Dicas de Leitura que influenciaram na produção do texto abaixo de autoria de Otavio Augusto Santos: “A ecologia pluralista da comunicação” – Lucia Santaella – Editora Paullus; “Cidades Invisíveis” – Ítalo Calvino; “O vestígio e a aura” –Jurandir Freire Costa – Editora Garamond
Aporia Citadina
Aguçado pelas provocações proprioceptivas, extroceptivas e performáticas, estimulado pelo ecossistema de um desejo poético de navegar na cidade. Atado ao mundo, meu corpo, como qualquer outro, mediador do mundo, um “nó” de significações vivas, anseio encontrar o imperador Kublai Khan, para levar a ele a visualidade narrativa dessa cidade, tão visível, porém tão distante dos seus olhos.
Talvez levasse um laptop a essa majestade “sino – paulistana”, assim denominada pela minha imaginação ampliada a partir dos livros que leio, somada à minha concentração física e descentralização territorial, quando dentro e fora do veículo que me desloca pela cidade, lembro das viagens articuladas por redes telemáticas no ciberespaço.
Penso que Kublai Khan, com o laptop, possa perceber o espaço geográfico e suas anomalias, ou correr o risco de que sua compreensão sobre o que o laptop conectado revela, seja a idéia de que os espaços de fluxos informacionais reestruturam as cidades, dão forma às cidades contemporâneas, uma realidade construída e vivida. Claro que o imperador não sentiria o aroma dos corpos, mas pelo menos pudesse vê-los em tempo real, em movimento.
Sim, faltaria levar o imperador a se deslocar pela cidade, para perceber, a partir dessa mobilidade física as ligações entre os espaços de fluxos, aqueles acessados pelo laptop e o espaço de lugar. Ruas, monumentos, praças, numa interação de observação.
Mas o imperador insiste, coerentemente é verdade, em imaginar a cidade unida por um fio de Ariadne de histórias confusas. Numa visão em que as dificuldades também são projetadas pela paralisia de seus cidadãos, que não se organizam em uma rede para articular, rearticular, ressignificar a vida na cidade.
Não, o imperador não está errado. Ele tem um conceito desenvolvido a partir dos meus, dos seus olhos. Precisa o imperador, somente de mais tempo e espaço, para perceber os significados de nossos ritos, mitos, deuses, olhar para cada trilho, via, caminho de nossas narrativas, como itinerários cognitivos da cidade, aliar a sua incontestável sabedoria às descobertas empíricas dos citadinos de lugares e códigos quase inextricáveis.
Assim o imperador contribuirá, ainda mais, para o que emaranhado novelo de adversidades tenha os seus “nós” desatados, para que visualizemos e vivamos a conexão e intersecções de olhares e desejos de viver numa cidade melhor.
O desejo é que a cidade invisível de cada um torne-se a cidade visível de todos, do Imperador e desses tantos Marcos Pólos de uma Paulicéia Desvairada, tão perto e tão longe de todos nós, conectada ao ideal de que é possível transformar.
Otavio Augusto Santos da Silva
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