As exemplaridades esbarram nas não exemplaridades
João Lino Marques de Freitas
São Luiz – Maranhão
Vivemos dias nessas quebradas do mundo em que o interesse por uma vida melhor individualmente, ultrapassa a potência necessária de participação comunitária para exercer e se reconhecer nos movimentos para o bem viver coletivo.
Ações e mobilizações na maioria das vezes aquelas germinadas nas organizações não governamentais, com suas respectivas abordagens educativas, voltadas ao envolvimento das pessoas em causas e necessidades comuns, esbarram na apatia e por mais que sejam também fundadas na exemplaridade das mobilizações e ou conquistas exitosas, até mesmo da própria comunidade, sofrem os abalos do império do efêmero, dos fetiches e dos psico - fluídos emanados por um senso comum alicerçado e alimentado pelo ideário de uma vida melhor associado a consumir mais, num consumo não consciente, em ter o poder de superar as adversidades com os recursos necessários da ação vivente de comprar um estado de bem estar, comprar o conhecimento, comprar a saúde, comprar o transporte, etc, a garantir o estado de direito como uma espécie de estado de consumo de direitos.
São princípios e lógicas entrelaçadas por uma oikonomia viciada em desarrumar a casa de muitos e garantir a arrumação e benefícios para casa de poucos, sendo que todos estão em uma grande casa, o habitar, o planeta, o mundo. Mas aqui cabe a pergunta de uma moradora desse imenso Maranhão, ela que tem o poder de curar desde espinhela caída, doida, até gota e tumores, ela diz: ora, não vivemos na mesma casa?
Vejo crianças nesse momento, aqui na periferia de São Luiz, em meio aos automóveis e motos que a cada dia se multiplicam, nessa mancha urbana, onde a ausência de políticas públicas reforça a tese de que tudo aqui dialoga com o inexistir, sendo que a contribuição mais significativa desse lugar é estar nas pesquisas para medir o desenvolvimento humano, e o PIB não tem luneta e nem fatia, porções, diálogo e relação com esse lugar.
Por falar em poderes locais esse espaço geográfico, no qual nesse momento escrevo e reflito, tem a garantia de uma espécie de controle social garantida por um aparato do crime organizado. Seria essa a idêntica lógica de responsabilidade social de tantos outros atores, uma espécie de política de contenção para não afetar os negócios e a lucratividade, mantendo o modelo insustentável que ai está?
Nessa toada do crime também se arregimenta jovens para uma espécie de submundo do trabalho, com uma decorrente geração de renda, capaz de permitir uma portabilidade cultural, por meio de seus corpos a carregarem marcas reverenciadas pelo imaginário dos jovens urbanos, e muitos deles permanecem reféns de fatoriais e probabilidades infelizmente trágicos e até letais.
Um sentimento de fraqueza e de impotência diante dessa realidade social da juventude da quebrada do mundo, tão perto e ao mesmo tempo tão longe de nós. Exageramos até mesmo em nossos suntuosos encontros para discutir a vulnerabilidade social, em banquetes e absurdamente sempre estamos dispostos a apoiar o que seria consequência das descobertas, antecipando o processo e impedindo as experimentações, cobrando dessa galera o empreendedorismo já, para assim poder inserir nas estatísticas de redução da vulnerabilidade juvenil, bem como nos relatórios das grandes corporações, a prática exitosa no quesito da responsabilidade social.
Será que estamos investindo na transformação social, ou continuamos a imprimir a prática da contenção social?
sábado, 7 de abril de 2012
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