terça-feira, 28 de março de 2017
Habitar,
Morar, Viver e Perceber
1ª Reflexão a partir da leitura do
livro “A Cidade como negócio”
de Ana Fani Alessandri Carlos, Danilo
Volochko e Isabel Pinto Alvarez
Esperar quem, para quê,
não é assim que funciona com os grandes?
Aqui nesse espaço que ocupamos,
além de morar, posso construir e alugar.
Se a várzea é do rio e ninguém respeita...
Aliás, o que eu faço e penso é bem parecido
com o que fazem e pensam as grandes construtoras.
(Pedreiro e construtor de casas em
área de ocupação)
“O conceito de produção do espaço
parece afastar constantemente a ideia do solo (urbano, sobretudo), com algo
finito, não reprodutível, absoluto, e mesmo a propriedade privada do solo nessa
perspectiva dialetiza-se ao ser entendida como título negociável de um espaço construído
e reconstruído, um espaço – mercadoria que se valoriza de acordo com o processo
socioespacial, sendo ainda (a propriedade privada do solo) o pilar das
desigualdades. (Danilo Volochko – Professor Doutor em Geografia – Geografia Humana
– Universidade de São Paulo)
Habitar, morar, viver num lugar, relacionar-se,
perceber nas bordas da cidade que a moradia passou a ser produzida como negócio
urbano, com incorporadoras que na maioria das vezes desconsideram a política
urbana e acabam contribuindo na reprodução de periferias, com processos de
valorização do espaço, espoliação e segregação socioespacial.
Vivemos um processo de periferização e metropolização
em que a produção de habitação integra uma das modalidades de valorização do
espaço, dentro da dinâmica de produção do urbano. É necessário um estudo sobre
as trajetórias fundiárias dos terrenos almejados para produção de habitação,
entender os processos e as estratégias de agregação urbana e imobiliária que
envolve verticalização, espaço – tempo de construção e também os deslocamentos
das populações pobres.
Os preços dos terrenos no espaço urbano subiram e
muitos lançamentos imobiliários se voltaram às periferias, muitos
empreendimentos localizam-se bem próximos de áreas de ocupação, sendo que uma
delas é a Várzea do Tietê da Zona Leste de SP. Necessitamos então, isso seria
um trabalho de geógrafos e urbanistas, de um estudo no sentido de revelar a
prática socioespacial (re)produzida, a partir da escala do lugar, ou dos
lugares, e nos últimos 10 anos ocorre uma certa constituição de espaços urbanos
que se tornam habitáveis e públicos com sub-habitações que também ganham lastro
entre os mais pobres, pois trata-se de um lugar para estar, permanecer, viver,
alguns enquanto for possível...
Considerando que os espaços urbanos, localizados
em áreas como a Várzea do Tietê, pouco a pouco passaram a ser disputados pelos
mais pobres, tornando cada vez mais distante pelo custo elevado de operações
urbanas quaisquer intervenções do Poder Público, pois este não tem condições de
garantir os investimentos em sociespacialidades, até mesmo em localidades em
que a presença do estado é verificada pela presença de equipamentos públicos de
educação, saúde e assistência, por exemplo, vive-se assim diante de um desafio
que necessita de estudo, ação e mobilização para encontrar alternativas para
essa complexa anomalia socioespacial.
Desde 2008 estamos a assistir uma privatização da
política urbana, com programas como o Minha Casa Minha Vida com participação
intensa de grandes incorporadoras em todas as fases, considerando que, no
déficit habitacional brasileiro 89,6% diz respeito às famílias com renda mensal
de 0 a 3 salários mínimos, observando que para faixa dos mais pobres há uma
contradição, para ela têm sido contratados menos financiamento, além disso a
produção de habitação popular passa a ser tratada como uma mercadoria, e isso
tem implicações que podem ser desfavoráveis.
Uma das implicações é que as habitações populares,
o mercado popular, têm suas plantas simplificadas, para atender grandes escalas,
como também da estrutura geral da obra, do acabamento e das instalações. Isso
provoca uma piora da global da moradia, que apesar da da rapidez que compromete
a qualidade do projeto, em função de um certo “queimar de etapas”.
Dentre outros pontos abordados pelo livro “A
cidade como Negócio, percebe-se claramente que a urbanização e a produção do
espaço urbano são entendidas, na maioria das vezes, como simples resultantes do
desenvolvimento econômico nas cidades. Entender o espaço não apenas como
matéria prima, mas como mercadoria que se valoriza segundo dinâmicas
propriamente urbanas/espaciais e financeiras é necessário para aumentar a compreensão
e contribuir para processos e ações que possam contribuir para a redução das
deisgualdades socioespaciais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Postar um comentário