quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Crack Menino Cronotopoético

Os pés do menino na calcada crosta terrestre
carregam numa aquarela encardida os contornos
e as manchas de um território cruel.
Vejo as marcas do menino
numa das portas fechadas
da Estação da Luz,
menino num sono
desintoxicante.



O menino pode,
Oniricamente,
Enquanto dorme
estar distante
dos projéteis
de borracha,
dos vapores
e traficantes
dos ritos e gritos,
do aprisionamento
e definhamento.
Sonha...menino

Na manhã em que sou transportado nas vias da megaleletrônica cidade em que vivo,
diante de um portal de arquitetura saxônica, os pés do menino estabelecem
um cronótopo anômalo de um corpo – cidade humanamente repulsivo,
quiasmático e provocante despertando percepções sobre as relações
e interconexões históricas, arte, cidade e objeto, num movimento
de efeitos especiais e espaciais produzidos por cachimbos
a incinerar bicarbonatos “encocainizados” em meio
ao movimento dos convivas e dos amedrontados.

Tantos pés iguais ao do menino,
não estão nos quadros,
nas obras de arte,
mas são captados
pelos depositórios
e plataformas
googlenizados
e estupidamente
reais.

Os pés do menino deitado.
A cabeça coberta pelo cobertor da assistência social citadina,
a bermuda surrada levada por ele aos quatros cantos desse inferno.
Seria essa imagem uma obra de arte numa cidade – capital,
definida como cidade representativa de um valor ideológico?
Mas na perspectiva e na proporção de um sistema de equivalentes,
fundamentando a arte – imagem – pé – menino
num processo constitutivo de deterioração,
tudo pode ser fotografado ou transformado
em literatura o qual também pode ser reduzido
à unidade de valor,
enquanto objeto
com sua relação
arte – valor,
arte – trabalho,
arte – superação,
ou até mesmo
num outdoor de um shopping,
com uma mensagem publicitária,
imagem – arte – menino,
como um slogan para ações
benevolentes sem preocupação
em alterar substâncias nocivas
do âmago da dinâmica social,
que produz, reproduz, queima,
fabrica cinzas para carburar pedras
do cachimbo do menino,
dos meninos,
das meninas,
dos moços,
das moças,
seja no centro do Coração de Jesus,
na Luz ou na quebrada da Nitro Operária,
e em tantas vilas e vidas a invadir
a corrente sanguínea da cidade.

Lá estava os pés do menino...

1 Comentário:

Anônimo disse...

É interessante notar que o poeta enxerga as realidades com um tom de encantamento.

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