quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Constituição, educação e eleição – o tripé da cidadania.
por Célia Araújo de Carvalho
Aluna de GPP 2010 noturno – EACH/USP
A experiência do último processo eleitoral sugere uma reflexão do “fazer educativo” em nosso país, visto que são nessas práticas sociais que se depositam muitas expectativas – e porque não dizer responsabilidades - sobre a construção do ideal de cidadania. Ao mesmo tempo em que se credita essa premissa, evidencia-se um distanciamento da sua compreensão na grande maioria dos eleitores - relacionado ao conhecimento do poder instituído no sistema político nacional e a relação jurídico-administrativa aos quais estamos submetidos sob prescrição da Carta Magna de 1988.
A inadequação argumentativa sobre o espaço de decisão e conseqüentemente da possibilidade de escolha individual no sufrágio se dá porque o eleitor não relaciona a significação da regulação constitucional ao eixo indicador das nossas condutas para uma existência coletiva de direitos e deveres. Portanto, que consistência do sentimento de nação nós poderemos esperar quando encontramos uma sociedade incrédula das instituições públicas, que sem o devido controle social reforça uma distância da interação povo-governo-Estado e em negação à essência democrática?
Para além da segurança do voto pela utilização dos avanços tecnológicos materializados na urna eletrônica e os respectivos controles de apuração, tornam-se notórias as influências “determinantes” de instituições religiosas, midiáticas, empresariais, e também educacionais na vontade da população, que tem por resultado um não convencimento pessoal da qualidade, da legitimação dos poderes e do bom andamento do governo no país. Essa descrença de avaliação e possibilidade de alteração do corpo político pelo voto é traduzida tanto pelas dificuldades do reconhecimento das diferentes propostas partidárias e suas respectivas análises (conteúdo e representação) quanto pela ignorância e/ou descaso desse ato e sua relevância política, portanto, por dificuldade de leitura de mundo – fundamento precípuo da Educação.
Na educação brasileira, a predominância conservadora do conteúdo científico pouco alinhado com as reflexões do cotidiano reforça a reprodução do status quo, fato oposto a indicação de inúmeros educadores renomados que apontam a necessidade de significação dos conteúdos associada a uma ambiência interativa para a auto-regulação da apreensão da realidade, em aspectos estruturais, políticos, econômicos e sociais, como primordial para a aprendizagem. Portanto, enquanto as preocupações educacionais formais e não formais estiverem voltadas para avaliações de desempenho (resultados), tanto dos sistemas numa perspectiva coletiva quanto na qualificação por mérito numa perspectiva individual, as práticas tendem a fragmentação do conhecimento e sua desarticulação, essa última sujeita a outras e incertas oportunidades de concretização.
A solução poderia estar na inversão da análise e compreensão da vida social sob a luz da Constituição Federal, apresentada a cada cidadão brasileiro, desde a educação infantil até o nível da pós-graduação, como eixo transversalizado pelos conteúdos científicos historicamente elaborados e não o contrário, dando-lhe ciência do seu papel na construção consciente e desejada de uma nação.
São Paulo/SP, novembro de 2010.
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