quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Receita de Pudim de Enchente à citadino



Querida leitora Paulistana, a receita que trazemos hoje, apesar de complexa, tem ingredientes que você encontra em sua cidade e procedimentos que se tornaram comuns na culinária contemporânea citadina. Primeiramente pegue um planalto, de preferência no sudeste do Brasil, impermeabilize as margens dos rios e estabeleça barragens ou melhor, divisões de pista nas marginais, que tanto servem para organizar o trânsito absurdo, fruto de um consumo desmedido e de muita queima de combustível para pouca energia, quanto para armazenar quantidade de água necessária para arrastar gentes, veículos e destruir casas.



Misture tudo isso, numa tigela da marca “Ausência de Políticas Públicas”, para democratizar as infecções, toxoplasmose, leptospirose, meningites, febres, etc. Junto com essa mistura, peça para alguém do poder público preparar a massa para assistir um espetáculo muito além do Cirque Du Soleil com milhares de ratazanas, ratos camundongos - nadadores, com uma pitada de apoio sensacionalista da mídia sem prestação de serviços de esclarecimento público. Lembre-se que você deve mexer essa tigela com todos esses roedores até apurar e demonstrar compatibilidades entre a multiplicação desses animais com o modo em que nós humanos vivemos nessa cidade.



Fazer esse pudim de enchente não é para qualquer um, somente para pessoas especiais. Para se tornar apta a dar seqüência a essa receita, você, querida leitora, deve consumir inadvertidamente produtos cuja as embalagens degradem o meio ambiente e, sem destinação final, fica somente a certeza de que a navegação destes pelas ruas, avenidas e praças, trazem graves conseqüências, tanto para seres humanos, quanto para os roedores, baratas que, com os bueiros tampados esses bichos, precisarão construir outras vias de acesso às suas cavernas abarrotadas de restos de comida e tantas outras coisas, numa espécie de outra cidade debaixo da que vivemos e não cuidamos.



Para que seu pudim fique o tempo necessário no forno e você não fique ansiosa para comê-lo, você, querida leitora, pode passar o tempo, principalmente em dias de chuva, a jogar latas e demais resíduos na rua, apreciar o deslocamento desses resíduos pelo espaço urbano, ao invés de pensar, por exemplo, na possibilidade de mudar seus hábitos de consumo.



Não, não pense nas gerações futuras, aliás, você precisa aprender a nadar e adquirir, além do seguro de vida, uma roupa apropriada para enfrentar enchentes, roupa essa que a Nasa, em breve, lançará em parceria com grandes empresas a um preço estratosférico, mas tem coisas que o dinheiro não compra, para todas as outras você, querida leitora, pode fazer no cartão em 10 desastres ecológicos, com os juros para os outros que nascerão ou, para amenizar a catástrofe com correção do modelo de desenvolvimento que você apóia com suas atitudes.



Por falar nisso, continue a comprar tudo aquilo que lhe alimenta, sendo que quanto mais embalagem melhor, para você, sozinha, bater o recorde como a maior produtora individual de resíduos sólidos, se preferir, você pode juntamente com familiares e amigos, participar do prêmio “Lixeira de Ouro” que a FILA – Federação Internacional do Lixo Arrasador – entidade que incentiva à produção e descarte indevido, promove anualmente.


Perceba, prezada leitora, a necessidade de praticar e viver considerando os 3 Rs como Rato Roeu Resíduo e não reduzir, reutilizar, reciclar e outra é bem melhor para você uma boa camada de marshmallow do que a camada de ozônio.



Por falar em camada de ozônio, queime bastante petróleo, quanto mais melhor, afinal de contas, a conta é paga por todos e tem pré – sal, aliás não utilize outra fonte de energia. Ah, gaste bastante energia elétrica, afinal choveu bastante e você, com sua inteligência, sabe que a água é farta nesse planeta, se precisar temos certeza de que você, querida leitora, beberá a do mar com toda poluição, também presente nos oceanos, advinda dos aterros sanitários litorâneos e levada pelas marés num cruzeiro - carona propiciado pelas correntes, que não conseguem fazer a coleta seletiva, claro, porque são correntes marítimas.



Acrescente nessa produção – receita, enquanto o pudim está no forno, sobras de celulares, baterias e demais resíduos – lixo eletrônico – no seu descarte, afinal, para que devolver ao fabricante e, atenção, um novo celular, querida leitora, você encontra a cada dia, a preços módicos e pagamento facilitado.



Misture tudo isso e pense em você, na sua comodidade e no direito de consumir tudo que lhe vier à cabeça, assim você estará jogando a sua cidadania do lixo que nesta – terça – feira, 10 de janeiro de 2011 deve estar boiando por ai, em meio à enchente, gentes, destruição e tanta irresponsabilidade.


Ah não esqueça de relaxar, pois você merece, enquanto o pudim está no forno, uma cidade melhor, pois essa que você ajudou a destruir também é fruto de uma escolha que você fez para si, porém esqueceu do resto, aliás o resto a gente joga no lixo, não é mesmo, querida leitora.



Agora pode abrir o forno. Mas onde está o fogão, não, meu deus, a água invadiu a sua casa, a minha, a de tantos outros, estamos boiando, socorro, socorro, socorro, glub, glub, gllll ssssssssss +

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