Amoreiras e Almendreiras da América Latina
Gonzalo Riquelme e José Luiz Adeve
“Lengua, lingual, lenguaje a proporcionar paragens para los pajaros que mígran,intercontinentalmente a disenar los caminos las azules melodias y de la noche”.
A primavera chegará. Já se pode ver as amoreiras frutificadas e ensaios de despetalares de suas florzinhas. O inverno nos presenteou com suas magnólias e camélias. Em toda América Latina, por alguns momentos alguns sentidos de essencialidade cultural se fizeram vivos e existentes, para a aproximação dos copos e reflexão sobre a história que construímos.
O gigante do norte do planeta já não desenha e imprime tantos caminhos, antes seguidos por nós latinos. Caminhos que muitas vezes nos levaram a debilidade social. Não faremos mais o que o mestre econômico mandar parece ser a decisão mais acertada. Mestre este eleito pela necessidade absurda de ter referência, o que nos levou pouco a pouco a sermos tão pobres e tão ricos ao mesmo tempo, e a desperdiçar nossas riquezas, abrindo de forma tresloucada as portas para o capital estrangeiro, mas na teia do equívoco, sem uma condução equânime das divisas e dos dividendos propiciados por nossa terra.
Sim, a primavera dá o ar de sua graça. Alunos da escola pública sobem no muro para pegar amoras. É perceptível a sensação e o movimento de desenvolver uma maneira de viver que reconheça o imaterial, a cultura e as relações afetivas como bens e pilares de uma economia criativa, cidades criativas, dimensões tangíveis se houver a devida reflexão sobre como vivemos e como podemos passar a viver.
Sim, essa reflexão é provocada por ações educativas e estímulos proprioceptvivos e exteroceptivos, com exercícios do olhar para desfazer o profundo mal estar latino americano, diante da desmistificação das tradições e dos costumes, e para reelaboração de nossos contextos de confiança, no sentido de se contrapor ao desmoronamento da ética e da desarrumação do habitat cultural.
Conscientes da afirmação Jesús Martin Barbero (semiólogo, antropólogo e filosofo espanhol) de que as pessoas podem, com certa facilidade, assimilar os instrumentos tecnológicos e as imagens da modernização, porém só muito lenta e dolorosamente podem recompor seu sistema de valores de normas éticas e virtudes cívicas. Vivemos também muito em função da convergência entre sociedade de mercado e racionalidade tecnológica, “uma forte erosão dos mapas cognitivos, que nos deixa sem categorias de interpretação capazes de captar o rumo das vertiginosas transformações que vivemos”. (Jesús Martin Barbero- lIvro Exercícios do Ver)
Diante da amoreira aqui no Brasil e das “almendreiras”chilenas, com alunos do ensino fundamental a reconhecerem as árvores e os frutos, observações raras nesses tempos de universalização de certos padrões de vida e de consumo a provocar nosso déficit simbólico.
Na marcha contra a corrupção no Rio de Janeiro e os movimentos em defesa do meio ambiente no Brasil, assim como as marchas estudantis do Chile, um prenúncio de início de processo para que os cidadãos tenham o poder de decisão, sendo que para compreensão da necessidade de mudança nos padrões de desenvolvimento a educação tem papel preponderante.
Desde os lugares, locais com seus arranjos para superação das desigualdades, até o movimento gerado pelas redes de agregação de pensamentos e ações para desenvolvimento é necessário pensar dentro das novas estruturas comunicativas, porém potencializando os elementos endógenos, para conectar universalmente o local ao global com suas amoreiras e “almendreiras”, para não cairmos na armadilha de uma sociedade composta de inforricos e infopobres, na real condição de viver sem condição nenhuma de estabelecer como indicador de nossa evolução o índice Felicidade Interna Bruta de nossas nações estabelecidas pelos pontos geográficos, localidades e territórios - rede
Gonzalo Riquelme – Estudante de Geofísica da Universidade de Concepcion – Chile
José Luiz Adeve (Cometa) – Núcleo de Comunicação Comunitária SmnoAr - Brasil
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