Há um piano no saguão da Estação da Luz, o piano é de todos e todos têm o piano, e pelo piano expressam um sentimento, uma consideração, um apreço, poucos o maltratam.
As mãos que o tocam são mãos de rua, mãos apressadas, mãos carinhosas, mãos rudes, mãos amorosas e até mãos desdenhosas, mas são todos os tons, as notas, as canções e os sons do piano do saguão estação.
Há um piano no saguão na estação, e não é pelo fato de Antonio ter tido a idéia de levar o piano para lá, que este deixou de ser público.
Mesmo sem ser pensado por um coletivo o pensamento e o desejo de colocar um piano lá, ele não é só de Antonio, ele infinitamente pertence a todos que o tocam e o ouvem ou simplesmente passam por lá onde o piano está.
Hoje pensei nas suscetibilidades de confundirmos atitudes públicas com autoria e posse da idéia, quando não levamos em conta que o piano é de quem o tocar, ouvir, ver e pelo ambiente passar onde o piano está.
Isso vale para tudo na cidade onde fui morar, seja ponte, rua, biblioteca, universidade, estação de trem , teatro, feira livre, escola, posto de saúde, enfim tudo é tanto quanto o piano, é de todos e não é possível para o piano, que passa a ser o exemplo que seja somente de quem teve a idéia de colocar o piano lá, pois para que o piano possa ter vida longa e ser piano sustentável ele tem que ser de todos nós.
Talvez os choques harmônicos da composição da cidadania sejam provocados, muitas vezes, pela necessidade equivocada, de sempre atribuirmos a alguém especificamente o fato do piano estar lá transformando a iniciativa, em ato institucional moto – contínuo de sempre alguém ser tutor, um pai, colocar o piano lá, acolá, alhures, e nos eximir da responsabilidade de colocar outros tantos pianos, em tantos outros lugares, para potencializar e se somar a iniciativa de Antonio que não é o único que pode e consegue .
O piano público agradece diante da possibilidade do estabelecimento de uma rede de instrumentos, considerando a necessidade de mantê-la afinada e em bom estado,o que pode ser garantido se todos exercerem sua parte.
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