feliz Natal e um 2017 de realizações, aprendizados e amor
Novo Ciclo
Postado por NCC São Miguel no Ar às 16:43 0 comentários
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
Por uma inteligência colaborativa
voltada à Várzea do Tietê
A partir de
aprendizados com agentes que produzem conhecimento
Nessa noite pensei
na gente e no rio.
A gente faz um
esforço para morar aqui
e viver nessa
luta também com o rio.
Acho que a
gente tem que trabalhar
junto para
melhorar esse nosso lugar,
mas também
fiquei pensando no rio:
o que ele acha
disso tudo e de todo
esse movimento
de sobe, desce,
molha, seca,
adoece e cura,
Ai meu São
Benedito!
Dona Herculina – moradora
Nesses dias de um quadriênio em que a nossa
trajetória em busca de interações para um bem viver nos territórios da Várzea
do Tietê, localizados na Zona Leste de São Paulo, também indicou a convicção de
que devemos ampliar o olhar para compreensão ecossistêmica desses territórios,
para colaborar como articuladores na arquitetura de estratégias e ações que
efetivamente possam provocar transformações sistêmicas nesse hábitat, percebemos
a necessidade de uma inteligência conectiva e colaborativa construída na
intersecção de conhecimentos que se interdisciplinarizam.
Pelo menos 10 bairros da Zona Leste,
circunvizinhos de São Miguel enfrentam as adversidades na relação que mantém
com as microbacias do Alto Tietê e, olhar para as condições desses espaços urbanos,
implica estudá-los, pensá-los em suas condições socioambientais,
infraestruturais que, numa primeira leitura, nos remete à habitação, sendo que
é imprescindível conectar inteligências existentes nas Universidades, Poder
Público, Iniciativa Privada, Organizações da Sociedade Civil e comunidades o
que implica também proteger, educar, e considerar preponderante a construção da
contribuição e de participação política das pessoas nessas áreas tão complexas
pertencentes ao estado, em busca de coesão social e de propósitos para superar
as adversidades. Isso nos faz pensar e discutir com quem convive com a escassez
o que entendemos como estado não só como esfera governamental, mas num sentido
mais amplo de participação e corresponsabilidade comunitária na construção de
governança nos territórios.
No ponto de vista governamental, nessa lida de
articular para também aprender um pouco sobre o ecossistema da Várzea do Tietê,
descobrimos que é de responsabilidade da Prefeitura de São Paulo assumir o
protagonismo na articulação de ativos de conhecimento para o desenvolvimento de
ações de saneamento básico, que promovam a revisão do Plano de Saneamento para
as áreas de Várzea, dentre elas a maior com 75 km de extensão que é a do Tietê,
como também sabemos que é de responsabilidade de órgãos estaduais a operação
das águas e preservação de suas margens como prevê a legislação da Área de
Proteção Ambiental do Tietê que muitas vezes se hibridiniza com Zona Especial
de Interesse Social – ZEIS.
Assim, os órgãos estaduais e municipais,
detentores de conhecimento técnico e científico e que são, por exemplo, responsáveis
pela operação das águas, controle dos recursos hídricos, ambientais e pela
aplicação de políticas urbanas voltadas à infraestrutura e habitação, necessitam
abrir suas escutas e integrar a colaboração de outros agentes e, a recíproca é
verdadeira, no que se refere aos demais agentes da Academia e da Sociedade Civil.
Aqui nos referimos àqueles atores que desenvolvem desde tecnologias de
drenagem, estrutura física de saneamento, controle do fluxo das águas pluviais,
por exemplo, até os que trabalham no desenvolvimento de tecnologias sociais. Isso,
dentro de uma visão que possibilite conectar demandas infraestruturais até
mesmo com oportunidades de animação econômica e fortalecimento do tecido social
esgarçado nessas áreas, por conta das interrelações advindas da escassez, o que
gera uma escala de desigualdades territoriais e prejudica a coesão social em
torno de propósitos comuns para esses territórios e suas comunidades.
Concentramo-nos num território de Várzea, o Jd
Lapenna, com suas singularidades, mas com muitas similaridades com outros
territórios desse ecossistema. Esse terreno urbano está localizado numa
planície aluvial, entre as extremidades do final de duas microbacias do do
Itaqueruna e a do Jacu. Mas, uma planície aluvial é composta como o nome indica
de aluvião, um solo produzido pela acomodação do Tietê, um rio de planície e
como todo rio de planície corre devagar, mas que em tempos de chuva reconhece
como suas as áreas que passaram a ser habitadas pela população que busca um
espaço para morar.
Para entender melhor é importante observar que
solos de planícies aluviais, sofrem mudanças constantes em sua “textura”
tornando-se ora permeáveis, ora sedimentados conforme o movimento do rio, sendo
que a infraestrutura urbana preexistente na Várzea está sobre as antigas
sedimentações, que configuram uma espécie de platô, mais elevada, produzida
pelo movimento das águas a levar sedimentos e, ao longo do tempo, criou uma
espécie de espaço mais elevado.
O Jd Lapenna em 2013 era habitado por quatro mil
pessoas e hoje sua população passou para 12.000. Esse território, nesse último
triênio, também registra um aumento de 55% de moradias sujeitas a riscos
ambientais. Seu sistema de coletor tronco de esgotos, um dos últimos
investimentos em infraestrutura, passou a sofrer com interferências de
comprometimento em função das ocupações, além de ligações de esgoto no sistema
de galerias de águas pluviais.
