A necessidade de comunicação local para descoisificar a cultura
Prof. Otelo Cembira dos Reis
EMEF Pedro Paulo Alcântara – Maranhão
“Precisamos aprender a olhar uns aos outros com outros olhos, nossos olhos, para refazer o amor por nossa terra, por nossos saberes, pela cor e pelo cheiro de nossa pele”.
Raquel Sosa Elízaga
Diante da acronia e da sensação de ausência de um lugar definido como pólo irradiador – referencial desses tempos pós – modernos - em muitos micro pontos espaciais que poderiam fazer sentido, sentido de lugar - localidade, considero necessário estabelecer o chão, a base reflexiva, para mudar a história da permanência da desigualdade. Para tanto, um exercício educativo, cultural e político é intrínseco à transformação, pois os insensatos são os únicos a fazer questão da desigualdade.
Sim, existe a necessidade de legitimar junto aos moradores das localidades vulneráveis e de influenciar os atores sociais, para a implantação de emissoras de rádio e TV locais voltadas à reflexão com sentido educativo e claro propósito de contribuir para com a transformação e conseqüente desenvolvimento desses pedaços do mundo, onde a ausência do estado e de políticas públicas é uma constante. Pedaços do mundo vitimados também pela estratégia de coerção e controle que consiste atualmente, no abuso sistemático dos meios de comunicação com sua hegemonia e conteúdo de qualidade questionável.
É preciso intervir no espaço público, envolver as pessoas, jovens e adultos, num processo de produção comunicacional, a partir de reflexões que remetam a um pensamento crítico, no sentido de transformar nossas cabeças e nossos horizontes, num exercício de confiança sobre as soluções que podemos propor para recusar um pensamento único, recusar o que é uma espécie de falsa religião de mercado que nos distancia da possibilidade de descobrir o potencial criativo e produtivo daqueles que realmente necessitam da mudança substancial do modelo de desenvolvimento adotado e seguido.
Porém, para que seja possível um entendimento coletivo de que é necessário criar canais locais de comunicação, temos que ter vontade política e, para isso, precisamos recuperar nossa capacidade de localização histórica e geográfica, democratizar o acesso aos modos de produção cultural, multiplicar os pontos interculturais, conquistar freqüências para os veículos de comunicação comunitária e / ou mídia cidadã num espectro predominantemente ocupado por uma comunicação hegemônica e fragmentadora, por isso tudo deve começar na rua, nos espaços públicos, perto das casas, para depois ganhar mais na vida na ecologia pluralista das mídias locativas e nas redes configuradas do local para o global, nesse que se torna o maior patrimônio da humanidade, o espectro eletromagnético que é a internet, que aqui ressalto: é de todos, assim como a rua.
Além disso, urge conhecer e reconhecer nossas peculiaridades culturais e identidades de vidas vividas nessa e em tantas outras cidades em que a invisibilidade substantiva a adjetivação do povo, da população, da multidão a desprezar as singularidades, a aderir o viver num enxame, onde ninguém faz a história, ou seja, entramos em histórias que não são nossas, perdendo nossa capacidade mnemônica.
Precisamos construir uma escola que rompa com o sistema de controle – subordinação, às regras de um mercado cruel e insustentável, alimentado pela coerção e desmemoriamento. Sendo assim o diálogo entre escola, território, comunidade e família precisa ser estimulado, para que a interculturalidade nesse diálogo gere movimento de transformação da sociedade, pois se somos livres, e isso implica abandonar a lógica da humanidade em relação ao que é humano, devemos olhar para a reunião de pássaros e repensar, quiçá organizar a vida, as leis, o trabalho, consequentemente se deslocar do individual para o comunitário.
Não é um sonho. Precisamos nos afastar da idéia de que precisamos sempre seguir lógicas e determinações de comportamentos culturais, quando na verdade, as referências dessa sociedade espetacular ainda alimentam nossa vulnerabilidade, o que contribui sobremaneira para coisificar o incoisificável, a cultura, tornando-a mero objeto do desejo de consumir, atendendo demandas que só dialogam com a lógica de uma economia de mercado, distante das singularidades e perspectivas de uma economia criativa e transformadora.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
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