sexta-feira, 12 de abril de 2013
Diálogo de dois
jovens no trem e o observador é flagrado.
A moça empregada
doméstica e o moço segurança da boate
- Nossa, é você mesma, aquela menina pequenina,
filha do Tijolo, irmã do Guma. Você, naquele barraco brincava com todo mundo
nos dias em que a gente jogava “Pife” –surpreso com o encontro, observou
Edelson.
- Sou eu, isso mesmo, a Evelyn, antes a menina,
agora mulher crescida, na luta como empregada doméstica – salientou com
ares de atestado de emprego, misturado com percepção do interesse de Edelson
pelo seu corpo, pernas esticadas sobre o banco do trem.
- E o Guma? Como anda teu irmão?
- Tá desandado, entra e sai da Fundação Casa, se
juntou com o “Mi” nesses esquemas de assalto, mas como é “de menor” vai e
volta, “L.A.”... Enquanto isso o “Mi” tá de boa tem a proteção dos “primo”, assim
diz ele. Mas você tá engomado, tá trabalhando onde?
- Sou segurança de boate de uns bacanas, maior
esquema, “os cliente” dá hora, “gorja das grossas”, só mulherada bonita, assim
como você, só “mulherão”. Fico de olho para assegurar a festinha que rola, vige
o pessoal faz de tudo... – pronuncia Edelson com imponência.
- Você deve ganhar bem?
- Ah, tipo uns dois contos, mas como sou sócio da
biqueira do Jair, lembra dele? ... Então, levo mercadoria pros bacanas e daí
minha renda chega a “quatro conto”, dá ate para pensar em casar com moça bonita
como você.
- Casar, vige!! Estou bem, assim, solteira, dando
um trampo. E de onde tem droga quero distância. Além do trauma de ver meu pai
na cadeia até hoje, mais minha prima que se viciou quando casou com o Tomate e
agora teve criança que o Conselho Tutelar já tirou dela. Eh rapaz, e esses
olhos grandes para o meu corpo... – finaliza Evelyn com ares de
reprovação.
- Eh Evelyn, não tô de olho não. É o chacoalho do
trem que dá essa excitação, mais as lembranças lá da casa noturna. Eh, vai,
vai, você é bem bonita. Ué, não pode olhar? Vai dizer que você não gosta de
namorar? – provoca Edelson.
Olhar, até pode, Edelson, mas atualmente meu corpo
é do Senhor Jesus Cristo que me salvou, pois a minha família, depois de tanta
desgraça, sem casa foi morar num outro barraco e o fogo levou. Hoje dei a volta
e não quero regressar ao poço que o Nosso Senhor me tirou – protege-se Evelyn, religiosamente.
- Em relação à religião respeito a escolha e, para
mulher, acho até bom. Penso até em casar, to procurando alguém, mas sempre
quando acho que encontrei, abro o coração como agora – investe amorosamente Edelson.
- Bem, tenho que descer aqui em São Miguel. E o
senhor está olhando para gente, anotou tudo ai, no seu caderninho? – percebe Evelyn, meu monitoramento.
- Achei a conversa interessante – respondo meio sem jeito – dirigindo – me
à porta do trem que se abre. Edelson grita de lá dentro, o senhor é escritor ou
é polícia? Sou educador, respondo acanhado e ganho um folhetinho da igreja de
Evelyn.
Edelson fica a espreitar na janela. Digo a Evelyn
que gostaria de passar a limpo o que escrevera. Ela me diz que quem realmente
decide é Nosso Senhor. Caminho, passo largo, Praça do Forró, atravesso a passarela.
Evelyn me disse a pouco que trabalha na Vila dos Americanos, numa casa de
família, perto do restaurante Piassi.
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