terça-feira, 22 de janeiro de 2013

 Cenas citadinas da urbe no mínimo convalescente

Diário de um andarilho e seu ideal comunitário

Manhã. Um partícipe do processo de um ideal comunitário se desloca pelo espaço urbano composto por uma multidão de aldeias. Citadino solidário, filantrópico e fraterno, em meio às leituras e reflexões percebe o surgimento de novas comunidades de identidade na urbe entrecortada por vias, veias, artérias e pontos de fuga.

Traz consigo, durante o trajeto cotidiano, questões, objetivos e intencionalidades para provocar, no processo de troca experiências e saberes com as pessoas com as quais se relaciona diariamente, perspectivas e descobertas para contribuir com a transformação de realidades.

Sim, esse senhor integra um coletivo que aos poucos percebe a necessidade de inaugurar um processo de gestão e ações, composto de políticas e práticas abertas, no sentido de estimular a construção de recursos advindos de fontes locais e até mesmo de grupos econômicos, muitos dos quais precisam ser sensibilizados, por meio de estratégias e/ou convencimentos da necessidade de investir no desenvolvimento dos pontos, localidades de uma cidade afetada por quiasmas e interesses escusos de verdadeiros conluios de “investidores de causas próprias e escusas, travestidos doadores”, substancializados pelo processo de ascensão ao poder da cidade, desse ou daquele grupo.

Quando a porta do vagão se abre, nosso personagem real, esse senhor se levanta para desembarcar em São Miguel Paulista. Já acontecera, certa vez, dele perceber que passara da estação quando avistou Aracaré. Mas a porta se abre. Uma criança na plataforma com uma redinha na cabeça, dessas de colocar batatinhas. Criança sentada na plataforma, metáfora da espera ou do cansaço, quem sabe até metonímia da sobra, o que o leva a lembrar do pé de um menino lá da cracolândia.

O homem caminha então pela plataforma. Pensa no desafio, resultado esperado pelo coletivo filantrópico – comunitário o qual pertence: estabelecer congruência dos atos, potências e ações capazes de articular e reunir esforços, para o Fortalecimento da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente. Sim, são tantos pés, cabeças, corações de meninos e meninas desprotegidos, diante efeitos colaterais de nossa cidade composta de órgãos que não se relacionam organicamente, sim um pleonasmo doentio, somado a insustentável dinâmica de nossas vidas.

Escorrega na escada e ao se segurar no corrimão amarelo descascado pelo suor de tantos usuários, o homem lembra da fala de Dona Maria Anastácia do bairro União de Vila Nova, sobre a desilusão das pessoas com o governo. Ele se ajeita, pois sua bolsa caíra, recolhe do degrau o caderno, o qual carinhosamente batizou de “caderno de refletir mundo”, nele guarda histórias, poesias e planos de bem viver junto...

Ah, a necessidade de concretude das rodas e redes do educar... Um vento reconfortante acalma sua vertigem e uma emotividade toma conta de sua química orgânica, ao recordar da manifestação de um dos muitos jovens da lida de aprender e ensinar a qual pertence: “aprendi que podemos e devemos mobilizar as pessoas, não só para solucionar problemas de seu bairro, mas para propor a construção de uma cidade educadora, sensível, fraterna e solidária.

São 07 horas da manhã e, ao sair da estação e seguir o caminho para um Galpão que escreve, canta, recolhe e irradia histórias, ouve dos senhores que vão à sua frente uma melódica conversa, a revelar na estética quase musical, jeitos, sotaques, ritmos... As narrativas estão vivas, a literatura existe assim muitas vezes sem sabermos que ela existe, portanto ela existe inexistindo.

Mas a vida segue. Caminhões baforam na Praça do Forró. Há tantos espaços na cidade para a produção de significados, a partir das vivências, descobertas e desejos de ser integrante de tantas tribos. Agora mesmo, o ponto lotado, o amarelo dos ônibus, o branco da capela, os cachorros, os pássaros, cambacicas, no vão da obra da nova estação avista-se ao longe a serra da Cantareira.

A cidade parece querer falar, as calçadas são bocas com lábios de metais. A passarela de concreto, atravessar a linha, uma pequena pausa debaixo da árvore que alcança o concreto armado. No final da rampa, já do outro lado, a água de coco, o churrasquinho, o pastel, a farmácia com a faixa de agradecimento do político, a loja de material de construção...

Descer a rua e se sentir integrante, partícipe, porém similar a um conto de Aglaura, intrusão de estranhezas, a cada dia a dia revelação de histórias, narrativas, descobertas. Curar a doença da cidade, a nossa doença, avançar e fazer valer a máxima de que tudo está em tudo, o trabalho, o amor, a paixão, o simbólico, essa intensa comunidade de sentidos, talvez ingredientes indispensáveis para a fórmula de curar essa cidade, quiçá o mundo das cidades visíveis e invisíveis.

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