As áreas
de Várzea do Rio Tietê possuem uma configuração físico-territorial
longitudinal, apresentando uma extensa área plana com declividades, em média,
inferiores a 5%, e larguras variando entre 200 e 600 metros, podendo atingir
até mil metros em alguns pontos que correspondem aos terrenos sujeitos às
inundações anuais do rio, na época das chuvas. Esse espaço que pertence ao rio,
hoje também pertence às comunidades, o que exige dos atores e gestores
produtores de conhecimento específico
para essa região que trabalhem na proposição de um projeto que dialogue com duas
alternativas nas suas proposições voltadas ao convívio entre gentes, rios e
córregos e todo o ecossistema recuperável ou emergente advindo dessa relação: a)
desenvolver operações para capacitar o território para viver nesse espaço,
permitindo ao rio sua livre acomodação; b) desconsiderar a acomodação natural
do rio e priorizar a presença humana.
Assim, passamos a entender que projetos voltados
para essa finalidade, precisam necessariamente considerar as duas alternativas
citadas acima, e que é importante que as comunidades compreendam que lugar é
esse que habitam, passem a interagir com o ativo de conhecimento e tecnologias existentes,
aprendendo e assimilando a intencionalidade dessa inteligência e defendê-la, sendo que é fundamental existirem
atores que possam colaborar com essa interação, o que implica um trabalho
educativo com, no mínimo, dois vieses: a coesão social e o empreender e
legitimar a transformação.
Na nossa caminhada relacional, a partir do
agravamento das condições urbanas e da multiplicação da sub-habitação em um território
no qual atuamos, passamos a encontrar e, de certa forma, conectar, diríamos até
mesmo articular, inteligências e ativos de conhecimento que pensam e
desenvolvem estudos voltados a esse objeto intensificador de desigualdade
socioespacial, vívido e latente nos territórios da Várzea do Tietê
compreendidas no que passamos a denominar como vórtice da Zona Leste composto
por União de Vila Nova, Jd Lapenna, Jd Helena e Vila Itaim.
Assim, além de perceber a necessidade de atuar
para a planificação e execução de um plano de gestão territorial que considere
a participação, a governança local e a articulação de ativos de conhecimento que
se identificam com o propósito de uma estratégia de ações territoriais
integradas, faz – se necessário investir na articulação de agentes públicos,
universidades, sociedade civil e iniciativa privada para a efetivação de uma
inteligência conectiva e colaborativa voltada à uma extensa área da Várzea do Alto
Tietê, no que diz respeito à infraestrutura urbana, compreendida na tríade
saneamento, habitação e participação sistêmica dessas comunidade no
desenvolvimento urbano desses territórios.
Hoje, já existe um germe dessa intencionalidade,
juntamente com uma primeira aproximação Ativo de Conhecimento Tecnológico com
as Comunidades de 04 territórios de Várzea. Iniciando um movimento de
“concertação” entre FAU – USP, Centro de Hidráulica da Poli, Associação
Brasileira de Cimentos Portland mais o apoio de ativos e quadro técnico de
órgãos do Poder Público, voltados para uma proposta que considera, não somente
o espectro físico, mas que dialoga também com a apropriação das comunidades de
tecnologias, na perspectiva concreta até de “animação econômica”, aliado a um
trabalho educativo, fundamental para que haja legitimidade e participação
comunitária no definir, agir e transformar.
Ao ouvir a frase de Dona Herculina, num desses
dias, coincidentemente lia o livro Carne e Pedra – o corpo e a cidade na
civilização ocidental de Richard Sennett, pensei em São Benedito, citado por ela. No
livro Sennett nos conta que no século IX surgiu a primeira ideia de comunidade
criada por São Benedito, decretando que os monges deveriam passar os dias
trabalhando e rezando – laborare et orare – o labor deveria se concentrar no
jardim (aliás uma alusão a compensação do pecado do jardim do Éden). O ofício
cristão estava associado à garantia do refúgio contra o mundo de pecados.
Dona
Herculina reflete sobre a relação da comunidade com o rio e insinua um
pensamento mais ecossistêmico, sem a ideia de comunidade voltada para a
compensação de pecados, mas num exercício de alteridade entre também se colocar
no lugar do rio e ampliar a compreensão de viver onde ela passou a habitar.
Por uma inteligência conectiva e colaborativa voltada
à Várzea do Tietê, é fundamental que haja, como indica o ponto 1 da Assembleia
de Convergência sobre o Direito à Cidade do Habitat III ações-chave, lutas, projetos, articulações
de ativos de conhecimento, economia local integrada às demandas urbanísticas, programas
locais para a implementação do direito à cidade, desenvolvidos pelos
diversos setores da sociedade civil locais, com a participação ativa
de grupos sociais e movimentos populares.
. Dados e aprendizados: PAVS - Programa Ambientes Verdes e Saudáveis e PSF Lapenna, Comitê da APA da Várzea do Tietê, FAU - USP (Prof. Paulo Fonseca), Rui Ohtake, Luiz Orsini (POLI - USP), Nelson Brissac (ZL Vórtice), Fernando Melo Franco (SMDU), Robert Poow (urbanista catalão - Renova SP) e Dona Herculina
Postado por NCC São Miguel no Ar às 21:49 0 comentários
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