domingo, 16 de dezembro de 2012
Tecelagem Dinâmica da
Educação *
Habitar é Comunicar
Texto Ativista coautoral
Sempre estivemos
dispostos a revelar e disseminar práticas, saberes e iniciativas identificadas
como uma perspectiva de sociedade tecida com as linhas do afeto e sensibilidade,
dentro de perspectiva de um melhor viver juntos, humanos e não humanos, a
partir de um novo modelo de pensar e desenvolver a cidade.
Percorremos
os espaços, compartilhando descobertas e saberes, estabelecendo com os fios
invisíveis da conectividade, rodas, fóruns para pensar, propor “novas formas educativas e comunicativas do habitar, considerando
sempre a necessidade de tecer, re – tecer, além de fundir com tantos outros
tecidos da eficácia do meio, relação trajetiva, na qual a subjetividade e a objetividade
se fundem. Essa é a dinâmica da vida de um educador, e a vida de educar se faz
como rede.
Porém essa rede, esse conjunto ” inorganizado” e, no entanto, sólido, invisível, mas que dá
sustentação à uma visão ecossistêmica da educação foi durante muito tempo ignorado
pela historiografia e negligenciado pelas ciências sociais que lhe negaram toda
e qualquer importância.
Afinal,
temos de cuidar dessa rede, digamos assim, desses fios, rios, afluentes, metaforicamente
esse “lençol freático”, onde emergem as ideias, a partilha e solidariedade
também nos aspectos ecológicos, e a disposição de pensar novas formas e modos
sustentáveis de se viver e habitar.
Ainda sobrevive, com menor intensidade, a
insistência de só entender aquilo que institucionalmente convencionou-se como “entendível”,
quando na verdade o que vale é o signo - significado da experiência vivida,
ressignificado em tantos outros “experienciar(es)”. Mas esse mundo conectado
faz pulular aqui, ali, acolá, tudo aquilo que não se queria ver e admitir.
Esse tecer de educar, o qual se estabelece ao pensar com os atores
da educação o “estar no ambiente”, favorece a proximidade, a proxemia e o
aspecto acolhedor do que está em estado nascente, para pensar e agir para a ressignificação dos processos educativos
que emergem do contexto da sociedade contemporânea, configurada por uma nítida
interrrelação entre cultura e tecnologias de caráter digital.
Há que se considerar a necessidade de
reconhecer que habitar é mais que estar aqui, ali, alhures, mas é
relacionar-se, é troca, ressignificação do espaço-tempo onde os processos
educativos formais e informais ocorrem nesta sociedade, da relação entre
professor e alunos e da nova perspectiva de ensino – aprendizagem.
Assim,
caminhamos, intervenientes humanos, atuando, sonhando junto, pois sonho e ação
que se sonha e que se desenvolve junto é realidade, pelas ruas, “pracialidades”,
pelos pontos, “nós”, uma laçada, a outra, pelas escolas, na tal coisa pública, entre
o presente, passado e o futuro como pertencente de tantas repúblicas das
desigualdades, mas com um desejo e vontade política, artística, até mesmo
holística de entrelaçar desejos de equilíbrio e urbanidade.
Em altos brados
manifestamos que a educação é composta dos seus, meus, teus, nossos saberes e desejos
de mostrar e trocar saberes, das crianças, adolescentes, jovens, adultos,
idosos, educadores, educandos de cada território, sendo que a verdadeira escola
é todo o espaço urbano com suas narrativas e narratividades, vidas, lidas, experiências...
...Desde o riscar na areia da matemática de Severino, mais
a escola “pé de Juá” de Dona Ana, a
comparação de Dona Antonia por meio da literatura do consumo da cidade grande a
Mãe d’água do Rio São Francisco de onde viera, a mangueira do Piauí que ensinou Claudete a
calcular e “ser craque na matemática”, o que lhe permitia cochilar na sala de
aula...
... Até as descobertas de educandos da rede pública
de como funciona a cidade, diagnosticando
como doutores da “infância da língua” suas localidades, os pássaros, os
córregos, as cambacicas, as capivaras, os rios, tantos rios... E o delta é a
revelação não só de tantas realidades e sonhos, mas como num “ajuntório”, parecido
com o cavar para a rama da mandioca, entoado num fandango, ou com os ritmos urbanos
contemporâneos desses tempos de tribos afetivas, advém a percepção da necessidade da construção
de uma cidade, onde a escola esteja integrada ao território, e de enfatizar que
o espaço urbano deve ter caráter educador.
Da totalidade dos seres ao lugar e a totalidade do
espaço geográfico, a educação se arterializa e, as tais redes formam redes
inteligentes. Ela também se faz lugar, espaço que faz sentido quando ocupado,
vivido com os ritos, narrativas, encontros, cantos, cordas. Intenções de ensinar
e aprender, de ouvir, ocupar, “ocupaz”, como disse um jovem, num desses dias, em seus momentos de expressividade e
descoberta.
Fazer valer a necessidade de pensar a cidade como
forma sensível de civilização, nesses momentos em que identificamos em nossa
humana caminhada a crise civilizatória, e diante dessa sensação, ou, até mesmo,
sentimento sujeito a ressentimento e arrependimentos, constatar que a nossa
dificuldade não está no perceptível revelador da necessidade de transvaloração
e descontinuidade simbólica, e sim no admitir que o “inorganizado”, vívido e
pulsante dos territórios onde impera a escassez, ao mesmo tempo rico de
criatividade, saberes orgânicos e até anômalos, necessita de mais escuta e
parceria para que seja canalizado, numa inteligência conectiva, para um educar
ecossistêmico e transformador.
No sentido de contribuir para o a construção um novo modelo de
desenvolvimento, no qual os laços de reciprocidade sejam
componentes dessa "tecelagem dinâmica" que é a educação, é importante reconhecer que
as transformações e, quiçá, as práticas educativas inovadoras, partem de
minúsculos fatos que são os fatos da vida quotidiana.
* Esse texto foi produzido a
partir de manifestações e sensações colhidas audiovisualmente de educadores e
educandos de Escolas Públicas, pessoas da comunidade, jovens e adultos e
profissionais de ONGs de São Miguel Paulista.
Núcleo de
Comunicação Comunitária São Miguel no Ar
Fundação
Tide Setubal
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