Ronaldo, futebol, Foucault e cidadania
Sou de uma geração que viveu entre dois amores intelectualmente considerados antagônicos: a paixão pelo futebol e o desejo revolucionário das décadas de 60 e 70. Influenciado pelo pensamento de maio de 68, razão pela qual comecei a me interessar por Foucault, apesar de que tinha como ideologia romper com a influência européia, e isso acarretava também ser contra o modelo universitário da época.
Alimentava também uma raiva, hoje mais controlada, em relação aos Estados Unidos, aliás esse controle me fez afastar, ou melhor deletar (verbo contemporâneo de influência microsofteriana) qualquer desejo de arremessar meu aeromodelo contra qualquer torre gêmea em miniatura, é bom explicar, bem explicadinho, portanto “não matarás” – mandamento hebraico – cristão.
Aos poucos creio que admiti a possibilidade de ter um pouco de conforto, estilo novaiorquino, manhatan por exemplo: um sofá, uma coca – cola, ver na TV a estréia de Pelé num time americano, isso nos tempos pós tricampeonato, Jules Rimet que sumiu e, naquele instante, eu me recordo, meu pai anunciava, entre seus goles e copos de uma bebida que mais tarde até Mano Menezes anunciou, que o Bola Preta do Bom Retiro, time formado por negros e descendentes de italianos, encerrara suas atividades.
Claro que tentei ser jogador de futebol, mas minhas potencialidades identificavam-se com outro esporte, o futebol de botão, fui campeão da 1ª Copa de Futebol de Mesa Brás, Bom Retiro e Barra Funda , troféu que guardo até hoje, também para no caso de de ser obrigado pelo meu patrocinador de conceder uma entrevista para algum programa de esportes, seja sensacionalista – incitador de atos desagradáveis, com alguns da hora do almoço, com audiência espetacular, ou até mesmo aqueles que não dão audiência nenhuma, pois acreditem, são ponderados, assertivos e éticos, porém ambos com muitas ofertas de produtos e bebidas alcoólicas a construir na cabeça de pequenos “Ronaldinhos” a associação futebol “e a certeza de ser brameiro“ com “H“ ou sem “H”, mas na hora “H” para influenciar negativamente o público, o que muitas vezes nos leva a pensar em chamar o CONAR, creio que esse órgão não apita mais, para impedir essa propaganda em horários e para públicos indevidos.
Mas ao ver em rede nacional privada a imagem de Ronaldo chorando em seu anúncio de despedida, enquanto cidadão refleti sobre a trajetória de um fenômeno da bola, que se tornou também um fenômeno publicitário e um fenômeno de superação, diante de inúmeras quedas a prejudicar seus joelhos e a própria cabeça em alguns momentos, e nós, torcedores implacáveis, um bando de loucos, os quais muitas vezes com nossos atos jogamos nossa cidadania para longe do gol e apesar de termos tireóides bem mais equilibradas que o craque que se despede, ultrapassamos os limites da responsabilidade com nossas manifestações inconseqüentes.
As lágrimas que invadiram os sites, as casas , os blogs, os twitters e as ruas, refletem ou deixam um recado para que pensemos o esporte enquanto cidadania , e nada contra o capital e a lucratividade, mas pelo menos sei que é difícil equilibrar essa partida, em nome dos joelhos, das cabeças e das almas de milhões de crianças e adolescentes, que assim como fenômeno Ronaldo, usam seus corpos para portabilidade cultural, muitas vezes a esmprestar suas habilidades à uma produção de comunicação, na qual o exagero desconidera a essencialidade humana.
Valeu RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRonaldo.
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