domingo, 8 de fevereiro de 2015
Toda
manhã é um início para aprender e ensinar
A manhã é sempre um início a percorrer caminhos, ruas e trilhos.
Assuntar-se com os humanos e com os pássaros a revoar o espaço urbano.
Ver e admirar a capacidade de sobrevivência dos arbustos
a margear solenemente a VIDA e, no Brás,
na primeira parada, refletir e pensar a cidade,
sua organicidade e alma.
A vida nos fez
pensar, estudar e se dedicar aos processos e ações colaborativas e de produção
de conhecimento coletivo, para tentar compreender e atuar nos espectros da
educação e da cultura, consequentemente toda a criação e produção de seus significados,
a partir de contextos, experiências, ideários de equidade e de formas de desenvolvimento
de cada lugar em sintonia com as relações interculturais, historicidade e,
mesmo com as interrupções das políticas mais humanitárias para beneficiar escaladas
do poder desse ou daquele grupo que detém o poder, interpenetrado na “hegemonia do grande capital monetário, hoje
dominante e dirigente (1)” a estimular, coercitivamente a produção de
subjetividades que também passa a alimentar o modelo desenvolvimentista
insustentável de nossa contemporaneidade, resistimos.
Numa sociedade de
excessos a comprometer interações políticas para um bem viver coletivo, invade-se
cabeças, mentes e corações induzindo, sobretudo crianças e adolescentes, a
escolhas que retroalimentam estímulos para multiplicação de piscofluídos
mercantilizantes com suas características e potências influenciadoras.
Todos passam a
produzir subjetividades geradas nos excessos de estímulos. Empreendedores,
somos assim denominados. Podemos alcançar tudo e, incentivados a ultrapassar a
escassez e falta de um estado invadido pelo poder regulatório do mercado a
reger nosso verbo, oração, nosso período coordenado e subordinado, passamos a
ser também a energia que alimenta o insustentável modelo de viver e se
desenvolver.
Faz-se necessário
ver, sentir, intervir no espaço – território – comunitário como lugar
germinativo de inovações, onde se irradia a expressão, as ideias, a
resistência, a voz e o olhar de cada um, numa composição de diversidade. Nesse
lugar as pessoas precisam ser estimuladas a conhecer mais, intervir socialmente
e apresentar a devolutiva do que seus olhos e demais sentidos captam para suas
comunidades, numa dinâmica intercultural, num movimento necessário sem um
centro, uma espiral conectiva.
Percebemos a que
essa visão, citada acima, de espaço – território se destina e, num desses dias,
tivemos a oportunidade de viver esse significado numa atividade provocativa de
um professor que insiste em ser um não – professor, uma verdadeira sessão para
criação e produção de “selfies”, sim essas exposições dos adolescentes na
internet, só que para convocar vontades políticas e definitivamente levar para
a rua, não só para as mídias sociais, levar para o espaço público, pois é nesse
espaço onde realmente existe a energia transformadora para interromper fluxos
de dominação:
“eu
dentro de casa;
eu
em casa, dentro da comunidade;
eu
na casa, na comunidade, dentro do bairro;
eu
na casa, na comunidade, no bairro, dentro da região;
eu
na casa, na comunidade, no bairro, na região dentro da cidade;
eu
na casa, na comunidade, no bairro, na região, na cidade, dentro do estado;
eu
na casa, na comunidade, no bairro, na região, na cidade, no estado, dentro do
país;
eu
na casa, na comunidade, no bairro, na região, na cidade, no estado, no país, no
continente;
eu
na casa, na comunidade, no bairro, na região, na cidade, no estado, no país, no
continente, dentro do planeta:
eu
na casa, na comunidade, no bairro, na região, na cidade, no estado, no país, no
continente, no planeta, dentro da via láctea;
eu
na casa, na comunidade, no bairro, na região, na cidade, no estado, no país, no
continente, no planeta,
na
via láctea dentro do universo;
Temos e não mais
guardamos, comunicamos a certeza de que queremos também republicanamente um
“progresso” que seja civilizatório, pois verificamos, nesse momento, como diz
Martí Peran, Professor da Universidade de Barcelona que “...o
progresso pode ser não civilizatório. Pode haver um
progresso que não concebe maiores doses de civilização. Portanto, quanto maior
conhecimento que temos em termos históricos, acumulativos, pode ser que seja a
hora de retroceder em muitos âmbitos, não necessariamente em termos de
crescimento, mas em diminuição de ritmo, em revisão da globalização,
recuperando a ideia de localidade,
em termos de revisão de expectativas, avaliando o que é necessário e o que não
é necessário.
Se cada
grupo que assume o governo tem uma visão e uma concepção de que sujeito quer
formar com suas especificidades de desenvolvimento pleno, que bom seria se as
cidades passassem a dar sinais de mudanças de paradigmas na educação, que não
sobrevive sem a potência cultural e simbólica e a superação, dentre outros
aspectos, da restrição da formação ao mercado e aos seus interesses. Desconfio
que minha cidade, depois daqueles áureos tempos de Paulo Freire, deu alguns
sinais recentemente de mudanças paradigmáticas.
Alfabetizar,
interdisciplinarizar e intervir com os saberes advindos das descobertas e da
interculturalidade da cada lugar da cidade, é uma proposta e uma tarefa
admiráveis em meio à interpernetração de unificação e homogeneização para a
produção de um consumidor genérico no mundo.
Diante da
propagação e divulgação da visão de que o mercado é uma força transformadora
que carrega e dissemina seus próprios valores, dentro de uma lógica
condicionante de fazer os indivíduos desejarem aquilo que dá sobrevida a um
modelo insustentável de viver junto, reprocessam-se famílias, crianças,
educadores, agentes locais. Urge então uma contraposição da escola, também de
tantos outros espaços, com ações, processos e dinâmicas para incluir o território
em seus caminhos, itinerários e referenciais curriculares, para fazer frente à lógica
condicionante de homogeneização para a produção de um individuo genérico,
apesar de que o que se vende é: existe um fetiche – objeto com a cara de cada
um.
Vivemos, nesses tempos, em função do modelo,
inclusive na escola, em que a competitividade e os rankings, muitas vezes,
encorajam o individualismo competitivo e provoca o risco de eliminar os espaços
que possibilitam a reflexão e o diálogo sobre a vida, o viver junto, a
coautoria e a corresponsabilidade, princípios essenciais para o nosso habitar.
Assim, como
um educador, nessa manhã que se inicia, também como bardo, brado: educadores e agentes culturais comunitários
dessa cidade correi. A hora é agora, vossa contribuição
política-cultural-pedagógica é vital para que a cidade, consequentemente cada
localidade, possa ser vista e vivida como uma forma sensível de civilização.
(1) Virginia Fontes - Intelectuais e
mídia, quem dita a pauta
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