Substantivar, adjetivar e reconhecer
“Existe um abismo social onde está fervendo uma massa de excluídos, que por fome por miséria perderam suas esperanças, entregues ao desespero causado pelas injustiças fomentando mais violência, seja na forma de guerras ou nesse caos urbano da guerra silenciosa que mata milhares de pessoas cotidianamente onde os inimigos convivem muitas vezes no mesmo teto comunitário, agressor e vítima se confundem na agitação das metrópoles.” (Grajew, 2001:20)
Parece que cada vez mais fica evidente e torna-se legítima a afirmação de que as transformações em nossa sociedade nascem de pontos de atrito, entre um poder institucionalizado e necessidades de mudar seus paradigmas, com a realidade e as iniciativas e / ou alternativas para garantir sobrevivência de seres humanos excluídos e consequente equidade.
Esse poder institucionalizado, quase que totalmente ocupado com a manutenção de uma dinâmica organizacional arcaica, não tem dispositivos para alterar procedimentos, no sentido de se alinhar com as necessidades de alterações de modelos em suas unidades administrativas.
Relutante poder público não incorpora as iniciativas para as necessárias mudanças da lógica sócio – política - econômica da sociedade civil. Esta que metaforicamente, muitas vezes, nos parece uma senhora gorda, jurássica que parece insistir, em não reconhecer a urgência de pensarmos e agirmos para um desenvolvimento sustentável, o que demanda investimentos também de ordem comportamental. Talvez essa “senhora”, substantivada nesse texto, é controlada por uma lógica econômica que pensa pouco nas gerações futuras.
Urgem mudanças intrínsecas a novos desenhos, arranjos locais que podem ser transformados em tecnologias sociais, oriundos e propostos por quem convive com a escassez e por aqueles setores e movimentos dispostos a contribuir decididamente com as transformações sociais necessárias para um “melhor viver junto”. Isso envolve dentre outros aspectos, a consciência política, a participação comunitária e o apoio às ações que fortaleçam movimentos identificados com estratégias democráticas e coletivas para o desenvolvimento das localidades.
Arregimentam-se então estimuladores e provocadores de uma rede ideológica e de alteridades, no sentido de também comunicacionalmente, contribuir para difundir e até repensar, se for o caso, as políticas públicas existentes, além de construir fundos que possam incentivar e organizar as transformações necessárias, para que as pessoas possam empreender mudanças em suas vidas, individual e coletivamente.
Sim, foi nessa perspectiva, concepção e ideologia transformadora que nasceu o terceiro setor. A princípio, intimamente relacionado com causas defendidas por idealistas de movimentos nascidos das perspectivas de desenvolvimento de base comunitária, com propostas e projetos denominados “não – formais”, voltados à educação, habitação, reforma agrária. saúde, cultura, trabalho, economia e tantos outras áreas em que o estado não dava conta.
As anomalias naquele momento, décadas de 70 e 80, adivinham da intransigência do 2º setor, que desconsiderava a sustentabilidade fator preponderante em defesa da vida, diante de uma legislação ínfima e um 1º setor ausente e arcaico, no que diz respeito à necessidade de reformulação e / ou criação de políticas públicas, num cenário de deterioração de nossas unidades administrativas fadadas à tragédia urbana.
O colapso viria com o tempo, não só em nossas grandes cidades, e agora com a contaminação do interior de nossos estados, estes últimos reféns dos interesses de um modelo de desenvolvimento a qualquer custo.
Hoje o terceiro setor tem papel preponderante no processo sócio – político – econômico – ambiental, porém se nascera com o ideal de antagonizar o sistema econômico, hoje vive um tempo, como proponente e provocador de ações, para atenuar as anomalias sociais, sem assumir o papel do primeiro, e precisa ter atenção e compreensão de como estabelecer parcerias potencializadoras para transformação social, tanto com o 1º , quanto com o 2º e entre organizações da mesma esfera e campo de atuação.
do Núcleo de Comunicação Comunitária - Fundação Tide Setubal
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