A flor da amoreira se abriu. Os últimos frutos tive o prazer de saborear, lá na Aclimação, mas que grata surpresa ver a flor. Eu que não me banhei no Tietê, e que sinto e tenho pelo rio sensações e uma relação com diferentes significados, das que meu pai tinha quando remava, nadava e levava seu corpo do pó de carvão, e se sentia livre pra imaginar o que realmente queria ser, naqueles tempos paulistanos da “caverna de lavore”.
Mas e Claudete? Que tem na memória aguas de banhar corpo, águas de lavar roupa em tantos outros rios, ou quem sabe, somente um rio imaginado e formado por infinitas águas, que podem ser da nascente dos olhos lacrimejados por ter de partir, ter de chegar, ter de ficar, se adequar a outras formas de viver, com tantas maneiras de se alimentar, com o que se tem na Urbe.
Muito do que se tem por aqui, altera, modifica o modo de ver, permanecer, consumir e ficar, assim de um jeito que “viche”, lá no Piauí, Claudete caminhava tato para ir à cisterna ou ao açude, ou ao rio e “aqui dá uma moleza de ter que até o outro lado da linha do trem”.
Sim, são tantas linhas, vias, espaços com roupas penduradas ao lado da ETD, no caminho do trem. Barracos, favelas que se deslocam, após a incineração e o que resta é lixo acumulado, ou o parque ora linear, ora não linear, as casas vazias, a separação dos que se juntaram...
Peço desculpas ao querido leitor, pois olhei momentaneamente pela janela do trem, e avistei uma Vila Prudente demolida, negligenciada por tantos poderes, entre córregos, ou simplesmente entre outros rios, que não os de meu pai, nem tão pouco de Claudete, bem, mas isso é a nossa história de antes de encontrarmos algum modo para superar as adversidades, a partir da criatividade e das tecnologias comunitárias, nascidas nos arranjos locais, fiquemos atentos.
Ah, meu Tietê, meu rio, do outro lado, do mesmo lado, ou dentro dele, a banhar em dias de chuva longa a Universidade pública quase de uso privado, as ruínas do Ermelino e “nitro – sensações da degradação da Vila Nitro Operária.
Não adianta chorar o óleo derramado e o modelo de desenvolvimento equivocado, nem lamentar o mau uso dos programas de distribuição de renda. O momento é trabalhar a produção e compartilhamento de conhecimento voltado à redução do consumo, ao consumo consciente, e ser um ser culturalmente diverso, a repensar atitudes, ações e intenções, para harmonizar as necessidades da vida com os recursos do nosso planeta, sem danos ao meio, na sua totalidade. Para tanto, reduzir o consumo, aprender a reutilizar e reciclar é preciso.
Postar um comentário