Bill da Silva
Atrás das muralhas, ou melhor, bem longe das muralhas do Imperador retratado por Kafka, nasceu numa manhã urbana chuvosa, em meio à calamidade, distante do hospital, na Lan house “Quebrada Virtual, não houve tempo de se levar à maternidade, uma criança que veio a se chamar, depois de tantas sugestões dos freqüentadores dessa casa de se conectar ao mundo, Bill Microsoft C.N.N Time Sony Warner da Silva.
Certo de que só nessa pequena descrição, o contador dessa História com “H maiúsculo de Humanidades, poderia se julgar um engenhoso estrangeiro veneziano, quem sabe um Marco Pólo de uma cidade invisível, visivelmente a procura de um lugar na contemporaneidade.
Pois bem, o menino cresceu e conviveu com ações e reações diante da escassez, com os códigos locais extremamente antagônicos aos valores e concepções de vida do imaginário de quem, cotidianamente acorda em ótimas condições para enfrentar os desafios desse mundo.
Bill Microsoft C.N.N Sony Timer Warner da Silva, sim, esse nome já não simbolizava, mesmo se fosse totalmente nacional o seu país, e tudo que ouvia, via interagia só existia se fosse produto mercantilizado pelos donos da comunicação do mundo, inclusive a própria música de sua terra, e isso o incomodou durante um tempo. Assim por um breve tempo passou a ser conhecido, em função da vulnerabilidade social estudada por gente intelectualizada, como Bill Trafic por vender CDs de games piratas.
Mas num lampejo de percepção aguçada Bill entendera que o novo patrimônio da humanidade era o espectro eletromagnético, as radiofreqüências, e que era por aí que circulava o maior número de informações e mais: que esse espaço não era controlado por nações e nem governos e sim por corporações comerciais.
Foi então que num desses dias de calamidade no território em que vivia, após lavar a casa e tirar o lamaçal que sua cidade delgada deixara em seu barraco, ao conversar com alguns deuses metropolitanos presentes nos baldes de lavação de sua casa, esse espaço que se move para o alto para se distanciar do “Lago Negro” (Calvino Italo – A cidade delgada), decidiu inaugurar um novo espectro, um outro patrimônio da humanidade, a rua, quem sabe a partir daí invadir e difundir o que se vive e revive nesse ambiente, nesse próprio espaço contextualizado e, em seguida, a partir da construção de vias informacionais e dos símbolos culturais emergidos desse chão, projetar essas imagens, sons, humanas percepções, histórias, movimentos e significados na amplitude e multidimensionalidade de uma rede conectada ao mundo.
Assim Bill não teve dúvida, reuniu as escolas mais próximas, as igrejas, os comerciantes locais, juntou caixas de som, projetores, câmeras e com outros jovens e adultos e claro as crianças, ocuparam a Feira, a Viela emblemática com rádio e TV e, enquanto o mundo se movia, a partir de cada roda de conversa na rua e da rua, uma novo movimento ganhou o, espectro eletromagnético, as radiofreqüências, o virtual, porém tudo passou a ser real e transformador, pois a essa comunidade que Bill pertencia, juntaram outras galeras e tantas outras, a levarem as suas ruas, os seus olhares, os seus potenciais para esse verdadeiro e atual patrimônio da humanidade.
E por mais romântico que possa parecer, os que até então se julgavam donos desse patrimônio, tiveram que dialogar, dividir, reconsiderar toda a hegemonia que até então ditara o que deveria e o que não deveria existir nesse espaço.
Valeu Bill. Valeu Galera!
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