“Sabiá que apesar de só cantar na primavera,
canta tanto quanto os de lá”
Claro que não se trata de demonizar as estratégias do “mercandejar cultural”, mas admitir que as ações do poder público devem ir além da formação de público, das palavras de ordem, multiplicar bibliotecas, em vez de promover inovações, gerar nos tempos largos da educação o entrelaçamento e compreensão desse tear de linguagens, aliás, nos tornamos seres multi – sensoriais em relação às plataformas artísticas – culturais multifacetadas pelas tecnologias e necessitamos de políticas públicas além dos incentivos para produção artística,que por mais aperfeiçoados não evitam o compadrio estatal e empresarial, por razões óbvias de exposição de imagem dos certificadores e incentivadores, respectivamente, associadas às necessidades do capital cultural em prol da fidelização do consumo de tantos outros bens, além do cultural.
Ana desculpe a liberdade de lhe chamar sem nenhum pronome de tratamento adequado à condição de Ministra, é que minha admiração por você data de quando foi Secretária de Cultura da Cidade de Osasco, momento em que as pracialidades, os espaços públicos foram ocupados pela arte, no prenúncio de irradiar a riqueza da diversidade cultural de um ponto, nesse fractal de expressividade de tanta gente, inclusive daqueles que não se autonomeavam artistas, enquanto tantos outros buscavam estruturar obras e manifestações em formas de empreender, intenção que não condeno muito menos julgo prejudicial, mas a maneira exaurida e concorrida fez com esquecessem de religar linguagens, algo não esquecido, aliás utilizado estrategicamente também como o uso das novas tecnologias , como já disse, nessa carta, pelos detentores e controladores do capital cultural composto também pelo entretenimento.
Para os grandes grupos da industrialização cultural não faltou inteligência, sendo que para nós, latino – americanos - brasileiros, com olhos, ouvidos e sentidos içados e açulados pela multi – midiatização vivíamos naquela década de 80, a pura fase da criação e produção sem, por tendências ideológicas, incentivar o diálogo das linguagens nos novos tempos – espaços que a educação precisava viver e não viveu, não dialogou com a cultura, talvez isso se deva a um trauma da designação e do nome do ministério nos tempos da ditadura.
Trinta anos se passaram e estamos diante de uma nova perspectiva identificada com esse momento, em que uma cantora, uma pessoa especial, passa a ser nossa parceira nesse complexo espectro da cultura. Desejo-lhe uma gestão sábia, e tenho certeza de que avançaremos muito no que diz respeito às políticas culturais, nessa terra de palmeiras onde canta o sabiá, que apesar de só cantar na primavera, canta muito, tanto quanto os de lá.
São Paulo 23 de janeiro de 2011, quase aniversário de minha cidade.
José Luiz Adeve (Cometa)
Poeta, músico e radialista
Postar um comentário