quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Educação para vida, novos desafios e a iniciativa da Carta da Terra
A palavra “Abad” vem do hebreu significa trabalhar
ou servir e “shamar” é guardar, cuidar que também nos remete a pensar em
cultivar e consequentemente preservar, sendo que sustentabilidade tem muito a
ver com isso tudo.
A escola tem que cultivar socialmente,
diríamos socioambientalmente, o que
envolve uma nova maneira de educar, inclusive com o reconhecimento das novas formas
comunicativas do habitar e a necessidade de um outro “relacionar-se”. Isso evidencia
uma educação que influencie o modo como vivemos e habitamos.
Tivemos e temos evidências da necessidade de não
mais nos colocarmos no centro de tudo, porém insistentemente não reconhecemos
que o retorno à natureza, como observa M.Serrres,¨”implica acrescentar ao contrato exclusivamente social, a celebração de
um contrato natural de simbiose e de reciprocidade e que devemos esquecer a
palavra ambiente, pois ela pressupõe que nós, humanos, estamos no centro de um
sistema de coisas que gravitam à nossa volta, umbigos do universo, donos e
possuidores da natureza...”
Filosoficamente, devemos abandonar o quanto antes,
a direção e o rumo imposto por Descartes, pois nossa condição passou a ser
necessariamente geocêntrica, numa dimensão que contrapõe o antropocentrismo da
cultura ocidental e, percebemos, com as experiências vividas num canto do planeta
em escolas localizadas nas “quebradas do mundo” que a forma comunicativa
unidirecional, que caracterizou os fluxos informativos, foi alterada pela
própria dinâmica da comunicação que demanda também uma nova educação, uma
educação para a vida, e consequentemente a urgência de um novo léxico
social.
Hoje necessitamos de provocações, reflexões e uma
pedagogia que não somente reflita sobre as relações que acontecem na superfície
da terra, mas também sobre as relações que acontecem abaixo das cidades, as
matérias primas, opções energéticas e suas implicações, pois tudo isso é
fundamental e pressupõe uma ecopedagogia para a construção do imaginário social, a qual
as crianças, os jovens e os adultos navegam e vivem, pois viver é preciso e
mobilizar-se para que haja equilíbrio também é preciso.
Além disso, é necessário, pensar e agir para a
percepção e o reconhecimento da dimensão aérea e espacial, a comunicativa, e
aquelas que atravessam o subsolo, as bandas largas, os cabos, a telefonia,
wireless, forma elétricas e digitais contemporâneos, com seus conteúdos
tenconpoieticos, além da quadratura de Heidegger que significa permanecer sobre a terra, sob
o céu, diante dos deuses, e em comunidade com os mortais.
Precisamos construir uma educação e
consequentemente produzir conhecimento a partir de uma inteligência
ecossistêmica, com uma qualidade de conexão social, não de comunicação com o
ambiente, mas de comunicação no ambiente, o que envolve atenção às emissões de
CO2, derretimento das geleiras, poluição dos rios, a maneira como nos
deslocamos na cidade, as práticas de reciclagem, separação do lixo e, nossas
formas de viver coletivamente, renovação do pensamento social e
consequentemente a necessidade de um léxico social.
Para tanto é necessário que os atores da
educação atuem também na dimensão interativa e digital, estimulando o olhar
para o território, num circuito conectivo, numa cultura do habitar, numa
espécie de uma aprendizagem sem um centro, mas com pontos irradiadores
colaborativos, somada à vontade política. Nasce consequentemente uma educação
que sempre reconhecerá o período epimelético humano, mas será determinante para
emancipar socialmente o indivíduo, numa transvaloração necessária para
romper com uma lógica predominante, no
mínimo desde o renascimento.
A Carta da Terra só fará sentido se estivermos
dispostos a compreender a potência das “práticas
da vida comum, das culturas jovens viventes, num cosmos, o qual diversos
elementos se entrelaçam e se inter-relacionam” para provocar uma
descontinuidade simbólica e uma desadaptação do valor criativo, na construção
de um viver que consiste uma teia, criando uma profunda transformação na nossa
relação com o território, inaugurando uma nova condição habitativa, numa ousada
intenção na qual um letramento um letramento político - ecológico é essencial.
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