No meio da pressa de todos um Galpão, comunidade e movimento
"Remamos contra a maré, então, argonautas da equidade.
Pois infelizmente vivemos um modelo acelerado e excessivamente egoístico,
que orienta e provê os sentidos para as existências humanas,
aniquila nossas dúvidas, angústias, cessa a desrazão em potência,
os encontros. Idiotizemos, portanto."
Katia Boaventura Rodrigues – Filósofa
Na manhã de segunda - feira de um fevereiro abafado, num Galpão, espaço para pensar a cidade, os moradores aos poucos, se “achegam” para entender e conversar como e o que será feito em relação às habitações que permanecem e sobrevivem em meio ao curso do córrego, que na verdade está dentro do curso do rio.
A cidade não pode limitar-se a transmitir notícias e publicidade, ela tem seu caráter político e seus espaços também precisam ser ocupados pedagogicamente. Penso que esse lugar em que estamos nesse momento, pode vir a ser uma referência, em meio à percepção de que as nossas relações afetivas perpassam a contraditória gestão capitalista com suas casas sem gente e da gente sem casa.
Num lamento quase anfíbio de Dona Neusa, de uma gente antes rio, hoje gente – córrego fica evidente que esse solo triste e melódico, nasce de um choque harmônico causado também pela especulação imobiliária, insuficiência de serviços sociais e escassa mobilidade da cidadania. Mas Dona Neusa quer entender o que leva a cidade a ficar doente, e que endemia é essa. Ela deseja aprender e entender como participar desse processo de cura da cidade, pois ela se vê dentro desse organismo e nos confessa durante a conversa – letramento, em outras palavras, que é preciso democratizar a democracia.
Sim, essas conversas – letramento, sempre após a Ágora, em que representantes do poder da cidade dialogam com a comunidade e, com uma mediação pedagógica similar a do personagem Mateus do Bumba – meu boi, aquele que aproxima a fantasia da cena com a realidade perceptiva do público, surgem descobertas e perspectivas concretas para a tomada de decisões e atitudes, no mínimo já pensadas, a partir do entendimento de como funciona a cidade e o sentimento de pensar a cidade de forma coletiva.
Nos momentos em que Dona Neusa arremessa suas desventuras de viver dentro do rio, somos Mateus, sendo assim somos também tudo isso que Neusa manifesta e, a teatralidade real, comprova o que vivemos e nesse espaço – tempo estendido, quase quatro anos, estudamos durante esse convívio afetivo – comunicacional com essa gente desse território, suas identidades que comprovam, por exemplo, percepções e conceitos que lemos nos livros sobre educação, comunicação e a cidade, livros que procuramos para melhorar nossas ações, e encontramos afirmações como a de Giulio Carlo Argan, quando fala sobre a doença da cidade, e que curá-la é tão importante e brilhante quanto a invenção de novas cidades.
Sim, a sobrevivência. A loucura, a miséria, o dinheiro e a ausência de idiotas, como aquele de Dostoiévski, que valorizem o caráter comunitário, o movimento do afeto a substancializar a ação política, a amabilidade. A cidade se ressente diante da ausência desses idiotas, mas existimos, resistimos, desafiamos os conformados, os não ousados, podemos contribuir para um processo de terapia urbanística, mas para tanto tudo é preciso, inclusive reanimar animicamente toda a cidade, somos também a cidade.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Postar um comentário