Para isso, ele tinha que vender a casa, que era herança dele e da mãe, para comprar a nossa e uma para ela aqui em São Paulo. Dias antes da viagem a gente discutiu.
(E na hora de contar essa história para o NCC também. Acompanhe a conversa:
Ademir: - Não, não foi nem discussão, foi brincadeira, e você jogou o cinzeiro em mim.
Dalci: - Não foi brincadeira, você falou um palavrão pra mim.
Ademir: - Mas e daí? Falei um palavrão pra ela e ela tacou o cinzeiro em mim. Aí eu abaixei.
Dalci: - Você não abaixou. Você levantou o joelho.
Mas, enfim, já passou. É melhor voltarmos a história...)
Ele estava na minha casa. Tem um cinzeiro que possui uma base e ele é colado na base de madeira. Eu peguei e joguei o cinzeiro nele, ele levantou a perna, então na hora que bateu na perna dele, a base de apoio bateu no olho (no supercílio) dele e feriu. Cortou. Ele ficou muito “macho”.
Por ele, assim, não tinha problema nenhum. Mas o Ademir vive tirando um barato de todo mundo, então o que aconteceu? Os outros primos começaram a tirar barato da cara dele. Todos.
(Ademir na conversa de novo:
- Não foi isso não, engano de vocês. Se o cara é mole vão tirar sarro da cara dele e ele não vai ligar. Mas não é assim, eu já tinha tomado a decisão antes de qualquer coisa, falei, pronto: não caso mais.)
Ele foi viajar, mas nós estávamos brigados. Não sabíamos se íamos casar, embora a gente já houvesse dado o nome na igreja e tudo. Só que quando chegou lá no Paraná, tinha um comprador interessado no imóvel. Ele vendeu a casa e veio embora.
No percurso ele teve uma apendicite. Na ida ele já foi passando mal, mas na volta ele teve uma apendicite supurada. Então ele começou a passar mal, veio passando mal e parou onde? Na minha casa.
Peguei-o e fui levar para o hospital Tide Setubal. Chegando lá o médico foi examinar... aperta, aperta, aperta... e a gente brigado.
Como ele tinha ficado no chão, no corredor, decidi tirar ele de lá. O médico falou assim pra mim:
“dei essa medicação para ele e ela dura só 4 horas. Você vai ter que levá-lo para um hospital”. Trouxe-o para casa e como a dor passou, ele não quis ir mais. Mas quando passou o efeito da medicação... a roupa grudava, pingava suor.
Eram mais ou menos umas onze horas da noite, onze e meia, e novamente eu, ele, minha cunhada e meu irmão fomos para o hospital Tide Setubal. Chegamos lá e o médico falou assim:
– Vai ter que operar. – só que não tinha vaga – Eu vou ligar pra um amigo meu lá no Ipiranga. Mas ele tem que ser operado hoje.
Marcou a cirurgia e o hospital lá no Ipiranga me esperando, e a gente esperando a ambulância porque não tinha ambulância. Daí eu falei para o médico:
– Posso levar ele de fusca?
Na época meu irmão tinha um fusca. Daí o médico falou:
– Não é muito aconselhado não, mas é a opção que tem, eu vou autorizar.
Eu assinei a autorização e fomos para o hospital para internar. Ele chegou e já foi pra cirurgia. Ficamos esperando e saímos do hospital quase três horas da manhã. Só que ele pegou uma infecção hospitalar. Ele ficou 22 dias no isolamento, os médicos iam lá e eu também ia todos os dias, e ele não falava como estava se sentindo. Cada dia piorando e não falava. Naquela época os residentes que faziam a visita dele não viram que ele estava piorando.
Teve um dia que eu estava no serviço e eu falei para minha amiga:
– Eu vou paro hospital, o Ademir não está bem.
E ela disse:
– Mas ninguém ligou.
– Mas o Ademir não está bem.
Nesse dia ele passou mal, a enfermeira entrou no quarto dele e falou que ele não passava daquela noite. A sorte foi que o chefe do centro cirúrgico estava lá. Ele operou o Ademir no quarto mesmo. Antes perguntou:
– Você é homem?
Ademir disse:
– Eu sou. – com voz esganiçada.
– Então toma esse travesseiro porque você vai sentir muita dor e não tem como dar anestesia. Vai ser a sangue frio.
Quando eu cheguei ao hospital ele não estava no quarto. Tinha um senhor que estava no quarto dele, também tinha feito uma cirurgia. Eu perguntei para ele do Ademir e ele me falou para perguntar para a chefe da enfermagem. Pensei: “puts e agora? Pergunto ou não pergunto? A cama vazia... ai meu Deus!”
Fui lá na enfermagem e ela me falou:
– Ele teve que voltar para o centro cirúrgico, teve que fazer outra cirurgia e agora está no isolamento.
Para entrar no isolamento tem que estar com os “amparos todo”. Com aquelas roupas preparadas e não entra qualquer pessoa. Então o médico perguntou o que eu era dele.
– Olha moço, até antes de ele ser internado eu era noiva, agora não sei mais não.
E nesse meio tempo a igreja me ligando que precisava da confirmação da data. E eu falava assim pro moço:
– Você dá um tempo. Porque eu não posso chegar pro moço que tá lá numa cama do leito e falar, escuta você vai casar comigo ou não vai? É muita covardia. Eu não posso influenciá-lo para essa decisão. Ele tem que tomar essa decisão mais tranqüilo, mais seguro.

Quando eu o tirei do hospital ele estava 22 dias internado e com dreno porque tinha que fechar de dentro pra fora. Só que ele não comia, não queria mais comer. Então eu assinei um termo para cuidar dele em casa. Trouxe e cuidava dele. Tive que cuidar do buraco aberto que nunca imaginei saber limpar lá por dentro.
Foi nesse momento em que ele ficou quase a beira da morte que ele refletiu qual era a minha importância na vida dele. Quando eu cheguei, ele me falou que tinha passado por momentos muito difíceis, e que todos os momentos que ele se viu ali eu sempre estava ao lado dele. Ele tinha certeza que não viveria sem mim, que eu era a mulher da vida dele e se eu ainda quisesse a gente casava, ia dar continuidade aos planos que a gente tinha.
Três meses depois nos casamos na igreja escolhida, na data marcada. Hoje estamos prestes a completar 25 anos de casados e somos pais de dois filhos.
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