domingo, 5 de agosto de 2012
Observações de um investidor social
João Lino Marques de Freitas *
Desfilam pelas ruas de um centro
degradado de uma cidade, exemplares humanos com seus passos e respirações.
Nota-se no silêncio barulhento das relações desses exemplares com a inanimada
megaleletrópole com suas humanas deificações, uma centelha de desejo de
transformação nas expressões ansiosas em relação ao abrir do farol, à demora do
trem e consequentemente ao inchaço da plataforma, à próxima imagem da mensagem
eletrônica, ao torpedo e aos próximos acessos viabilizados pelas mídias
locativas.
Certo de que quando por
circunstâncias avaliativas em relação ao meu investimento desloco-me para
pontos extremos da cidade e, também relativamente, percebo a existência de
exemplares anfíbio – humanos a viverem numa, para mim, quase – exótica miséria,
consigo entender que os sociogramas dessa gente é limitado, seus universos
relacionais diminutos e consequentemente com os meus conhecimentos específicos
sobre desenvolvimento, nessa semiose que combina genialidade e visão
socioeconômica, reconheço-me na condição de investidor social e, tenho clareza,
sobre a diferença entre ter a
responsabilidade de investir na transformação social, da necessidade de ter desejo de transformação social.
Daí, como a coisa é publica, arvoro-me
e alimento-me de antropo e sócio – estatísticas e idealizo, proponho PPPs, ISPs
e demais instrumentos e / ou ações que envolvam o que se convencionou chamar
Sociedade Civil, sobre a qual tenho uma visão metafórica – contemporânea de uma
senhora gorda com movimentos lentos e paquidérmicos.
Ora, caro leitor, aqui cabe uma
explicação alusiva ao parágrafo anterior. Lá observo a diferença da necessidade
de ter desejo de mudança, da de ter responsabilidade de investir na
transformação social: quero dizer, em relação a primeira que, para a percepção
da necessidade de ter desejo de mudanças, é necessário investir em práticas
educativas para a compreensão dos indivíduos, os quais por ironia histórica
chamei de exemplares, de que as mudanças para melhor devem atender o coletivo.
Para tanto há desafios e dificuldades, diante da realidade vivida.
E creia, caríssimo leitor,
investi maciçamente, na criação e desenvolvimento de metodologias que tem nas
suas essências, o que há de melhor nos países desenvolvidos. Claro que os
conceitos prè – existentes adotados são fundamentados numa dinâmica e lógica
vivente, permeadas pelo fluxo de capital e geração, até mesmo simbólica, de um
estado de bem estar social, que considera o aumento de consumo como
crescimento, mesmo quando isto gera desigualdade e insustentabilidade.
Mas, caro leitor, quem não quer
as mercadorias reconfortantes, os mais incríveis fetiches e um altíssimo grau
de acumulo de bens? Porém nesse momento, vejo que nesse passo, o planeta não
dará conta de tanto anomalia e perderá sua força biológica, sendo que nossa
espécie, toda, não somente os exemplares citados, e somos um infinitésimo desse
todo, inserido no todo, não suportará, e os meus negócios necessitarão de
outros paradigmas, em nome da vida.
* João Lino Marques de Freitas é geógrafo e formado em letras
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