sexta-feira, 1 de abril de 2011
Sonho e realidade que se sustentam
José Luiz Adeve (Cometa)
Lá estava ele. Parecia um sonho. Manuel Castells falava com os moradores
do Jardim Lapenna. Sim, o diálogo de Castells com as pessoas no Galpão de
Cultura e Cidadania, era um sonho. Mas muito antes desse sonho, acessávamos
todos à internet. Um coletivo composto de gente disposta a mudar o cenário real
de suas vidas e quiçá da localidade.
Cícera, Clecileide, Miriá, Dona Antonia, Neildes, Lais, Larissa,
Givanildo, Ariovaldo, Rose, Sônia, enfim crianças e adultos num coletivo, aqui
de São Miguel Paulista, a navegar e levar o seu simbólico para a rede.
Navegávamos pelos sítios que mais interessavam ao nosso movimento de
educar e ser educado, no sentido de estabelecer uma comunicação de natureza
comunitária. Visitamos a Câmara Municipal e encontramos por lá, um tal Plano
Diretor, que tudo tem a ver com a vida coletiva dessa cidade.
Depois, acessamos outro sítio, o da Secretaria da Educação e constatamos
de que existia a possibilidade de sermos atendidos, ou pelo menos alguém ouvir
o que pleiteamos, sem precisar de interlocutores, falsas lideranças que
garantem abrir portas do Poder Público com a garantia de nosso voto.
Onde estavam os jovens. Na certa em seus respectivos trabalhos. Senti
falta de líderes juvenis. Talvez a maioria estivesse debruçada na rede, claro a
maioria, infelizmente sendo movimentada e não gerando movimento, portando
marcas em seus corpos, numa portabilidade cultural, muitas vezes induzida, numa
corrida armamentista de consumo.
Mas não era sonho. Num sábado, pela manhã, pessoas reunidas naquele
bairro de São Paulo, apesar do tsunami hiper – individualista predominante, de
uma sociedade desorientada, essas pessoas insistiam em encontrar a bússola
política perdida, num mundo que investe nas felicidades privadas e
despolitização das massas.
Não eram intelectuais reunidos, eram pessoas simples, porém
desconfiadas, assim imaginei numa leitura com desejos de ser assim. Pensei que
a esfera política seja o reflexo e registro em cheio da desorientação
individualista. Mas tudo aquilo que acontecia naquele lugar não era sonho.
Vivia então, mais uma vez, minha insistente leitura otimista.
Diante de uma espécie de democracia do consumo do mundo contemporâneo,
onde tudo parece estar voltado ao hedonismo e, muitas vezes, uma força da
economia de mercado insiste em não reconhecer a diversidade, neutralizando
movimentos para a viabilização de um outro modelo de desenvolvimento,
insistíamos, todos naquele grupo em construir ações cidadãs para provocarmos
reflexão e ação educativa, aprender e ensinar.
Sim, estamos em São Miguel Paulista, na cidade de São Paulo, no Brasil,
mas no Equador, por exemplo, existe um território considerado o mais rico em
biodiversidade do planeta. Ele está sobre lençóis petrolíferos, que apesar da
criação de um fundo para compensar a não exploração, pelo menos durante 20
anos, fatalmente não resistirá às demandas da economia mundial, que tem ainda
como matriz energética esse mineral fóssil.
Acordo no trem da realidade e do sonho. A necessidade de estabelecer
pontos e conexões, numa outra conversa, não somente para se contrapor, mas para
fazer uso das novas tecnologias . Viver e se relacionar com o que julgamos
estar tão distante, apesar de toda a adversidade e convívio com a escassez,
pensar nas gerações futuras, numa dinâmica que transforma o sonho em realidade
sustentável.
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vive.
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