
Eu não estudei porque eu não tive mãe, fui criada em uma creche, não tinha aquela força de vontade e não tinha ninguém para me incentivar, morava só com meu pai e mesmo assim ficava a maioria do tempo na creche.
Sempre morei em São Paulo, nasci na Bela Vista. Aos 13 anos meu pai faleceu, então eu não quis mais estudar mesmo. Um dia me colocaram numa escola e eu fiz até a 1ª série, depois não quis mais, porque, na verdade, eu pensava em outras coisas, menos estudar. Depois fui trabalhar na Unicsul, só que lá, eles exigem que a pessoa seja alfabetizada, ou que estude. Por exigência deles eu fiz até a 4º série, mas mesmo assim muito corrido, preocupação com os outras coisas, não dava para ficar estudando. Aprendi algumas coisinhas...
Após um tempo eu entrei aqui no EJA (Estudo para Jovens e Adultos) e aprendi muito, muito mesmo, e pretendo continuar aqui, por que muita coisa que eu não sabia, hoje eu já sei, posso dizer que aprendi demais. Eu errava muitas palavras e melhorei muito. Na época da infância, também, acho que faltou alguém para me incentivar. Nem de amigos, nem de pais, de ninguém eu tive incentivo para estudar, porem também foi falta de interesse da minha parte.
Estou com 64 anos, se aquela época fosse hoje, eu teria feito muita coisa, mas como eu não tive a orientação de ninguém eu fui só pela minha vontade, mas também eu sei o que sei hoje pela minha própria vontade. Aprendi o que a vida me ensinou e não quero parar por agora não. Quero continuar estudando e aprendendo cada vez mais.
Quem não tem estudo, hoje em dia, passa por muitas dificuldades, eu acho tão bonito a pessoa que sabe ler e escrever. Eu sei ler só o básico, mas no EJA estou aprendendo cada vez mais. Agora nós estamos aprendendo a mexer no computador, tenho computador em casa porque minhas netas usam, mas eu nem sabia ligar, agora vindo aqui no EJA já sinto uma evolução muito grande.
Estou sempre incentivando minha filha e minhas netas a estudar, uma das minhas netas já está na faculdade e isso é um orgulho muito grande. Coisa que eu não pude fazer, elas podem, apesar de que se eu quiser fazer uma faculdade agora eu posso, eu tenho capacidade para isso.
Sou uma fundadora do Lapenna, quando cheguei aqui era tudo rio e lagoa, não tinha luz e nem água, não era asfaltado, eu tinha mais ou menos 17 anos. Vim com uma colega e nunca imaginava que o Lapenna seria o que é hoje, eu vivi o Lapenna de antes e vivo o Lapenna de agora.
Rita Ismeria Leite
Moradora do Jardim Lapenna
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