sábado, 13 de julho de 2013

Indignados, também os bem menos afetados.
Mas e essa gente ai, com é que faz? 
(Adoniran Barbosa)

Em meio ao movimento de caleidoscopização das insatisfações humanas em relação ao espectro político com sua dinâmica perversa, seguiram manifestações compostas de tons, cores e diálogos que rejeitam partidarizações. Porém é perceptível e evidente a irradiação por meio das mídias digitais da reprodução informacional, como também pontos de vista e significações dos grandes grupos de comunicação com suas logos a venderem verdades e realidades, sendo que isso ocorre justamente nesses tempos em que temos, todos nós, instrumentalização e poder comunicacional reticularizado, para gerar conteúdo num movimento de “dromocracia” consciente e não simplesmente desdobrar, replicar as contextualizações dos conteúdos das editorias analógicas e centralizadas.
                Claro que os principais provocadores desse caleidoscópio de protestos são os que estão situados do meio da pirâmide social para cima e a juventude desses extratos tem papel preponderante. Também grupos conservadores aderem ao clamor, sendo que apesar da efemeridade o que acende e estimula as ações de contestações é, sem dúvida, a emoção dos indignados, nesses tempos em que começamos a assistir o fim do individualismo e a volta das tribos, mesmo com todo o processo de portabilidade cultural, como também de invasão do capital no inconsciente, imaginário, desde o nascer, passando pelo crescer, viver, envelhecer e morrer.
                Cotidianamente, nessa lida citadina de aprender e ensinar nos relacionamos com pessoas que convivem com a escassez, em ambientes em que os pássaros, as árvores, os rios também são afetados por um ritmo e um modelo de viver coletivamente sem principio nenhum de coletividade, muito menos de justiça social. Esses são os inorganizados que também tem seu movimento composto de outros códigos de conduta com suas leis, desenvolvem arranjos para garantir uma economia invisível, nos vagões dos trens, nas vielas, nas quebradas do tempo e do espaço.
Estigmatizados, esses seres humanos, focalizados pelos espetaculares arautos e narradores da tragédia social, tele – comercializadores dos lugares, personagens, valores, numa audiência que impressiona a alimentar em cada esquina e em cada domicílio a voluptuosidade de que tudo é assim mesmo, numa “semiose” alimentada por signos gerados e transmitidos de geração em geração, na geração de imagens e sons que geram reações estupefatas, temor e revolta, mas nenhuma transformação.
                Ouvi certa vez de uma editora de um grande telejornal, num seminário denominado “Jornalismo e Sustentabilidade”, de que a comunicação não deve ter caráter educativo. Indignado naquele instante, agora tenho certeza, de que a estética comunicacional predominante dos grandes grupos de comunicação de massa, ainda influencia e, creiam, consegue inclusive pautar nossas mídias sociais e, até mesmo com toda nossa crítica para com esse ou aquele grande grupo midiático, não conseguimos ainda estabelecer “a nossa pauta”, os conteúdos e a estética de cada localidade com suas crianças, adolescentes, adultos. Sim, ainda somos a “comunidade dos sem comunidade” no espectro da comunicação, apesar de que a palavra comunidade é citada a cada instante em nossas redes digitais. 
                Há um risco, ou seria um desdobramento. Pode – se sentir por aqui, aqui mesmo, onde diariamente encontramos pessoas da outra cidade, a cidade construída pelos pobres. Aqui o código é outro, a ética é outra, os códigos são outros. Esses humanos passarão a se manifestar. Eles não se relacionam e nem conseguem se alinhar com os que estão em melhor situação social.  Aqui, percebe-se o cenário é outro, a substância política é outra, quem manda por aqui, são os detentores de uma economia de “um outro estado de coisas”. Nossos conceitos, estudos e análises não são compostos por esse substrato.

                Atônitos, nós que ainda estamos a refletir, contextualizar com no mínimo a barriga cheia, não fazemos conta, do que é conviver com a escassez, ser a sobra da cidade, a rebarba, o fundo do tacho, o “não – ser”, na pior condição possível, sem direito a ceia, somente as sobras, e ter que lutar contra os rios, córregos, e nem se quer ter tempo, espaço, lógica, para perceber que se pode mudar de maneira e forma diferentes. Mas será que existe outra forma de mudança para quem realmente quer a mudança. Eu, por exemplo, acabei de almoçar, posso me dar o luxo de ter crises psicológicas, existenciais, ler um bom livro, que custa caro, como custa, ir ao cinema para espairecer, e essa gente ai, parafrasenado Adoniran Barbosa, como é que faz?  

1 Comentário:

Anônimo disse...

Muito bom, Cometa.. Precisamos produzir nossas próprias pautas. Não se pode ficar a reboque dos desejos dos outros. Forte abraço pra e a galera do núcleo, Niva.

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