sábado, 18 de janeiro de 2014

Na praça resistimos

Na Praça em frente a um quartel, centro de São Paulo, dessa cidade que muitas vezes aniquila quaisquer sonhos e liberdades, como também provoca sensações de “clausura do lado de fora”, contrariado, diante da necessidade de admitir abruptas decisões tomadas por quem preserva a ordem institucional de qualquer coisa – pública ou privada, num desses dias, nesses tempos que há muito esquecemos o sujeito e não compreendemos a necessidade de repensar o discurso interpretativo dominante sobre a práxis da vida, biológica ou econômica, diante do que julgo destruição da subjetividade, sentado, aos gritos com palavrões misturados aos soluços e lágrimas, me vejo cercado por moradores de rua.  
Eles se aproximam e me afagam com palavras de rua, dizem que o primeiro dia é assim mesmo, “depois a gente se acostuma”, como se essa condição de vida fosse sempiterna, decorrência de infortúnios e de leituras julgadas desfocadas e sem pertinência do ponto de vista pragmático – organizacional das experiências humanas, modelos pré – estabelecidos verticalmente e “cumpra-se”.
Mas não deveria lamentar por todas as ações educativas construídas na sinergia entre jovens, homens e mulheres, criaturas que vivem e convivem com a escassez, mas que podem ver, apesar da obscuridade urbana da iniqüidade, perspectivas para prosseguir com dignidade as suas vidas.
Também não lamento pelos bens simbólicos, aqueles identificados e difundidos pelas ações e experiências vividas num ambiente de arte / comunicação, sem importância nenhuma ou de pouca importância para muitos, porém aos poucos legitimados pelas pessoas, que se apropriaram e emanam seus olhares, impressões e leituras da vida, com a real possibilidade de levarem a sua comunicação para o mundo.  
No banco da praça, agora em meio ao secar das lágrimas e do cheiro de sobra, com esse grupo de homens e mulheres de rua, na rua que conheço desde criança, percebo o cansaço pela dedicação exagerada exercida sempre com a intencionalidade de aprender com o outro. Oh alteridade que depende das normas e procedimentos adequados à uma estratégia  institucional que acidentalmente desconsidera, algumas vezes, as ações e reações mais verdadeiras, vividas em toda a sua intensidade.
Uma perua do Poder Público para em frente a essa roda composta de sábios acalentadores e um quase – conformado acalentado. Um assistente social, assim se identifica, convida-nos a entrar no veículo para seguirmos até um abrigo. Reforço o coro do grupo e digo que prefiro ficar ali mesmo, na rua, para viver as pracialidades, o público, mostrar-se, seja alegre ou triste, toda a humanidade que ainda resta, e que tanto podemos viver a fartura, como também a qualquer momento somos a própria sobra, resto, e das sobras e dos restos subsistimos a viver essa clausura do lado de fora, e cada vez mais dentro disso tudo a procurar uma nova relação entre o real e o imaginário.

José Luiz Adeve (Cometa)
28 de fevereiro de 2010


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