sexta-feira, 14 de outubro de 2011


A comunidade dos sem comunidade


“Passar a pergunta adiante” – parafraseando Eduardo Viveiros de Castro



Excitados e ansiosos, descontentes e na temporalidade catastrófica, unidos pelo sinistro da perda, sem intencionalidade bio – afetiva pelo lugar onde vivem, seres humanos que habitam as fronteiras, as áreas limítrofes da unidade administrativa, mais conhecida como cidade, sobre os entulhos, por conviver com a escassez, direta ou indiretamente, pessoas ampliam a audição emergente, dão ouvidos as impressões narco – políticas, similar à audição fisiológica dos representantes políticos - locais. Ambas as audições, alinhadas à dinâmica da economia do imediatismo, da necessidade de seguir um modo de vida capital.



Claro, antes de tudo, de qualquer impulso humano comum de subjetividade, o capital penetrou tão fundo, no corpo e na alma das pessoas, quem sabe para prosseguir vivo, mesmo com o advento da invisibilização da morte, num exercício de entropia ideológica, somada à estratégia e ao discurso de assegurar aos impossibilitados, nos subterrâneos das atividades econômicas – produtivas, os objetos, tecno – traquitanas e demais bens de consumo, disponíveis no espectro eletromagnético e nas gôndolas ao alcance das mãos, sem reflexão sobre o gozar, desfrutar, sobre o impacto que nossa aventura de ter tudo isso, pode levar ao caos, a um senso de estranheza que se apodera de todos diante da perspectiva de, em vida, não se garantir o que é necessário para partir ou para ficar na localidade, a qual passamos a entendê-la como inerente à nossa trajetória, ora num quase - acontecer, ora num quase – viver, ou num quase- morrer.



Assim, antropofagicamente, diante das realidades de comer e ser comido, só nos resta considerar de que nessa relação canibalística, a partir da herança dos índios, ambos, comedor e comida se reconheçam e, se sucessivamente, geradores de movimentos que perspectivam a troca de papéis, colonizador – colonizado, comer – ser comido, teimosamente afugentamos qualquer razão que considere a existência de uma essencialidade antropológica, que nos permita indicar uma contra – ordem, antítese ao discurso interpretativo dominante. Essa teimosia nos faz mastigar os indigestos hambúrgueres da também indigesta indústria de tantos bens simbólicos, a enaltecer as conexões, novas elites e novas misérias e, sobretudo, uma nova angústia a de ser desligado, a hispostasiar uma dinâmica cruel, na lógica de exclusão de grande parte da sociedade das riquezas produzidas pelo trabalho, numa recaptura eficaz do desejo de consumo. Todos desejam consumir, esse é o solo comum em que parecem se enraizar as identidades.



E, em meio a atuação e poder dos “.com”, googles e demais detentores dos espectros que dialogam com as vias informacionais, numa rede, num rizoma, penso num devir de fluxos que invertam essa grade de vampirizaçao do comum, para mostrar um devir rizomático de fluxos materiais e afetivos, da rua para internet, da rua para a escola e para o espectro eletromagnético, numa espécie de “info - pau de arara ao contrário”, que permita a contraposição à justaposição que se estabeleceu da migração do social para o comercial, para pelo menos atenuar os efeitos dos pedágios comerciais impagáveis para a grande maioria.



Vivemos também uma espécie de fruição midiática – cultural, que conduz de forma arbitrária e manipuladora nossos impulsos de adquirir, de se apropriar, pelo valor que se estabeleceu, sem a mínima participação da maioria no pensar global. Grandes conglomerados dão substancialidade cultural ao que é irradiado pelas artérias de um sistema de simulações que dissimulam, com a falsa impressão de inclusão, a interatividade, a colocar mais uma vez, a maioria da humanidade, na condição de expectadores e receptores, quando tecnologicamente temos condições de todos sermos emissores – emissoras, porém essas condições estão resumidas tão somente pela ação numérica logarítmica de digitarmos os códigos dos cartões, na propagação de nossos cadastros de contribuintes e de nos envolver em nossos trabalhos, não só com o corpo mas com a alma, tecendo uma rede totalmente cercada e dominada, sem efetivamente entrarmos, nos plugarmos, e ocuparmos os espectros comuncacional e informacional, que levariam nossos saberes ao mundo, advindo das ruas, das escolas, da fértil interculturalidade que nos permite ser o que somos, sem impor identidades, a navegar na diversidade, para buscar e conquistar, nem que quixostecamente, o espaço que esse falso dragão ocupa, pois sabemos que a vida coletiva é um moinho a soprar constantemente as intenções de viver feliz “na comunidade dos sem comunidade”.



José Luiz Adeve (Cometa)


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