quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O que é inexperienciável para muitos – e as novas experiências
da juventude urbana até então invisível

O jovem a experimentar as tantas ofertas das bordas do mundo, sem que isso se torne experiência, a viver e consentir com códigos e procedimentos construídos com o cimento da derivação de versões e inversões de uma moral absoluta, mas com as tergiversações da necessidade de ser notado, porém no meio dos conflitos entre as forças de segurança da cidade e os empreendedores extremos da criminalidade, o jovem transforma-se em alvo e atirador. Assim, nesses últimos dias, a cidade acorda e adormece assustada .
A justiça, por sua vez, defende o patrimônio materializado pela desigualdade e pelo cenário secular composto de dominadores e dominados. Levantam-se assim os corpos juvenis que escapam, por sorte, do extermínio moral e físico. Arremessam, até mesmo, contra os "arcanjos moderadores", as placas de publicidade e o fogo prometeico, com toda potência de Eros, este com sua consequente oscilação nessa sociedade, em função de sua mítica ascendência: Eros é filho de Poros – deus da abundancia e de Penia – deusa da pobreza.
Verifica-se assim a cisão entre o desejo e a necessidade, porém os fetiches piscofluídicos capitais e de mercadorias invadem as mentes dos meninos e meninas e, diante da morte de mais um, dois, três ... enfim, o que até então configurava-se como cruel normalidade, passa a motivar a ira dos serelepes – moleques para tornar visível a sua presença, a sua existência, em meio ao desespero da cidade acometida de uma doença crônica, não identificada, nem tão pouco nominada institucionalmente e, para esse doença, é receitado um mero placebo. 
Pereptoriamente nossa sensorialidade capta as intermitências da hemorragia dos espaços citadinos e as intervenções urbanas obstruem as vias de escoamento da riqueza produzida  porém concentrada na mão de poucos, sendo que o excedente é repartido com o enorme contingente de “inorganizados”, assim julgados pela dinâmica do deslocamento da existência no frêmito do dinheiro.
Afinal, a sociedade civil, comovida, por vezes muito preocupada em compensar a lentidão e emperramento da máquina do poder público, insiste em projetos que perpassam desde o fortalecimento das famílias, formação de jovens para geração de renda, apoio e contribuição para melhorar a qualidade da educação até incentivos para criação de espaços para pensar e propor meios e condições para garantir o direito à cidade.
Mas muitas inciativas são desenvolvidas de forma fragmentada, atendendo métodos e fórmulas de total estranhamento do público alvo, nas intenções, ideias e projetos voltados à redução das desigualdades, mas com muito mais potência em atenuar e mitigar a dor social, do que para mudança efetiva da forma de viver junto.  
Enquanto isso arde o fogo de uma revolta originada na atroz expropriação da experiência. Um vazio de experiência para quem lida com a lida da educação, evidenciando a existência de dois mundos: a república dos bons sentimentos com os conceitos estabelecidos pelo pensamento oficial e o mundo das marionetes endurecidas, saltimbancos infelizes, crianças armadas pela desventura social, na exacerbação do que consideramos agressividade e, desprovidos que somos de uma visão e atitudinal de uma educação intercultural, tornamo-nos também vulneráveis.
Estamos, enquanto educadores, suspensos entre esses dois mundos e o que julgamos ser a experiência cotidiana, vivida e surpreendente. Observamos a desconexão das receitas e métodos elaborados por políticas de educação com as nossas ações de construir, nos lugares de aprender e ensinar, o que produz um abismo nas interrelações nos espaços educativos, sem efeito para ressignificar a escola no território e o território dentro da escola, consequentemente a ocupação do espaço público para a irradiação do simbólico, o ajuntório de desejos e estabelecimentos de metas para a pólis, o que comporiam, na nossa opinião, uma educação política, um educar na e para a cidade. 

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