domingo, 8 de julho de 2012
Rafael,
Platão e Aristóteles, mais as cambacicas, a comunidade protegida, os
náufragos e os devaneios sobre as transfigurações
do humano
. Inspirado e influenciado
pelo Ensaio de Renato Lessa
“O que mantém o homem vivo:
devaneios
sobre as transfigurações
do humano”
Uma planta trepadeira grudada no frio metal do
poste com a lâmpada de mercúrio queimada abriga um ninho de cambacica, na
extremidade da passarela de madeira da travessia cotidiana de uma existência
que consiste também com o exercício que se ocupa de coisas não existentes.
A partir das aves cambacicas, assim categorizadas,
desloco-me para uma dimensão imaginativa e como um humano desenho um futuro,
inventando-o, imaginando-o, orientando-me, muitas vezes, pelo que não existe,
como por exemplo, uma sociedade humana que ao olhar para a reunião de pássaros
reorganiza suas leis, o trabalho e sua condição humana, composta tanto da
espera de um ato clarividente de reparação que devolva a plena integridade
existencial e, apesar de um pensamento distinto, aliar o animal que fala e que
constrói agregados políticos para os quais a dimensão da ética, como liame e
como atividade prática se impõe.
As cambacicas saltitam no emadeiramento
envelhecido pelo tempo e, a cada passagem do trem, em tremeliques graciosos se lançam em voos curtos no campo imaginário
protetor do ninho.
Meus pensamentos e memória saltitam a imaginar
decorrências, consequências de “ajuntórios humanos” para esquecer os danos e
propor uma nova história de viver junto, e a certeza de que “o que mantem o
homem vivo é a forma de acolhimento que o incorpora.
Talvez o que humanamente esteja identificado com
as cambacicas seja o desejo, desenho clássico de formas de vida, sustentadas
pela ideia de proteção e estabilidade.
Uma comunidade protegida pelo conhecimento
produzido pela experiência de sucessivos esforços para superar as adversidades
e inequidades é suscetível tanto à permanência da condição de náufrago com a
legitimação de déspotas, quando mesmo em nome do bem utiliza uma prática de
troca de favores com traços corruptos, quanto à descobertas, pelos cidadãos, em relação ao
funcionamento de suas cidades, nações, leis e direitos, entendimento que pode
facilitar e fortalecer os movimentos de transformação social, no sentido de um
ideário democrático e participativo, tendo nesse caso a educação um papel
preponderante para eliminar as desigualdades e concomitantemente estimular
novas práticas político – participativas e formas habitativas.
Essas novas práticas subvertem a imposição e
contaminação de uma cultura política perniciosa, como também de uma cultura de
consumo desiquilibrada que compromete nossa casa, a terra, que não é somente
nossa.
A terra também é das cambacicas que persistem em
se aproximar das várzeas deste rio que agora estou bem próximo, aqui em São
Miguel Paulista, São Paulo, no qual tanta gente vive a beira e dentro de seu
leito, circunstâncias de uma megacidade com seus mananciais entulhados, seus
administradores viciados na especulação e arranjos obscuros, para espanto inclusive
da planta grudada, agarrada ao frio metal, poste prateado de luz na passarela,
trepadeira que serve temporariamente de abrigo e proteção para pássaros,
borboletas e insetos que dialogam com suas florezinhas lilases.
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