Núcleo de Comunicação Comunitária SM no Ar

Maria Aparecida, a mulher que não pára
Uma história de estudo e trabalho

Estudei até a 1° série em Arco Verde – Pernambuco, tinha sete anos. Na escola, se a gente não soubesse a lição, a professora dava castigo. Existia aquela palmatória e a gente apanhava, naquele tempo tinha muito castigo, não era como agora, se não acertasse a lição ficava de castigo atrás da porta, isso quando a gente não apanhava com a palmatória, ai eu não acertava a lição e ficava atrás da porta, não podia conversar, não podia levantar, se saísse do lugar era castigo também.
Eu estudei só um ano, porque eu fui trabalhar, trabalhei com a minha tia em casa de família, minha mãe era alcoólatra, então eu tinha que trabalhar para poder me sustentar. Eu tinha casa para morar, mas não tinha comida.
Naquele tempo não deu para estudar, mas agora estou estudando tem uns três anos. Ano que vem eu já vou para a 4ª série. Aprendi muitas coisas com a professora, eu sei escrever e sei ler um pouco, eu não leio muito bem, mas soletro e vai indo... Ela disse que é assim mesmo que aprende.
Era duro na roça, ali não podia estudar tinha que trabalhar.
Tenho uma colega que estudou comigo e hoje ela é professora, ela conseguiu terminar os estudos, pois o pai dela tinha condições melhores de vida e ela não precisava trabalhar, então só estudava. Quando eu fui no Nordeste passear a encontrei e ela me disse que se eu tivesse estudado, seria como ela hoje, professora, pois se ela conseguiu, eu também conseguiria. Lá, muita gente desistia de estudar, porque tinha que trabalhar.
A minha irmã mais nova para estudar, tinha que limpar toda a casa. Depois que limpava a casa, tinha que dar comida para todos os animais, para só depois poder estudar. Ela precisava acordar às cinco horas da manhã e trabalhar até a uma da tarde. Às vezes nem dava tempo de entrar na escola. Assim ela estudou até a 3ª série. Minhas irmãs, Simone e Sônia, estudaram até a 3° série também, mas tinham que limpar toda a casa de uma mulher. A mulher dizia que se elas não limpassem tudo, não iriam estudar de jeito nenhum, e minhas irmãs tinham que dar conta. Já a minha patroa, não deixava eu estudar, ela falou, que se eu fosse estudar me mandava embora, não queria alguém que estudasse e trabalhasse ao mesmo tempo, queria alguém que trabalhasse o dia inteiro pra ela.
Minha mãe é Pernambucana, eu sou Baiana, mas só nasci na Bahia. Fui criada em Pernambuco, minha mãe nunca estudou quando criança, nunca teve chance. Ela foi para a escola com 60 anos e fez a 4° série. Estudar não é problema para as pessoas de mais idade, se quiserem estudar têm capacidade para isso, é só querer e ter força de vontade. Quem é dona de casa como eu é mais difícil aprender, tem muita preocupação com filho, é tudo mais difícil, mas com força de vontade também consegue.
Eu mesma não gosto de ficar parada, gosto de participar das oficinas de culinária do Galpão, de estudar, eu só não consigo ficar parada em casa, eu gosto de ocupar minha cabeça com coisas úteis.
Meu filho mais velho é meio preguiçoso para estudar e minha filha tem muita dificuldade para aprender a ler, no entanto estou sempre incentivando eles a não desistirem. O mais velho tem 15 anos, está no 1° colegial e ele já quer trabalhar, mas eu falei para ele só estudar por enquanto, Porque ele estuda e faz curso e se ele começar a trabalhar agora, vai se desanimar dos estudos. Ai sim, depois que ele terminar os cursos, ele pode trabalhar, enquanto ele tem seu pai para dar a roupa e a comida é melhor só estudar. Acho muito importante eles estudarem. Faço a minha parte, agora, só depende deles.
Moro aqui no Lapenna há 15 anos e gosto muito daqui.

Maria Aparecida da Silva Barbosa, moradora do Jardim Lapenna...