quinta-feira, 5 de maio de 2011

O vestido casamenteiro


Contado por moradora do Lapenna que não quis dar o nome, mas que adora contar história. "Quem quiser que conte outra, mas tem que ser de amor", diz ela.



A história que conto agora, não é história só de ouvir, é também história de vestir, costurar, bordar e até de casar. Ou seja, é história de nunca mais esquecer. Essa história tem muitos personagens, mas um deles é um inanimado, que animou pelo menos mais dois personagens para viverem uma história de amor.



O personagem, se não o principal, mas o provocador é o vestido que Mãe Lurde fez para mim, para que viesse ao casamento de meu primo Rosiney, aqui mesmo, em São Paulo. São Miguel Paulista, sim onde existe esse Galpão aqui, no qual, nesse momento lembro – me e conto a você que me lê, sobre o acontecido.



Vivia eu em Jacobina, mas sonhava em me mudar para São Paulo. Sabe como é, a juventude de minha cidade, lá por aqueles tempos, tinha um fogo para ir logo para cidade bem grande. Foi então que alguma coisa uniu a fome com a vontade comer.



Meu primo Rosiney, que por aqui estava, convidou toda minha família de Jacobina, para o seu casamento. Todo mundo de minha família andava na oportunidade, muito ocupado e, além disso, sem dinheiro para o translado. Tinha eu 23 para 24, com aquela vontade toda.



Não é que cismei de jogar na Loteria Esportiva e fiz os 13 pontos, foi pelos idos de 84. Ganhei a bolada, do que hoje seriam uns dez mil reais. Paguei as dívidas da família, e ainda sobrou metade.



Não tive dúvida. Comprei tecido de primeira, recortei de uma revista um modelo chique e pedi para Mãe Lurde, costureira de mão cheia, fazer um vestido bem bonito para ir ao casamento do primo Rosiney.



Tirei a passagem mais barato, num ônibus que saia de Jacobina, do bairro de Vila Gertrude, desses clandestinos, mas ia direto para São Miguel Paulista, mais precisamente Jardim Lapenna. Lembro que a data da passagem era 22 de abril e o vestido ficou pronto no dia. Experimentei aos olhos de Mãe Lurde, me senti uma princesa naquele vestido.



Fiz as malas e parti. Foram 30 horas de viagem. E ao entrar em São Paulo, o ônibus teve que passar por um trecho bem alagado, chovia que Deus mandava. Eh, Vige Maria, o ônibus teve que parar. A portinhola de onde estavam as bagagens se abriu e minha mala saiu boiando pela Marginal Tietê.



E não é que a minha mala se abriu, o vestido cor-de-rosa saiu navegando. Um rapaz ao ver meu desespero, aliás, um moco bem afeiçoado, de nome Severino Santos Silva, insistiu ao motorista para abrir a porta e salvou o meu vestido.



Severino foi aplaudido por todos os passageiros, pela coragem e determinação. Ganhou de mim um beijo no rosto. Hoje sou casada com esse herói jacobino - paulistano e moramos aqui em São Paulo.



Quanto ao casamento do meu primo, fiz o maior sucesso, mas fiquei muito mais interessa em resfolegar o bucho com Severino, do que na própria cerimônia e na festa. Se bem que fui com outro vestido que meu amor comprou para mim.



Ai, meu Severino ! Sou feliz desde aquele tempo até agora, aqui em São Paulo. Tenho quatro filhos grandes e uma lembrança viva do vestido que Mãe Lurde fez, foi ele que me levou a Severino.



Peço ao senhor, que teve a gentileza de escutar essa história, que a escreva e a divulgue pelo mundo, nesses trens de internet, etecetera e tal, pois histórias de amor como essa, andam em falta nessa nossa capital.

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