Núcleo de Comunicação Comunitária SM no Ar

Crônica do Cometa
Reflexão sobre pássaros e espaço

Os pássaros, que vejo no Jardim da Luz, remetem a tantos outros pertencentes a lugares e épocas distintas, como se por momentos estivesse eu em um museu de história natural, a partir dessa sensação que me leva a constatação que vivo num espaço como extensão e não mais de localização, numa heterotopia temporal, nessa co -presença topológica, nesse tear de experiências, idéias, visões, a nos transformar e, ao ouvir, os primeiros cantos dos sabiás que antecedem a primavera, após ter visitado tantos pontos na noite de ontem do cyberespaço a partir de um mciro – computador, noite em que a lua assistira as montanhas de memórias recentes, tenho a sensação de que potencializadas estão, pelos veículos móveis e audiovisuais, as nossas relações com o espaço.

Não há lugares hierarquizados, tudo é extensão, e nossa inteligência cerebral é somada às de nossas línguas, culturas, observação de pássaros, de nossos banhos nas cachoeiras e, toda a nossa relação com o sol (nosso olho), redes, nosso corpo, tudo dentro e fora da gente.

Sim, tenho certeza da importância de ver, sentir e estudar os pássaros, todos juntos no Jardim da Luz ou na floresta, mas percebi provocado pela leitura recente de um artigo de André Parente (livro Tramas da Rede), que ao separá-los e levá-los a um centro de estudo, posso deduzir um novo saber, apesar da consciente perda de tirá-los do ecossistema que pertencem, mas o estudo criaria um “nó”, sim, um novo arranjo entre o próximo e o longínquo.

Assim percorreria outros sentidos, outras dimensões, integraria um arranjo de infinitas possibilidades de produção de conhecimento, também revelados pela poesia de um momento de deslocamento pelas ruas de minha cidade, sensibilizado pelo canto dos pássaros, pelo aprendizado que um livro me traz, a viver essa certeza de que o aprender e o apreender são infinitos nessa contemporaneidade com seu letramento multi – dimensional.

"No silêncio do pensamento, já percorremos hoje as avenidas informacionais do Ciberespaço, habitamos as imponderáveis casas digitais, difundidas por toda parte, que já constituem as subjetividades dos indivíduos e dos grupos. (...) Ele traz consigo maneiras de perceber, sentir, lembrar-se, trabalhar, jogar e estar junto". (Lévy,1998:104/105)