sexta-feira, 30 de março de 2012


Futebol e torcidas tragicamente organizados



Joseval Peixoto Jr.

Radialista da Rádio Marília FM




Tiroriroli, tirorirolá, zona do agrião, gorduchinha, reizinho do parque, divino, craque café, gauchão de ouro, pernas tortas, Garrincha, gauchão de ouro, brinco de ouro da princesa, jardim suspenso, fazendinha, glorioso... Tantas metáforas e metonímias a partir da arte de jogar futebol.



Lembro ainda de ginga, dança, drible, voleio, sem pulo, trivela, de primeira, da folha seca, paradinha, de letra, drible da vaca, lençol, chapéu, carretilha, enquanto que na torcida, na arquibancada a banda com sopro e percussão brilhava, numa interação e diálogo emocionante com tantas e diversas culturalidades de estar presente na cidade, no estádio, com as características e as singularidades individuais e coletivas. Ah, os jovens confeccionavam suas bandeiras e ir a um jogo de futebol era relacionar-se, divertir-se e admirar os lances, a técnica e a arte intrínseca a esse esporte de contato.


O tempo passou e os torcedores – admiradores e até pretensos “boleiros” ficaram em casa e os estádios e seus arredores são dominados por agremiações bélicas, comandadas por estatutos tácitos comparáveis a noções e atitudes similares ao que ocorreu lamentavelmente na região da antiga Iugoslávia, quando da limpeza étnica, por exemplo.


São inúmeras as referências comportamentais para esses torcedores – bombas que desejam a vitória dos seus times a qualquer preço. No futebol globalizado a atitude de quem assiste até as táticas e esquemas enrijecidos, provocam a ausência de beleza e da arte, contaminam as práticas que dialogam inclusive com a paz, a boa convivência e liberdade para criar jogadas, tomara que não atinjam as mulheres que podem ser a nossa esperança de reacender a chama das virtudes desse esporte.


O ódio e o revanchismo também alimentado pela estética, abordagem e conteúdo da grande mídia sobre, por exemplo, do que se convencionou chamar de clássico ou dérbi, traz conseqüências ainda mais trágicas à relação entre os aparatos paramilitares que se tornaram as torcidas que, num pleonasmo recorrente, organizam-se para a guerra com poder de influenciar, até mesmo, os seres humanos que estão em campo, estes que vivem momentos de esquecimento da portabilidade cultural e publicitária, além da responsabilidade social representada pelos logos, marcas das empresas que carregam em seus uniformes, e partem para ignorância, gerando imagens espetaculares diante da ausência de grandes jogadas.


Conseqüentes tragédias ocorrem e garotos morrem, em meio a toda essa babélica e violenta configuração. Traumatismos provocados por instrumentos mortais, proliferando contatos internéticos com ameaças e desprezo pela vida, uma “roleta russa” presente em todos os estádios, em todos os espectros, nascida e alimentada pelo ressentimento e ódio, a exalar o cheiro da morte a interromper tudo o que se contrapõem a esse estado de coisas voltadas a uma relação violenta entre todos nós.


Sim todos nós, humanos? Em dois times: Autores dessas Terríveis Atitudes Futebol Clube, ou Esporte Clube Expostos às Conseqüências Letais no nosso cotidiano citadino, seja nos transportes coletivos, nas ruas, nas calçadas, enfim em tantos lugares.

Que as torcidas sejam totalmente desorganizadas em suas aspirações de matar ou morrer e que necessariamente, no próximo gol, não haja comemoração, pois nós perdemos nossa relação com o esporte, a cidadania e a dignidade humana.


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