domingo, 5 de dezembro de 2010



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O jornal “A Voz do Lapenna” conversou com Ricardo Young – Conselheiro do Instituto Ethos, sobre sustentabilidade

Sustentabilidade é fazer com que as gerações futuras satisfaçam as suas necessidades da mesma forma que as gerações presentes satisfazem as suas”.


JVL: Você acha que o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil é sustentável?
Ricardo Young: Não é sustentável, porque ele explora recursos do presente, recursos esses que são finitos, por exemplo, a mineração. E ai tem um exemplo muito bonito que também vem da Noruega: uma parte muito do lucro da empresa estatal de petróleo vai para um fundo, e esse fundo é justamente para garantir a mesma qualidade de vida dos noruegueses no futuro, quando não tiver mais petróleo. Mas o Brasil não pensa dessa forma, se pensássemos não teríamos o Rio Tietê e nossos mananciais comprometidos, não teríamos apenas 7% da nossa Mata Atlântica original, e assim por diante. Se o Brasil quiser ser alguma coisa nesse século que repense os fundamentos do seu desenvolvimento.



JVL: O que seria então consumo consciente?
Ricardo Young: O consumo consciente é uma forma de satisfazer suas necessidades levando em consideração as necessidades do planeta, do mundo e repensando o porquê daquele consumo. Ele recoloca a questão da responsabilidade, do cuidado, a consciência dos recursos finitos, a redução daquilo que é supérfluo, da otimização daquilo que se consome e de garantir que aquilo que você descarta, se tornem insumo para um novo processo de produção.


JVL: O que pode ser feito então para diminuir a produção de resíduos sólidos?
Ricardo Young: Em primeiro lugar é preciso entender o porquê você consome, entender o que é uma necessidade real e o que é uma necessidade imposta. Eu preciso mesmo ter dois ou três celulares? Então o ato de consumir deve ser transformado de um ato quase que egoísta, por um ato de cidadania.


JVL: Existe alguma lei que obriga as empresas serem responsáveis pela destinação final dos resíduos sólidos que elas produzem?
Ricardo Young: Agora existe, acabou de ser promulgada, depois de 14 anos. Eleições fazem as coisas andarem mais rápido. É a Lei dos Resíduos Sólidos que responsabiliza as empresas pelo pós-consumo, obriga uma reengenharia, que a gente chama de logística reversa. Eu, empresário, tenho que pensar, antes de produzir, na destinação daquele resíduo. Então eu vou ter o maior interesse em produzir com insumos, com recursos que vão produzir o menor resíduo possível. Em 10, 15 anos vamos pensar em como nós vivíamos em um mundo completamente demente, porque nenhum produto que a gente vir a consumir no futuro será desperdiçado. Ele poderá mudar o seu uso, a sua destinação, mas desperdiçado, jamais.

JVL: É um retrocesso no Brasil investir em indústrias que usam derivados do petróleo na produção de energia?
Ricardo Young: É um super retrocesso. O pré-sal inclusive é um dos bons exemplos de como estamos pegando o desvio da direção errada. O petróleo é um recurso muito nobre para ser desperdiçado e queimado da forma como a gente fez no século XX. É um enorme desperdício, é uma baixa eficiência mesmo o uso do petróleo como combustível. O que a queima do petróleo produz de resíduos, é infinitamente maior do que produz de calor e energia. Além da energia fóssil não ser uma energia eficiente, Claro que temos avançado, os motores hoje poluem menos, então estamos vendo mudanças, mas o pré-sal é um retrocesso nessa caminhada. Além do fato de que o Brasil tem o Etanol e tem o motor flex, temos condições de manter a nossa matriz energética limpa, não há nenhuma justificativa para se sujar. Nós temos vento, nós temos sol.

JVL: Então porque até agora não substituímos o petróleo como matriz energética? Há outros interesses?
Ricardo Young: Claro que há. Pouca gente sabe o acidente do Golfo, no México, com a ABP, só ocorreu porque se rebaixaram as normas de segurança para exploração de petróleo em águas profundas nos Estados Unidos. O padrão que a ABP usou, ela já não usava a pelo menos uma década no mar do norte da Europa, a Petrobrás não usa aqui. E houve todo um “lobby” do petróleo e o que aconteceu no Golfo é um prejuízo impagável. Além de ter quebrado a ABP, nós estamos falando de duas gerações moradoras daquelas costas dos Estados Unidos que sobreviviam da pesca.


JVL: Com essa mudança de atitudes, a longo prazo, quais transformações poderão ser notadas?
Ricardo Young: Teremos mudanças comportamentais importantes, eu acho que as pessoas começam a olhar melhor o que elas estão consumindo, elas começam a buscar mais informações. Mesmo que continuem às vezes jogando papel na rua, se descuidando do lixo, elas já fazem isso com algum remorso. Eu acho que nós, sociedade de informação, temos o benefício da difusão dessas informações. Há cinco anos atrás não estaríamos tendo essa conversa e daqui há cinco anos teremos conversas que jamais imaginaríamos que poderíamos ter.


JVL: Então a sustentabilidade será o tema das discussões mundiais nos próximos anos?
Ricardo Young: Hoje, talvez junto com a crise financeira, é o tema mais importante do mundo.Os governos não estão preparados para uma governança global, porque eles olham para os problemas globais a partir da sua perspectiva de soberania nacional. Então eu olho o problema da emissão de gases do efeito estufa a partir do impacto que isso vai ter no desenvolvimento do Brasil, e a questão não é essa. A questão é como é que você olha para os problemas nacionais a partir de uma demanda global, e os governos não estão preparados para isso, estão preparados para se pensar territorialmente e de forma soberana. Quem está pensando o mundo a partir de uma agenda global e procura traduzir isso em ações territoriais são as empresas e os movimentos da sociedade civil organizada, as ONGs. Por isso que o grande comando da agenda da sustentabilidade não está sendo dada pelos governos. E quem paga a conta da insustentabilidade são as pessoas de baixa renda, porque são elas que não tem acesso à água tratada, são elas que não tem como se proteger das enchentes, Então a questão de sustentabilidade também é uma forma de proteger as pessoas de baixa renda dos desequilíbrios todos e das conseqüências de não se considerar a questão ambiental e da sustentabilidade nas políticas públicas. Isso é muito importante.

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