quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Para uma menina do Jd Lapenna o direito à cidade é um grito, 
um grito e um desejo.

...perceber que o mundo abunda em si mesmo, 
e precisa ser jardim regado por fatores espirituais
e simbólicos transformados em ativismo.

Ao caminhar pelas formas de viver consideradas lúcidas,
percorri vias teratomórficas da cidade, insisti em refazer o mundo
com o desejo do meu coração, envolvi-me na tentativa, com outros citadinos,
na tarefa de refazer a cidade e nessas ações senti que refazíamos a nós mesmos.

Para seguir nessa viagem tive que a princípio esconder,
entre elementos da via recta da razão, o onírico, o lúdico e o festivo,
pois essa tríade foi considerada, erroneamente pelas instituições, como sobre peso
e mera distraidora da convicção de um caminho para a imposição de uma razão
e uma seriedade previsíveis, a qual levou os citadinhos a se contrapor
e perceber que o direito à cidade é o direito de mudá-la
mais de acordo com o desejo de nossos corações. 

Porém na bacia semântica das intenções,
o espaço urbano metamorfoseou-se
para atender nossas aspirações mais fúteis.
Assim, nossa condição de cultivar o éden
que nos foi dada com as cercas do capital e seus fetiches,
incitou-nos a invadir e comer as maçãs 
dos mantenedores de um oikós do ganha perde,
uma dinâmica de deliberação de decretos concretos tácitos,
de que os que não estivessem programados para erigir-se
e participar no processo de dominação da terra – urbe,
seriam empurrados para as bordas da cidade, submetendo - se
aos híbridos cérebros reptilianos e à dominação consentida e legitimada
até por nossas opções para bem viver, como deseja de forma similar
a Deusa da razão na injunção divina:
que o homem domine os peixes do mar,
os pássaros do céu, o gado,
todos os animais  selvagens
e os pequenos seres”.


Nesse momento em que escrevo,  
ao olhar a formiga percorrendo uma mesa,
mesa a qual está na cozinha de um Galpão
com tantas outras salas, e que esse Galpão
está num espaço urbano composto de casas,
árvores, rios pássaros, e que em cada casa
há gentes que pouco olham para as arvores,
onde pousam os pássaros que comem sementes,
e que essas sementes caem nos caminhos, na terra,
e esses caminhos também são compartilhados com  os rios,
e que no processo de separação / dominação
o mito do progresso adoece e epidemiza a todos
a romper a participação mágica
o que provoca a morbidez,
pois é vital nesse mundo
e aqui nessa poieis urbe
perceber que o mundo
abunda em si mesmo, 
e precisa ser jardim
regado por fatores
espirituais e
simbólicos
transformados
em ativismo.

A criança corre no chão do asfalto petróleo
hibridinizado com aterra da várzea do rio,
e mais o extrato dos dejetos e efluentes
dissolvido e revolvido, numa seqüência regida
por uma tábua que define o homem criador
que com seu ato gesto, gesta, domina
abre ruas, vilas, vielas, torna real,
constrói realidades, casas, barracos,
ocupa, constitui uma realidade,
e tudo é quantificável,
tudo e todos servem
para alguma coisa

e, mesmo, em meio a degradação indomável
corre a criança nesse chão misturado,
outras crianças se juntam a ela,
adentram aquele galpão,
onde num dos lugares
dessa totalidade
do espaço
urbano,
uma formiga na mesa
desperta e reforça a idéia
do direito à cidade.

Sim, conversam essas crianças sobre o direito à cidade
Agora em meio os cantos dos pássaros, a tensão do território e o som do rádio.

Para uma menina do Jd Lapenna
o direito à cidade é um grito,
um grito e um desejo.
O adolescente observa que esse grito
E esse desejo só ganham força quando
Existe um espaço para sejam visíveis.

No final da tarde um jovem afirma:
“quando mostramos nossa força, nosso grito
e reclamamos o espaço público,
tornamo-nos públicos. 

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