"Vivemos em uma condição digital, imersiva, cognitiva. O digital representa a segunda fase da eletricidade, a fase cognitiva: aquela na qual a eletricidade se expressa na tela com linguagem e na qual esta funciona também como modificador da mesma linguagem " (Derrick De Kerckhove)
No display do metrô a hora certa, tempo e deslocamento do ser humano pela cidade na multiplicação de cronotopos com as imagens aceleradas pelos passos, antes telas - janelas, multi - telas, janelas do vagão a 55 km por hora.
Caminha o ser citadino na urbe com seus vãos e perspectivas na projeção das imagens, entre prédios da avenida Paulista, o azul do céu. Levanta a cabeça e percebe as nuvens a se movimentarem e, num olhar panorâmico, avista as torres de rádio - difusão. O celular toca. Uma mensagem. Imagem de um lugar, ponto, não sabe denominar, perdera talvez o significado do termo local, antes sociologicamente associado ao conceito de um espaço com relacionamento sociais estreitos.
Nosso personagem agora na calçada observa propaganda, o ônibus a apressar a bicicleta, os corpos humanos com seus sapatos, os outros pés com roda e tantos outros pés com sapatos e corpos com asas. Hélices de um helicóptero invadem o espaço ruidosamente, a produzir timbres na música tecno - humana, com intervalos e interrelações de escalas, numa espécie de aporia sinfônica, e tessituras fundidas à campainha do celular e aos gritos hormonais dos adolescentes.
Ele perdera a sensação de lar ou todos esses pontos de não - lugares seriam lares. Não compreendia a relação com os outros seres, nem as referências simbólicas até então conhecidas e agora quase sempre mantidas por inanimados objetos ou formas arquitetônicas, naquela via, espaço, denominado avenida pela linguagem. E as formas desse possível não - lugar eram alusivas e identificadas aos tempos - espaços - leituras antropológicas, correndo os riscos da captação de sensações somados aos conceitos pré - existentes de que ao pesquisar, estivesse ele, pós humanamente falando, acima do objeto de estudo. Porém persistia a evidência de que tudo estava em tudo.
José Luiz Adeve (Cometa)
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