PARTICIPE DO MOVIMENTO EM DEFESA DAS FLORESTAS
Carta Aberta
Remetente: Um acriano, testemunha de uma história triste.
Roney Tadeu da Silva
Quando o sol bate nas gotinhas de orvalho
deitadinhas nas folhinhas dos arbustos,
um tremelique de água e luz se faz
como uma excitação amorosa
ao olhar do viajante eterno.
Também com a claridade da manhã
pode se visualizar o fio – teia
da aranha laboriosa, esticado
e, pela caleidoscópica parceria
do vento, sombra e luz
soma-se ao ótico – poema
desejado pelos olhos
de defender a mata.
Olhos que também enxergam a covardia
da derrubada de seres vegetais indefesos,
em meio ao silenciar das vozes humanas
pelas armas e atitudes acobertadas
pelos poderes locais com arapucas
e traições a vitimar os guardiões
da floresta.
Pai nosso que estais no Acre,
santificada e preservada seja a mata,
o Grão Pará de cada dia nos daí força Marabá,
não perdoai os capangas, nem tão pouco os mandantes,
na fatídica hora de tantas mortes, amém.
As árvores ameaçadas de cada dia
santificada seja a proteção de Ossaim,
assim como Iansã defende o seio da mata,
sendo que no ventre da mata tem um grito de Xangô
que ao sentimento do índio se mistura e faz o feiticeiro correndo
evocar aos deuses da mata para lhe salvar e salvar toda essa riqueza.
Brasil, barra vento, cateretê,
bumba meu boi no cativeiro,
no desespero da destruição
e a mordaça mídia do sudeste,
diante da matança e toda peste,
hegemonicamente espetacularizada
esquece de adentrar a floresta
com suas fábricas de imagens
para ver e mostrar o que resta.
O que resta é um tronco oco
de pensamentos quase conformados
pelo dito de que a vida é assim mesmo,
com Belomonte, feias atitudes,
água, espírito, santo vinho,
caboclo a se espetar,
sertanejo indo embora,
ouve-se o clamor do povo índio.
Cantou o Uirapuru,
selando seu lugar,
o canto é consequência
da vida da passarada ameaçada.
As veias d’ água do organismo amazônico
vitimadas pelos senhores da madeira,
aos poucos se necrosam
e levam na correnteza
muitos ribeirinhos
que se desnorteiam,
abraçando o ordenado fúnebre
e funesto de um desenvolvimento lúgubre.
Porém ainda resistimos, não fugimos a luta,
ouvimos Darcy Ribeiro que o povo brasileiro
é povo sábio mandingueiro e ninguém há de mandingar.
Mesmo nesses tempos de tanta destruição dessa imensa mata,
acreditamos que a sensibilidade invadirá em breve a alma,
o coração e a inteligência dos mandantes, republicanos,
parlamentares muitas vezes todos parecidos
como os poderosos da madeira,
da soja de plantio selvagem,
esses humanos tão distantes
do pensar agroecológico.
E aqui vai um apelo aos programadores da mídia:
que a comunicação democrática invada nossas terras,
para que o mundo testemunhe nossa luta e toda a desumanidade
desse conluio da desgraça que espalha um tumor sem precedentes,
mas se cada um de nós tornar – se um defensor de nossas florestas
ninguém há de mandingar e com a força de nossos espíritos evoluídos
é possível transformar essa história, pois a água de nossos olhos
também tece os rios, somos afluentes, somos florestas,
somos tudo isso quando somos todos nessa biodiversidade
que tem muito a nos ensinar sobre como bem viver.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
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