sexta-feira, 13 de agosto de 2010


Dona Glória e os substantivos, adjetivos, verbos...



Nasci na Bahia, numa cidade chamada Bom Jardim e vim para São Paulo com 6 anos de idade. Minha primeira escola foi no Burgo Paulista, lá tinha até uma capelinha. Em 1958, eu fui uma das alunas do Arquiteto Luiz Saia que antes se chamava Escolas Agrupadas Municipal, eu me lembro bem da sala de aula, me lembro que a cada dia tínhamos uma aula, geografia, ciências, matemática, desenho e leitura.


Um dia, antes da aula de leitura, o professor Olimpo nos avisou para nos prepararmos, mas não dizia qual era a história, só dizia que conforme a história tínhamos que apontar o substantivo, adjetivo, verbo, se a frase estava no plural ou singular. Eu decorei praticamente o livro todo por não saber exatamente o que estudar, sei que cheguei em casa, falei com a minha mãe e aí a tarde toda foi só estudando. Tínhamos cinco horas e meia de aula, eu morava ali na Nitro Operaria e a gente subia a rua todinha para chegar na escola. Quando foi no dia seguinte, o professor começou a aula, logo de cara ele me chamou, fui a primeira, comecei a ler, não lembro bem a leitura, mas eu sei que falava assim, sobre o Pedrinho e o João, os meninos faziam muita travessura e saiam correndo pelo campo, comecei a ler e apontar o adjetivo, o substantivo e os alunos que, eram 35, falavam - tá errado, tá errado, e o professor olhou para eles e disse que eu não estava errada não, e que tinha avisado para todos estudarem. Eu só sei dizer que naquele tempo eu tirei nota dez e fiquei tão feliz, cheguei em casa dando pulos de tanta alegria.


Outra lembrança minha daquele tempo, é que nas escolas não entravam todos juntos, tínhamos que fazer fila, cada professor pegava seus alunos e todos juntos no pátio cantavam o hino nacional, hino da bandeira (Salve, lindo pendão da esperança/ Salve, símbolo augusto da paz!/ Tua nobre presença à lembrança /A grandeza da Pátria nos traz.). Todas as datas típicas a gente comemorava na escola, Tiradentes, Dia da bandeira, Independência, se caísse no sábado a gente ia, se caísse no domingo também. E quando entravamos na sala de aula todo mundo rezava, por isso que os alunos eram quietos porque nós entravamos em harmonia, era gostoso, os alunos se entendiam, os alunos respeitavam os professores, mas tinha castigo também, se o aluno aprontasse ia para a diretoria e ficava lá até o pai ir buscá-lo, igual é hoje, só que nenhum aluno xingava o professor, nenhum aluno ameaçava os professores, não tinha nada disso, você errou abaixa a cabeça. Nós respeitávamos o professor e o professor também nos respeitava, era muito difícil um aluno ir para a diretoria, era muito bom, nós cantávamos e rezávamos, hoje em dia não tem mas nada disso, hoje os alunos já entram na sala mascando chiclete, já chegam com a boca cheia de palavrões e o professor não tem valor e tem professor também que faz questão de não se valorizar.


Uma lembrança muito marcante, é o fato de que nesta sala de aula eu era a única negra, só eu no terceiro ano do primário, tinha mais dois meninos de outras salas, pouquinho, não tinha quase gente negra, depois já no outro ano foi que começou a aparecer alunos negros.


Naquele ano, nós inauguramos a escola com o nome de Arquiteto e nesse ano também foi inaugurado a escola Dom Paulo.


Eu comprei esse terreno aqui no Lapenna - que era uma Olaria, em 1962, fazem 47 anos.

Seja o primeiro a comentar

Postar um comentário

NCC São Miguel no Ar

Galpão de Cultura e Cidadania
Rua Serra da Juruoca, nº112
Jardim Lapenna - São Miguel Paulista
São Paulo - SP
Telefone: (11) 2956 0091
E-mail NCC: projetosmnoar@gmail.com

Fundação Tide Setubal

Rua Jerônimo da Veiga, 164 - 13° andar CEP 04536-000 Itaim Bibi - São Paulo - SP Telefax: (11) 3168 3655
E-mail: fundacao@ftas.org.br

CDC Tide Setubal

Rua Mário Dallari, 170
Jd. São Vicente - São Miguel Paulista
São Paulo - SP
CEP 08021-580 Telefone: (11) 2297 5969

  ©Template Blogger Green by Dicas Blogger.

TOPO