terça-feira, 24 de maio de 2011


As cidades e os lugares que nos procuram


José Luiz Adeve



Vi o céu da manhã de outono brilhar o brilho da alma, não me pergunte como descrever o brilho da alma, atualmente abandonei os enunciados, as conotações e denotações, apesar de sempre buscar algo que simbolize, ou muitas vezes procuro tantos símbolos que componham um significado, para mitigar a lida desses dias, em que as sensações vitais nos levam a procurar as fendas que a arte abriu, para que o vento e o moinho harmonizem as descobertas e tantas possibilidades de sentir e sentidos.



Vi o céu da tarde de outono brilhar o brilho da alma, recebi sua mensagem sincera em atonalidades outonais distantes. Para perto das árvores as folhas voaram, feito navegantes, caíram no espaço vivido. Os galhos acostumados com o ciclo das estações não secaram, pois a aproximação do inverno gotejou frescores de orvalhos, e a chuva brincou de enganar o corvo, chovera enquanto o pássaro dormia um sono silvestre, mas mesmo assim ele percebeu o rouxinol cantar.



Vi o céu da noite, numa cantiga de luar de céu, acalentar os corações e afagar o ego dos sabiás que só cantam na primavera. Mas na manhã seguinte, aquela garça que voara a projetar sombras tão idênticas a tantas outras que vi, em tantos outros lugares e tempos de vida que não esses, nos quais, por um instante, da minha janela pude perceber similaridades de vôos e sombras, como se estivesse vivendo um momento sonhado.



Aqui estou a escrever sobre tudo isso, ainda há pouco, no ônibus, uma sombra no vidro composta de reflexos de rostos e blusas, numa quase obra de arte, num inverno matinal de outono, levaram-me a pensar que os lugares também nos procuram e não somente nós procuramos os lugares. Então vi a certeza brilhar, tanto nos vôos da garça, nas folhas caídas, na harmonia entre o vento e o moinho, no acalentar dos corações, no afagar dos pássaros humanos - cantantes, no afeiçoar provocado pelas cantigas de luar de céu, na mitigação de recordar momentos sonhados, de que os lugares, dessas tantas cidades invisíveis dentro da mesma cidade, dentro e fora da gente, claro, eles, os lugares, também nos procuram.

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