Humanidades puxam expansão da pós-graduação no Brasil
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O doutorando brasileiro está cada vez mais interessado em Machado de Assis e menos em relatividade.
Ao menos é isso o que sugere um novo levantamento do governo. Ele mostra que a expansão da pós-graduação brasileira é puxada, em primeiro lugar, pelo aumento de doutores nas humanidades, e não nas ciências exatas e biológicas.
Em 1996, as ciências exatas e da Terra ocupavam o segundo lugar entre as áreas que mais formavam doutores no país, com 16,1%. Em 2008, caíram para o sexto lugar, com 10,6%.
O tombo das engenharias foi menor. A área se manteve como a quinta que mais forma doutores, mas a sua fatia caiu de 13,7% para 11,4%. Redução similar teve a área de ciências biológicas.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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"Se olharmos as áreas que cresceram menos, elas ainda cresceram muito", diz Eduardo Viotti, que coordenou o estudo, realizado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
"É difícil criar doutorados em áreas de ciências exatas, da Terra e engenharias. Eles exigem laboratórios, não são cursos que precisam apenas de cuspe e giz", brinca.
"O custo mais baixo estimula as escolas particulares a abrir cursos nessas áreas. Os novos dados não me surpreendem", diz o especialista em política científica Rogério Meneghini, coordenador de Pesquisas do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Opas-OMS).
Não foi só por causa das particulares que o número de doutores disparou, porém. Nesses 12 anos, as universidades federais aumentaram em mais de cinco vezes o seu número de doutores.
Em 2005, aliás, elas ultrapassaram as estaduais e se tornaram as instituições mais importantes na pós-graduação do Brasil.
Algumas estaduais, porém, como a USP e a Unicamp, ainda concentram grande parte das matrículas no país (veja abaixo). E, apesar do crescimento das federais, o país ainda tem apenas 1,4 doutor por mil habitantes, enquanto os EUA têm 8,4, e a Alemanha, 15,4.
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MUDANÇA DE RUMO
Para Carlos Aragão, presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a queda relativa na formação de quadros em ciências exatas é preocupante.
"Formar cientistas e engenheiros é fundamental para que exista inovação tecnológica nas empresas", afirma.
Além disso, pondera, áreas estratégicas para o país precisam dessas pessoas, como o programa espacial, o programa antártico, a política nuclear, as questões que envolvem clima, energia e agricultura e o pré-sal.
Segundo ele, o CNPq tem procurado apoiar a formação de engenheiros e cientistas lançando editais voltados para essas áreas, assim como facilitando o acesso a bolsas a alunos que se interessarem pelas áreas. "É necessário corrigir essa distorção", diz.
Os especialistas concordam, porém, que pode acontecer um movimento natural de fortalecimento das áreas que envolvem números.
"Nos últimos 20 anos o país não cresceu muito, não havia muito emprego ou interesse nas áreas de engenharia ou ciências da Terra. Direito, economia e administração, por exemplo, eram as áreas onde havia mais possibilidade de os doutores se empregarem", diz Viotti.
Com a economia do país se aquecendo e com empregos sobrando nas áreas de infraestrutura, o próprio mercado de trabalho pode incentivar alunos a buscarem as áreas de exatas, portanto.
É de admirar que o Brasil esteja hoje em dia formando este expressivo número de doutores se levarmos em consideração a péssima política atual para a educação de nível superior.
Um dia desses encontrei um amigo que recentemente concluiu sua tese de doutorado, tendo-a apresentado publicamente, de acordo com as regras da instituição que lhe ofereceu a bolsa.
Fui parabenizá-lo pela conquista e ele me disse brincando. - Sou doutor, mas nâo espalha!
Eu fiquei cuirioso com aquela forma de receber congratulações e estranhando resolvi lhe perguntar o motivo.
Ele explicou que a concorrência nos concursos públicos para professor das universidades públicas é ridiculamente alto, quando não se constitui de um teatro, de um jogo de cartas marcadas onde ao tornar público um edital para o certame, praticamente todos na instituição que oferece a vaga já sabem quem será o vitorioso.Muitos dos editais de "concursos" são elaborados de forma direcionada para fazer um acerto em relação à situação funcional de professores que já estão na instituição, mas com cargo ainda precário.
No que diz respeito às universidades particulares a situação é ainda pior.
A legislação do MEC obriga as universidades a manter em seus quadros docentes uma quota de professores doutores. A relação é de um percentual em relação ao número de matrículas efetivadas na universidade.
O que ocorre é que aos doutores cabe apenas buscarem vagas para doutores dentro desta quota já preestabelecida. Em não havendo a vaga para doutor, quase sempre o doutor é preterido na vaga em relação a professores com menor qualifificação. Uma vez doutor, sempre doutor. As instituições de ensino superior não oferecem vagas para doutores fora da quota legal por temerem as reclamações trabalhistas, pois, em oferecendo a vaga onde é exigida uma menor qualificação para um profissional de maior qualificação, ficariam as instituições com um flanco aberto, pois o professor doutor poderia pedir judicialmente a equiparação de salário e vantagens da carreira com outros professores doutores da mesma instituição.
A verdade amarga é que há um grande número de doutores que exercitam o magistério em instituições de ensino superior privada e que, ao colar grau como doutor, perdem seus empregos e ficam a mercê do mercado na tentativa de encontram uma vaga para doutor dentro de uma universidade que esteja com uma posição dentro da quota em aberto.
Isso deixa claro que no Brasil é muito difícil a entrada no mercado de trabalho tanto para aqueles que possuem alto grau de especialização, quanto para aqueles que não possuem qualificação alguma.
Salve nucleo de comunicação são miguel no ar,parabéns pelo trabalho de vcs,pois tem boas materia postadas e por colocar um trabalho da leste em destaque,continue ,pois assim ,fotalece os outros trabalhos...
Pedro Z/L
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