
Percebemos a nossa multi – sensorialidade humana e resistimos.
Ensaio sobre o que se vê, escuta, se sente e se pressente
Ser cronista, leitor, expectador e internauta ao mesmo tempoNa manhã paulistana após ler sobre a comunidade Tumbiras, lá na Amazônia, que priorizou a educação e, para tanto a educação à distância, a tecnologia digital e a comunicação foram preponderantes, além de, é claro, a mobilização, participação comunitária e uma forma de educar inovadora do lugar que pensa nas gerações futuras (http://www.fas-amazonas.org/pt/noticia/A-88-Casa-Digital-inaugurada-na-comunidade-do-Tumbiras), penso que talvez na urbe possamos avançar e, como faço parte de um coletivo que estuda a relação e a imbricação da educação com a comunicação voltada à sustentabilidade, reflito sobre o que ocorre no processo de democratização das comunicações. É que nesse momento ouço o rádio. Aliás, há momentos que somos expectadores, ouvintes, leitores e internautas, quase que ao mesmo tempo.
Na rádio, emissora local a qual escuto dentro do trem, ainda com a sensação do que acabara de ler, escrito por Néstor Garcia Canclini, de que o corpo sempre foi o portador da cultura com posições, atitudes, vestuários, pinturas a identificar etnia e, com as tecnologias de comunicação aumentou a capacidade de portabilidade cultural", um dirigente do Sindicato dos Feirantes fala à uma emissora de um grande grupo de comunicação, sobre o estreito horário decretado pela Prefeitura de minha cidade para o funcionamento das feiras livres no espaço público e reclama, o representante da categoria, da inoperância da coleta do lixo produzido pelas feiras, sem falar, penso com meus botões, que a coleta de lixo urbana é incipiente, pois apenas 9% do lixo urbano é reciclado.
Avalio como democrático o espaço aberto pela emissora, já que ocupar o espaço com freqüências, ter concessão para tanto, significa ocupar um espectro que pertence a todos os cidadãos, contribuintes, viventes em territórios onde se compreende a soberania e o direito de todos em utilizar as freqüências regulamentadas e produzir comunicação, o que implica tornar público tanto o processo de concessão, quanto de conhecimento e tecnologia voltados à produção.
As propostas de políticas públicas das
comunicações precisam lograr êxitoVivendo um momento voltado a legitimar a necessidade de estudar, criar e organizar com coletivos de natureza comunitária (escolas, organizações não governamentais, movimento sociais e poder público) veículos de comunicação local, penso em relação à legislação excludente aprovada em 1998, a lei 9612, sobre a qual em 2003 foi criado um grupo de trabalho interministerial, que chegou a produzir um relatório, o qual foi neutralizado por interesses de grandes grupos e a repressão às rádios – comunitárias, que não conseguem se legalizar, quase sempre por inoperância do Ministério das Comunicações, aumentou consideravelmente.
Além de tudo isso e com o aumento dos grandes grupos de comunicação contra as Retransmissoras de TV Institucionais, uma excelente oportunidade para o poder municipal transmitir produção de conteúdo de TV do campo público, conteúdo das localidades, e consequente espaço publicitário àqueles que atuam no circuito inferior da economia, portanto dentre outras contribuições para a democratização das comunicações, dinamizaria o desenvolvimento das localidades, sofreu uma drástica derrota na legislação antes aprovada, e essa derrota assegura outros interesses.
A cidade,
a mídia, a imagem, o espetáculo e a qualidade de vida urbana Nós, citadinos dessa urbe, que nos acostumamos inclusive “a ver nossa cidade traduzida pelo marketing urbano, que destina a cidade ao turismo, à captação de investimentos e a competir com outras, mais do que seus bens ou sua cultura, por suas imagens e marcas e somos expectadores de nossa própria cidade” (Canclini Garcia Néstor- Leitores, expectadores e internautas) e, “se o espetáculo chegou para ficar deveria fazer parte de toda definição de uma qualidade de vida urbana, devemos analisar as suspeitas sobre a definição dos espetáculos e assumir que a resistência também faz parte do espetáculo” (Canclini Garcia Néstor- Leitores, expectadores e internautas), pois tudo é feito nesse âmbito também para aparecer na mídia com os protestos dramatizados, os caixas eletrônicos e as vitrines das marcas globalizadas destruídos, do Oiapoque ao Chuí – nacionalmente falando – e do Egito ao Taiti – numa tela pública transterritorial, numa espécie de mundialização da espetacularização generalizada, até mesmo das causas ideológicas que lutam por democracia e que devem utilizar também as mídias sociais e as tecnologias de informação, pois se não o fizerem perdem a substância responsável pelo envolvimento que as tramas da rede permitem.
Bandas e freqüências para consciência políticaSejam bandas curtas ou bandas largas, freqüências em ondas médias ou até mesmo moduladas que além de rever estratégias para propagar marcas associadas ao simulacro espetacularizado que também influencia as ações de responsabilidade social, onde a imagem da ação, muitas vezes, supera a própria potência da ação, precisam estimular o desenvolvimento da consciência política, para que até mesmo Google e Yahoo, esses patrimônios da humanidade possam colaborar, não só como facilitadores de conectividade, no ponto de vista informacional e, com a devida mediação, até de conhecimento, provocar a criação de outros pontos, centros e teias no espectro eletromagnético, permitindo democratizar esse fractal tão necessário, inclusive para que a equidade e a sustentabilidade sejam tão importantes quanto o lucro, em função de que o show continue, reconhecidamente necessário, mas é hora de rever suas tramas e enredos.
Resistimos - a que será que se destina?
José Luiz Adeve (Cometa)
Poeta, músico, radialista
Coordenador do Núcleo de Comunicação Comunitária
Fundação Tide Setubal
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