Dona Ana, sua quitanda e o desenvolvimento local
Todo o dia quando passo pelo Mutirão, lá no Jardim Lapenna, em São Miguel Paulista, Dona Ana me presenteia com alface, salsinha, coentro e manjericão. Cada dia é uma verdura, tem dia que é escarola, outro dia almeirão que ela vai buscar na Chácara da Mãe Preta, lá na Vila Curuçá.
“Caminhada, sou boa das pernas, como é boa verdura de lá, só que o mais difícil é convencer as pessoas de cá e acolá, que o produto é de primeira, bem plantado, bem cuidado, talvez precise tirar o alvará, se não tem os documentos de vigilância e coisa e tal” – observa Dona Ana, propagandeando sua quitanda popular.
Dona Ana vende também algumas frutas e deseja “tirar as papeladas” , para poder participar e desfrutar “das leis”, para nós políticas públicas, voltadas a esse tipo de negócio, que tem tudo a ver, diz ela, “com a sabedoria que nesses dias aprendi, sobre o tal de desenvolvimento local, que ocês explicaram no jornal” – reconhece Dona Ana a importância de se informar.
Penso aqui com nossos aprendizados no dia a dia, com nossas ações e estudos, somados a visita que fiz outro dia, com um grupo de jovens na internet, ao Plano Diretor, mais as descobertas de tantos incentivos que existem e podiam beneficiar, tanto Dona Ana com seu empreendimento comercial hortifruti , quanto a Chácara da Mãe Preta, lá na Vila Curuçá, que falta uma pesquisa sobre as demandas citadinas de cá e acolá, sobre pessoas, negócios e necessidades, infelizmente ainda invisíveis aos olhos do governar e legislar.
Antes de me despedir, dentro da quitanda de Dona Ana, pois para o Núcleo de Comunicação Comunitária, lá no Galpão de Cultura e Cidadania, tenho que voltar, ganho mais um presente, um maço de salsinha, dessa senhora negra, com traços fortes e belos, que me diz “Deus te abençoe, vai na paz de Oxalá”.
Desço e reflito pela rua do Mutirão. Ouço agora mais distante, Dona chamando uma moradora, sim, penso eu, ela vai presenteá-la com verduras da Mãe Preta, lá da Vila Curuçá. Uma estratégia para conquistar freguesia fiel, isso Dona Ana me disse outro dia, quando me ofereci para pagar, “afinal o’cês têm um jornal para eu poder anunciar” – afirma Dona Ana interessada em permutar.
Orientei Dona Ana e outras pessoas do lugar, como por exemplo, os jovens Mário e Thiago, estes já tem uma firma de consertar computador, que no dia 25 de março tem palestra no Galpão de Cultura e Cidadania, sobre empreendedorismo. Trata-se de uma orientação a quem se interessar, de como desenvolver o potencial de negócios, consequentemente a economia do lugar, haja vista que existem órgãos como o SEBRAE que têm muito a nos ensinar.
Ah, vou pedir para Dona Ana, quando for a Curuçá, avisar a Mãe Preta que vai ter Palestra do SEBRAE, e sobre esse órgão que em muito pode ajudar, não só negócios como o de Dona Ana, mas quem sabe agricultura urbana e até mesmo àqueles que produzem ou prestam serviços e que precisam se estruturar.
Quando no trem, outro dia, voltando para São Miguel, depois de ter dormido na Luz, penso também que é necessário, da parte do Poder Público, pesquisar mais sobre o potencial econômico e as necessidades de aprendizado dos empreendedores em potencial, desse e de tantos outros lugares, do Oiapoque ao Chuí, passando pelo Jardim Lapenna e pela Chácara da Mãe Preta na Vila Curuçá.
Afinal de contas, como disse Milton Santos, não o zagueiro da copa de 58, mas o geógrafo, para mim um imortal, “o circuito inferior da economia com o superior tem que dialogar”, quem sabe de igual para igual.
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