terça-feira, 24 de novembro de 2015

O Território e suas comunidades de sentido e de significados

O território não é apenas o resultado da superposição
de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto
de coisas criadas pelo homem. O território é o chão
e mais a população, isto é, uma identidade,
o fato e o sentimento de pertencer
àquilo que nos pertence”
Milton Santos
O lugar, como diria Milton Santos, tem um papel determinante diante da racionalidade hegemônica que faz com que haja constantes interrupções na realização de desejos para o bem viver comunitário. Mas o lugar vai se adequando aos vetores da globalização, sempre emerge uma contra - ordem, um pragmatismo mesclado com emoção, uma espécie de insurreição, o que demanda uma mediação política.
Essa mediação, e é ai que atuamos, com constantes inserções e intervenções educativas na vida das pessoas que habitam uma das bordas da cidade - aqui me refiro ao Jd Lapenna – São Miguel - exige uma interpretação filosófica, o que consiste em ultrapassar a descoberta da diferença e chegar a consciência, a partir de uma pedagogia produzida pela própria existência composta por saberes locais e a percepção da potência transformadora que advém desse tear comunitário, tanto mais, quando fortalecido pelas oportunidades pensadas e geradas com os atores institucionais e da sociedade civil, com boa vontade, para provocar arranjos produtivos e dinâmica econômica locais.
Somente chegar na descoberta da diferença sem prosseguir para atingir a consciência, não deixa de ser suscetível à condução da defesa do próprio interesse, o que impede às comunidades afetadas pelo processo de exclusão, de se chegar a uma defesa de um sistema alternativo de ideias e vida voltado para transformação e bem estar coletivos.
Como avançar para além das soluções imediatistas, os eleitoralismos interesseiros de eficácia provisória, para a busca de uma política genuína de remédios estruturais e duradouros? Essa é pergunta que passamos a responder em meio à relação e percepção de que comunidade é essa, ou que comunidades são essas com as quais nos relacionamos ao longo desses 10 anos, concomitantemente ao trabalho de aproximação da gestão pública local e outros atores com potência e poder transformador.
Em meio à tantas respostas, percebemos a existência de um anticorpos à verticalidade, ou seja, às intervenções que acontecem de fora para dentro sem o devido diálogo, conhecimento das características e perfil da comunidade, participação e, o que julgamos fundamental para geração de dinâmicas sustentáveis nas comunidades vulneráveis: trata-se da vocação solidária na recriação da ideia e o fato da Política. Isso emerge do exercício do debate e de acordos, na busca explicita a readaptação às novas formas de viver na cidade, numa perspectiva de construção de uma epistemologia da periferia para o centro, ou que minimamente exista diálogo com o que vem do centro para a periferia, para que possa haver escolhas democráticas, eletivas, até o ponto, quiçá um dia, onde não haja um centro e tudo funcione numa forma rizomática. 
Percebemos, nessa caminhada, que nosso papel é atuar para que as pessoas se sintam capazes de se posicionarem, influenciarem e pressionarem, o que demanda uma educação política e disseminação de uma cultura participativa.
O território não é apenas o lugar de uma ação pragmática, sua dinâmica relacional (habitar é mais que estar aqui, ali, acolá é relacionar-se), seu exercício também é um aporte da vida, o que permite representar um papel. O território se transforma sempre, em algo mais do que um recurso, ele também constitui um abrigo.
Assim, buscamos um sentido, para que essa comunidade – objeto dessa reflexão e da ação orgânica integrada de nossa organização com outras forças do território – por meio da valorização simbólica das pessoas e do pensar e agir juntos – viva a passagem de uma situação crítica a uma visão crítica, rumo a uma tomada de consciência, o que implica uma trajetória que perpassa conhecer os que convivem e conviveram com a escassez, suas características, seus caminhos de como chegaram até essa borda da cidade e, sempre a considerar a cultura como elemento  transversal em todas as ações que desenvolvemos.
Nessa nossa trajetória nos deparamos com as complexidades de um espaço  geográfico onde as pessoas muitas vezes vivem invisivelmente aos olhos do poder público e demais agentes de desenvolvimento, em sub - habitações, na difícil constatação da desigualdade. Como diz um poeta de São Miguel: “entre o trem e a plataforma há um vão e tem um rio, nesse vão o mato é capoeira, o mato teimoso. Insiste em mostrar que esse vão é chão de margem, outros vãos entre o rio e a estação... “ O vão é o hiato da cidade, a carência e a ausência dos poderes constituídos na cidade para que possa existir, pelo menos, a possibilidade de desenvolvimento ecossistêmico e, trabalhar nesse sentido, é a que desejamos colaborar estrategicamente.
Pensar a cidade como forma sensível de civilização, exige substancialmente e substantivamente para a redução das desigualdades, processos e itinerários socioeducativos, animação econômica, estímulo ao empreendedorismo,  inovações cívicas, acesso e utilização das novas tecnologias, além da presença da universidade e outros agentes em parceria com a comunidade numa dinâmica de “aprender, ensinar e intervir socialmente”.  
Agir para que as comunidades que vivem realidades complexas de subcidadania tenham acesso às inovações e tecnologias que dialoguem com o desenvolvimento e qualificação de sua participação comunitária, o que para tanto compreende aliar tecnologias informacionais, interculturalidades e disponibilizar fluxos que permitam funcionalidades informativa, participativa e interativa. Isso permite controle social, processo educativo e entendimento por parte das pessoas que vivem as vulnerabilidades provocadas por modelos, muitas vezes ineficazes de desenvolvimento urbano, das oportunidades existentes na cidade e das que podem ser criadas por elas que vivem em suas bordas, como o caso do Jd Lapenna.
Aprendemos nessa jornada que os impactos sonhados e projetados por crianças, jovens e adultos, quando da identificação da possibilidade da exercer ativamente a participação, sentimento e corresponsabilidade pela vida e pelo equilíbrio dos seres animados e inanimados de um lugar, num princípio de leitura do mundo, configura-se uma postura política, isso sempre nos estimula, ainda mais, a prosseguir num caminho que identificamos talvez como transdisciplinar, o que, mais tarde relendo Basarab Nicolescu, propõe a consideração de uma realidade multidimensional, estruturada em múltiplos níveis, substituindo a realidade unidimensional com um único nível.

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