quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Crônica de mais um saturado da praça
pública
Ressignificação
poética de um leitor que pensa ser poeta e que leu
um livro
intitulado Saturação de Michel Maffesoli
...percebo,
nos lampejos chamados de lucidez,
a ausência
de espaços / tempos / percepções,
e que
há um transbordo de conceitos distantes
da
nova conjugalidade que a crise civilizatória insinua.
A
praça pública composta de personagens anônimos e dinâmica paroxística consistia
no mínimo em não ser o que se publicara sobre ela. A viver nessa pusilanimidade
causadora do desgaste e da vertigem do meu corpo e consequentemente da minha mente
ambas necessitadas de agressividade para poder ser firme nas argumentações que
se contrapõem aos hermetismos e explicações para tudo, tornei-me um anômalo e,
ao mesmo tempo, descobrira a necessidade em não se importar, quando agressivo,
com a fábrica de estigmas dos adeptos e comprometidos com o pensamento oficial.
Porém
é reconfortante sentir que me tornara, nesse período de mudança para um ser
humano que consegue ser firme e convicto no que acredita um descobridor de
significados a procurar palavras para garantir um novo pensamento, o pensamento
da instalação de um estar junto que está emergindo.
Apesar
do conformismo lógico a insistir num léxico social ultrapassado e da preguiça desses
intelectuais que não tiram o bumbum, nem a cabeça da cadeira – cátedra de
madeira de lei e de cultura da condição dominador – dominado, numa complexa fábrica
de diversas formas de inquisição, insisto num embate com os que preservam o
aprisionamento dogmático ao vasto espaço dos pensamentos amplos, àqueles que se
sentem os sóbrios e controladores do tempo, amedrontados com a efervescência e
a libido dessa contemporaneidade, àqueles que reforçam as amarras conceituais, condutas
padronizadas, cobrando objetividades concebidas e impostas como objetividades
para atender suas limitações, pois se julgam condutores e entendedores de tudo,
porém as custas de só significarem o que conseguem entender.
Permaneço,
para os explicadores de plantão, num estado diagnosticado como desequilíbrio de
referência, num desenho nocosômico de contaminação mental. Contudo percebo, nos
lampejos chamados de lucidez, a ausência de espaços / tempos / percepções, e que há um transbordo de conceitos distantes
da nova conjugalidade que a crise civilizatória insinua. Essa nova conjugalidade
é orgânica, oculta, sendo que é do ocultamento que vem a revelação.
Essa
nova conjugalidade ou negação da conjugalidade instituída, não é a que se
identifica como desenvolvimentismo e sim na prevalência do envolvimentismo,
ainda que com resquícios românticos na vinculação com o território, no qual o localismo
é importante, ou seja, aquilo que dá ênfase a um sentimento subterrâneo.
Percebo
com aflição diante da evanescência, não do caráter psicológico individual, mas
da emoção de cada jovem imerso em suas tribos sexuais, religiosas, musicais,
enfim com temperos hedonísticos, a existência da necessidade de uma maneira
mais qualitativa de aprender tudo isso.
Minha
febre aflitiva aumenta, diante da manifestação do pensamento oficial, aquele
composto e pensado por atores que priorizam uma ordem vertical e que tem explicação
para tudo, porém nunca vivem o par “experiência sentido”. Insistem em fingir
que não há necessidade de mudarem o ethos, pensar e viver para a construção de
uma educação ecossistêmica. Além disso, é evidente como aponta Michel
Maffesoli, referindo-se a Vico, que as épocas
trocam de pele, existem ciclos mais ou menos longos, ao deixar uma pele, o
animal recobre sua juventude.
Ah, grita aquele que se julga poeta e
reconhece que o estigma de viajante, apesar da chacota, lhe cabe bem: aceitar o
vitalismo e a vitalidade, aceitar o que é difícil aceitar, ao que é escamoteado
por nossos sistemas de interpretação.
Convalescer,
mas saber que diariamente a recompensa é real, visível e estimulante de viver e
trabalhar e colaborar para a composição de um fractal de sentidos e afetos,
mesmo com toda distância do campo de visão dos detentores do poder de decidir e
ter explicação para tudo, obviamente assim legitimados por processos
verticalizados, também distantes da espiral conectiva do imaginário, longe de
colaborarem com a partilha do sensível.
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