Coitada da bola
Os meninos do Brasil precisam aprender a aprender
Lá estava ela, parada sobre a marca, a espera da energia humana gerar o movimento para percorrer a distância necessária para atingir o desejo.
Lá estava ela e, por mais inanimada que possa parecer, seu único desejo era ser conduzida ou impulsionada com competência e carinho, já que sempre foi fundamental e essencial na vida de todos que têm e tiveram com ela, a possibilidade de viver e ganhar a vida, propiciada pela a habilidade de acariciá-la e conduzi-la.
Ela não deseja muita coisa, somente quer um carinho, uma demonstração de afeto. Talvez como objeto que sempre foi reconhecido e respeitado por inesquecíveis humanos, ela exige, no momento presente, respeito desses seres humanos contemporâneos que se tornaram muito mais interessados em usá-la para finalidades de um processo de acúmulo de riqueza e exponenciais investimentos financeiros.
Navegam, os cyborgues do hipercapitalismo esportivo, com mensagens e imagens que lhes garantem fortunas.
Sim, cyborgues do esporte, imageticamente heróicos, num planeta que hoje conserva em parte a forma daquele objeto parado sobre a marca. Porém, a terra, assemelha-se muito mais à batata quente cozida pelas insustentáveis atitudes dos que detém o controle da economia de mercado que também os vitima, poderosos, hegemônicos que durante séculos tiraram vidas e fôlegos de tantos povos, e que sempre se disseram defensores da liberdade e da democracia.
Sim, ela que já se sentiu livre, também foi usada, antes desses meninos hiperbilionarizados, por ditadores e ditaduras como expressão, condição e imposição cultural para que ninguém soubesse do padecimento de gente em porões, sob os grilhões e a mordaça.
Mas ela não tem culpa, ela adora ser tocada com efeito e arte. Ser conduzida com maestria e ginga, na maciez da grama ou da areia. Sim, ela ama e merece ser amada e animada com muita habilidade e respeito.
Ela sabe que sem ela não haveria o olhar, o sentido, a razão, a arte, o amor por essa prática em que o corpo precisa artisticamente e atleticamente, conduzido pela inteligência, criar movimentos e impulsos para que os olhares da audiência desfrutem dessa cultura, símbolos a compor um enredo que nos encanta, por ser tão próximo de nossas possibilidades de realização individual e coletiva.
Sim, lá estava ela, a espera . E nós em algum ponto do planeta a agradecemos por tudo que fez e faz a gente sentir. E se quatro vezes seja necessário pedir desculpas, quatro vezes nos desculpamos, mas explicamos a ela que esses moços, ora esses moços, “pobres moços”, apesar de ricos não sabem e nem viveram o que ela viveu. Precisam esses meninos, aprender a aprender, para não se tornarem colaboradores da angustia e da depressão dessas duas bolas: a de futebol e a do planeta.
Bola gente, gente bola, vale bolar também formas de dar mais trato a elas.
José Luiz Adeve (Cometa)
para “Sintonia Cidadã”
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