O segredo comunitário e as novas formas de participação na sociedade
Vivemos a intensidade de paixões e sentimentos, um paroxismo que muitas vezes oscila entre o auge e a angústia. Somos um pouco do Angelus Novus de Paul Klee. Fazemos uma pausa, depois seguimos adiante, mas nossa cabeça está ligeiramente voltada para trás, num eterno presente, permitindo pensar o que é a luz do q se foi, e nossa gente também são os pássaros, as árvores e aqueles os quais procuramos nos aproximar por amor, desejo, necessidade, vontade..
Vivemos nesses tempos que muitos denominam como pós
– modernos, uma evidência de que o “eu” de cada um só passa a existir em função
de um “eu” coletivo. Nossas histórias individuais só passam a existir para cada
um de nós, quando identificadas com tantas outras histórias de tantos outros.
Estruturamo-nos ao redor de ideias e afetos comuns e a existência de si a
partir do outro e do todo relacional indica o retorno do ideal comunitário.
Mesmo o que julgávamos conspiratório e
aparentemente fragmentador do ideário participativo na sociedade, como as
deduções sociológicas perenes e imperativamente eruditas, nos leva, agora, a
uma vontade de não querer o pré – estabelecido, um modo de viver na sociedade, advindo
de conceitos nascidos a partir de um contrato social que não mais atende nossas
necessidades ecossistêmicas.
Um “viver teimoso” nos cantos do mundo persiste,
por parte daqueles, e não são poucos, que não desfrutam das benesses de uma
sociedade fundamentada em valores do “ganha – perde”. Assim manifesta-se até
mesmo, por exemplo, a exacerbação da
sexualidade, pois há uma potência nesse viver teimoso (Eros) e num ambiente ecológico, justificados como
fenômenos estéticos (Nietzche).
Os gestos nos fazem e, até mesmo quando ocupamos a
rua, para contribuir com a tal comunidade localizada, compartilhando imagens,
atitudes e demais ações políticas para melhorar um lugar da biosfera, esse “ajuntório”
se torna subjetivo, aproximando gentes e objetos, gentes – gentes, numa
convocação de vontades, e uma teatralidade onde todos se veem em todos, pela identificação
das histórias com dificuldades sociais e narrativas comuns, como a das novelas,
das tribos, até mesmo na cumplicidade de aspectos positivos e negativos, dentro
do processo de resolução do imediato, como o de viver dentro do rio, conviver
com os desastres do espaço urbano e tantas outras desventuras advindas da
desigualdade gerada por um modelo de desenvolvimento imposto a duras penas.
Os sons, os ruídos, as músicas em alto volume que
integram as pessoas, até mesmo as reuniões extasiantes dos religiosos, por
exemplo, também, de certa forma desintegram o que seria separação e estímulo ao
individualismo, também evidenciam o fim deste, e a volta da vida coletiva
(tribos, comunidade localizada), herança de um arcaísmo que se funde com as
novas tecnologias, num self orgânico, para além de um self conceitual, além de
tantas outras manifestações juvenis em suas raves, baladas, festas, redes
sociais que também compõem uma religação afetual.
Assim, surge a necessidade de estabelecer as
relações entre todos os seres para uma dinâmica que consiste em estar no
ambiente e ter a responsabilidade pela vida, desse presente substancializado
pelas virtudes e erros, sendo que para tanto a educação aliada à comunicação tem
papel preponderante, não para definir perenidade e condições admitidas por um sistema
ultrapassado, fundamentado no “ganha – perde”, mas para evidenciar os saberes e
a culturalidade, nascida na criatividade e nas ações de superação, provocando
reflexões, a partir de provocações para um exercício de olhar orgânico e mudança
orgânicas da oikonomia.
Educação como significado de pensar e juntar ações
para a compreensão da potência das práticas da vida comum, das
culturas jovens viventes, num cosmos, o qual diversos elementos se entrelaçam e
se interrelacionam para provocar uma descontinuidade
simbólica e uma desadaptação do valor criativo predominante, na construção de um viver que consiste uma
teia, criando uma profunda transformação na nossa relação com o território,
inaugurando uma nova condição habitativa, numa ousada intenção na qual um
letramento, digamos um letramento político - ecológico é essencial.
Talvez o segredo comunitário seja um pouco da
volta do conhecimento instintivo, um privilegiar da familiaridade,
características das proximidades localistas, nesses tempos em que as
tecnologias de comunicação e de informação criam não mais indivíduos
inteligentes, mas redes inteligentes, compostas de pessoas em grupos, tribos, a
ambiência é propícia para novas formas de participação na sociedade.
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