De 2002 a 2007 tive a oportunidade de trabalhar como coordenador de Arte e Cultura e do Núcleo de Comunicação da ONG Aldeia do Futuro. Dentre outros projetos de educação profissional, o de Criação e Produção Audiovisual foi um dos mais exitosos pelos resultados, tanto de inserção no mundo do trabalho, ao todo foram 80 jovens inseridos em 2 anos, como também na formação de lideranças juvenis comunitárias, numa região da cidade de São Paulo, na qual o crime organizado afeta grande parte da população juvenil.
Um dos motivos do sucesso de inserção no mundo do trabalho, está intrinsecamente relacionado ao projeto pedagógico dessa organização, elaborado pelo consultor Antonio Carlos Gomes da Costa, com pressupostos estabelecidos a partir de 3 pilares: vontade política, compromisso ético e competência técnica, sendo que ao longo do processo percebi que é fundamental desenvolver instrumentos e métodos para despertar a vontade política transformadora dos jovens aspirantes à geração de renda, observando a necessidade de compromisso ético com sua localidade e com o mundo, além do aprimoramento das habilidades.
Apoiado pela United Way, o projeto “Luz, Câmera e Trabalho” dialogou com empresas como Procter and Gable, DuPont, RHÖM, Pinheiro Neto entre outras, além da consultoria do Instituto Fonte. Constantemente se buscou qualificar as ações de capacitação deste e de mais 10 projetos, durante 3 anos. Funcionários dessas grandes empresas prestaram consultoria para as ONGs, tanto na capacitação, quanto para os empreendimentos juvenis. Foram criados sistemas de avaliação, indicadores e material de apoio.
A proposta da United Way (Associação Caminhando Juntos) e das 11 ONGs apoiadas potencializava, além da inserção no mundo do trabalho, o desenvolvimento de base comunitária e o impacto econômico nos territórios, gerado a princípio pela transferência de renda com bolsas – auxílio e, mais tarde pela empregabilidade e ações empreendedoras dos jovens.
O tempo passou, estamos em 2011. Hoje os apoios empresariais a projetos de educação profissional com o diferencial apontado acima, desenvolvimento de base comunitária, diminuiu significativamente. Os fatores e as causas dessa diminuição perpassam por uma tendência de tecnização, com quase nenhuma intenção para o desenvolvimento da consciência política, bem como de base comunitária.
Jovens que se destacam em suas comunidades são adotados por programas de incentivos de grandes empresas, porém ações identificadas com sustentabilidade, de natureza comunitária, tiveram uma redução de apoio considerável.
Alguns movimentos e/ou projetos de capacitação com perspectivas sustentáveis e formação de lideranças são interrompidos, ou pela brevidade do apoio empresarial, ou adequação às políticas públicas pouco abrangentes, no que diz respeito às ações empreendedoras individuais e coletivas. Por sua vez a Lei do Aprendiz ainda não disse a que veio e as ações afirmativas para inserção equânime nas empresas pouco vingou.
A educação para o mundo do trabalho é a mesma educação para a vida. E para vivermos bem, coletivamente, precisamos ouvir e ser ouvidos, todos, inclusive para erradicar o descompasso entre as esferas municipal, estadual e federal, que necessitam alinhar suas políticas educacionais e instrumentos em relação aos desafios da contemporaneidade de mundo, que cada vez mais dá sinais sobre a necessidade de movimentos sustentáveis e transformadores.
José Luiz Adeve (Cometa)
Coordenador do Núcleo de Comunicação Comunitária
Fundação Tide Setubal
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