sexta-feira, 30 de julho de 2010

Crônica do Cometa


Encontro marcado ou inesperado




Numa dessas manhãs em que “chove, mas não molha”, “sol clareia, mas é nublado”, encontro na curva do tempo e do espaço geográfico real e sombreado pelos meus pensamentos de ação de ler, ouvir, e escrever, numa dinâmica de buscar a expressão singular, no calçadão em São Miguel Paulista, um personagem que encanta por sua literariedade e loucura, na necessária provocação para me despertar, ainda mais, às poesias e às vidas de rua, na rua, com cantos, contracantos, versos e tertúlias de existir e resistir.

José de Areia, ou melhor, Zé d' Areia, assim se apresenta: “pescador , agora morador de um pedaço de chão que já foi areia de um rio, nascido de um fio, veio d'água, feito eu, assim encurvado, porém arretado de bem - viver, agora no asfalto, antes projetado, transformado em realidade do meu humano embaraço, me dê um abraço, meu sinhô enchapelado, que lhe ofereço um verso versado, se tiver trocado, fico grato com o agrado, se não tem posses, um olhar, um afago ou um aplauso, para esse José de Areia nomeado; hoje só fico molhado, quando chove ou estou suado”. .

Aproximo – me do poeta de rua, sento-me na guia da calçada ao seu lado, nos olhamos como dois humanos danados. Um a viver a poesia das ruas e a lembrar também de antigos regatos. Outro a buscar a leitura desses que vivem do outro lado, ousados nômades que romperam a tenacidade e se sentem como a cidade, um organismo inflamado, bordado no tecido da sobra, cada qual um verso para um dobrado, a unir presente e passado e ver o futuro, quando alguém de andar apressado, muitas vezes angustiado, há muitos dias sem voz para expressar seu recado, estabelece a audiência a Zé d' Areia letrado.

No chão próximo ao Mercado, nos entreolhamos, como dois em um só espaço. Cada um observa os seus traços. E num silêncio com tantos significados, nos despedimos com suspiros de apreço e de vero – semelhança, cada qual para um lado. Zé d' Areia com seus badulaques e papéis manuscritos e guardados num saco plástico, e eu com a pasta de couro, onde mais tarde um caderno receberá uma escrita, sobre esse encontro que me parece ser marcado, apesar de inesperado.

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