segunda-feira, 30 de março de 2015
Um
conto interdisciplinar *
“As capelas cientificas, fundadas
sobre o
signo da especialização, vivem muito
mais a
vontade num mundo fechado, onde a
verdade
de cada um é menos contestada, do que
num
mundo aberto, onde estão expostas
aos ventos da crítica.”
HILTON JAPIASSU
Um dia o educador teve a coragem de abandonar o
conforto da linguagem técnica e aventurou-se num domínio que é de todos. Sentiu
ao perceber pelas respostas dos educandos que essa aventura não anulara o poder
do saber, mas desenhara-se concretamente o caminho de partilhar o poder que se
tem. Um desejo dominou o educador, a vontade de ser interdisciplinar.
Isso exigiu uma profunda revisão do pensamento, um
caminho de trocas, intensificante diálogo, integrar conceitos e metodologias da
diversidade do saber e, principalmente, estimular a descoberta e permitir que
os educandos trouxessem seus objetos e suas necessidades investigativas, para
posteriormente conceituar a descoberta e a complexidade das ideias - objeto,
incorporando resultados de várias especialidades e tomar emprestado o
conhecimento de outras disciplinas e da própria experiência de vida dos
educandos com suas criatividades, espontaneidades e saberes.
Sim, esse educador republicano, trabalhando dentro
da coisa pública, na rede que, naquele momento, trazia perspectivas e
diretrizes de uma educação integrada ao território, orgânica e integralmente
pulsante pela demanda de efeitos sociais oriundos da desigualdade.
O educador
parou, pensou: será que abandonara o pedagógico, em meio ao dar conta do
currículo, e essa dinâmica nova e interessante seria uma viagem de
multiplicações de estratégias didáticas, somente para poder ser agradável
diante das ideias – objeto dos educandos? Ou realmente ele ingressara numa via em
que lhe permitia dar conta do caráter dialético da realidade social que emerge
nos espaços educativos, num movimento em que a realidade se apresentava una e
diversa ao mesmo tempo?
Ah, pouco a pouco, os educandos foram se sentindo mais
autores, com aquela mudança atitudinal do educador e, até ideias e objetos que,
antes da aventura do educador de entrar num domínio do conhecimento que é de
todos, lhes pareciam infundados, efêmeros, sem consistência e probabilidade de
contribuírem com a aprendizagem e a intervenção no meio, protagonizada e
provocada pelos educandos, passaram a demonstrar a ele e a outros educadores
que daquelas ideias – objeto nascera o germe da interdisciplinaridade, essa
maneira de ser, aprender, ensinar e intervir que se configura, no mínimo, como
uma alternativa à abordagem normalizadora dos diversos objetos de estudo.
Conversou com o professor polivalente, ora, ele
era professor polivalente, amplificou sua descoberta e atitude corajosa com os
outros polivalentes, do fundamental, com os do ciclo autoral, sentiu uma
necessidade de dupla, tripla, quádrupla regência, regência coletiva, ao mesmo
tempo de aprender ainda mais como provocar descobertas a partir da realidade
que os educandos traziam. Ele saíra do lugar em que muito tempo permanecera. A
princípio estranhou, mas depois considerou ótimo o fato de que as coisas fugiam
da sua governabilidade, sentiu uma vontade de trabalhar mais e mais as áreas
que não dominava, tudo em função do objeto. Sim, pensara ele, era do objeto que
nascera a interdisciplinaridade, e ele também se sentira um ser interdisciplinar.
*Uma releitura do artigo “A
interdisciplinaridade como um movimento
articulador no processo ensino –
aprendizagem” de Juares da Silva Thiesen
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